Londres deixa de pagar subsídio de renda a imigrantes europeus desempregados

Depois dos limites aos apoios a quem procura emprego, Governo britânico anuncia nova medida para desincentivar cidadãos dos países mais pobres da UE a emigrar para o país.

Foto
O primeiro-ministro britânico queria ue a UE aceitasse impor limites à liberdade de circulação de cidadãos de futuros Estados-membros Stoyan Nenov/REUTERS

O anúncio foi feito de novo através dos jornais, num texto publicado no Daily Mail pelos ministros do Interior, Theresa May, e dos Assuntos Sociais, Ian Duncan Smith. “Queremos garantir que os imigrantes não obtêm benefícios indevidos do nosso sistema, esperando ter direito a subsídios mal chegam”, escrevem, num artigo intitulado A vergonhosa traição, em que acusam o anterior Governo trabalhista de ter incentivado a vinda de estrangeiros em detrimento da contratação de britânicos.

Em Novembro, com o debate sobre o fim das restrições na UE aos trabalhadores da Roménia e Bulgária a assumir contornos de histeria, Cameron anunciou que os cidadãos comunitários só poderiam aceder às prestações sociais três meses depois de provarem que residiam no Reino Unido e que não poderiam receber o subsídio atribuído a quem procura emprego por mais de seis meses, a menos que tivessem “perspectivas genuínas” de o conseguir. Quem for apanhado a dormir na rua ou a mendigar será repatriado e não poderá regressar ao país durante um ano.

As primeiras medidas entraram em vigor em Janeiro e agora May e Duncan Smith revelam que “a partir de Abril todo este grupo [cidadãos comunitários sem emprego] deixará de ter direito ao subsídio de renda”, atribuído a quem está desempregado ou aufere rendimentos baixos, e que equivale a parte ou à totalidade do aluguer. O jornal Guardian sublinha que a nova regra não se aplica aos cidadãos britânicos nem da vizinha Irlanda.

Mais do que a medida em causa, em linha com as adoptadas por outros países do Norte da Europa, é o tom da retórica que salta à vista, um discurso que se aproxima cada vez mais do usado pelos populistas do Partido da Independência (UKIP), principal ameaça aos conservadores nas eleições que se avizinham. Com estas iniciativas, escreveram os ministros, o Governo “mostra que eles [os imigrantes] têm de contribuir com alguma coisa para a economia” e que as leis beneficiam “os que trabalham e jogam segundo as regras”.

Um tom que indigna parceiros e a Comissão Europeia, que acusa Londres de distorcer a realidade. Um estudo recente do University College de Londres mostrou que os europeus a residir no país recorrem 33% menos às prestações sociais do que os britânicos; em Outubro um relatório da Comissão concluiu que os cidadãos comunitários são contribuintes líquidos dos sistemas de segurança social dos países de acolhimento.

Mas perante a subida nas sondagens do UKIP (um estudo publicado domingo concluiu que o partido de Nigel Farage é o mais popular entre as formações britânicas) a deriva promete continuar. Na semana passada, Duncan Smith, membro da ala mais à direita dos tories, admitiu que os cidadãos comunitários deveriam trabalhar “um, talvez dois anos no Reino Unido” antes de poderem aceder às prestações sociais. Farage defende uma moratória de cinco anos.

Cameron queria ir ainda mais longe, que a UE aceitasse impor limites à liberdade de circulação de futuros Estados-membros – só depois de atingirem um determinado PIB per capita seriam levantadas as restrições, propôs. Parece, no entanto, ter ficado a falar sozinho, escreveu o Financial Times, que citava, entre outros, o chefe da diplomacia alemã. Frank-Walter Steinmeier disse que “a Alemanha beneficiou tremendamente” com a liberdade que leva milhares de jovens dos países do Sul da Europa a ir trabalhar para o país e “quem questiona [essa liberdade] prejudica a Europa e prejudica a Alemanha”.  
 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O anúncio foi feito de novo através dos jornais, num texto publicado no Daily Mail pelos ministros do Interior, Theresa May, e dos Assuntos Sociais, Ian Duncan Smith. “Queremos garantir que os imigrantes não obtêm benefícios indevidos do nosso sistema, esperando ter direito a subsídios mal chegam”, escrevem, num artigo intitulado A vergonhosa traição, em que acusam o anterior Governo trabalhista de ter incentivado a vinda de estrangeiros em detrimento da contratação de britânicos.

Em Novembro, com o debate sobre o fim das restrições na UE aos trabalhadores da Roménia e Bulgária a assumir contornos de histeria, Cameron anunciou que os cidadãos comunitários só poderiam aceder às prestações sociais três meses depois de provarem que residiam no Reino Unido e que não poderiam receber o subsídio atribuído a quem procura emprego por mais de seis meses, a menos que tivessem “perspectivas genuínas” de o conseguir. Quem for apanhado a dormir na rua ou a mendigar será repatriado e não poderá regressar ao país durante um ano.

As primeiras medidas entraram em vigor em Janeiro e agora May e Duncan Smith revelam que “a partir de Abril todo este grupo [cidadãos comunitários sem emprego] deixará de ter direito ao subsídio de renda”, atribuído a quem está desempregado ou aufere rendimentos baixos, e que equivale a parte ou à totalidade do aluguer. O jornal Guardian sublinha que a nova regra não se aplica aos cidadãos britânicos nem da vizinha Irlanda.

Mais do que a medida em causa, em linha com as adoptadas por outros países do Norte da Europa, é o tom da retórica que salta à vista, um discurso que se aproxima cada vez mais do usado pelos populistas do Partido da Independência (UKIP), principal ameaça aos conservadores nas eleições que se avizinham. Com estas iniciativas, escreveram os ministros, o Governo “mostra que eles [os imigrantes] têm de contribuir com alguma coisa para a economia” e que as leis beneficiam “os que trabalham e jogam segundo as regras”.

Um tom que indigna parceiros e a Comissão Europeia, que acusa Londres de distorcer a realidade. Um estudo recente do University College de Londres mostrou que os europeus a residir no país recorrem 33% menos às prestações sociais do que os britânicos; em Outubro um relatório da Comissão concluiu que os cidadãos comunitários são contribuintes líquidos dos sistemas de segurança social dos países de acolhimento.

Mas perante a subida nas sondagens do UKIP (um estudo publicado domingo concluiu que o partido de Nigel Farage é o mais popular entre as formações britânicas) a deriva promete continuar. Na semana passada, Duncan Smith, membro da ala mais à direita dos tories, admitiu que os cidadãos comunitários deveriam trabalhar “um, talvez dois anos no Reino Unido” antes de poderem aceder às prestações sociais. Farage defende uma moratória de cinco anos.

Cameron queria ir ainda mais longe, que a UE aceitasse impor limites à liberdade de circulação de futuros Estados-membros – só depois de atingirem um determinado PIB per capita seriam levantadas as restrições, propôs. Parece, no entanto, ter ficado a falar sozinho, escreveu o Financial Times, que citava, entre outros, o chefe da diplomacia alemã. Frank-Walter Steinmeier disse que “a Alemanha beneficiou tremendamente” com a liberdade que leva milhares de jovens dos países do Sul da Europa a ir trabalhar para o país e “quem questiona [essa liberdade] prejudica a Europa e prejudica a Alemanha”.