PS pondera Jorge Sampaio e limitação de mandatos para as europeias

Socialistas preparam eleições pensando em nome mais forte que Assis. Renovação dos candidatos a eurodeputados em cima da mesa.

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Sampaio e Alegre são nomes fortes, mas não estão disponíveis Sérgio Azenha

 Até para evitar contestação interna. E também para esvaziar a frente de esquerda, protagonizada por uma eventual candidatura às eleições para o Parlamento Europeu (PE) de Carvalho da Silva, pelo Movimento 3D, a par de uma provável candidatura com contornos mais populares protagonizada por Marinho Pinto pelo Movimento Partido da Terra. A solução é encontrar um nome mais abrangente do que o de Francisco Assis.

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 Até para evitar contestação interna. E também para esvaziar a frente de esquerda, protagonizada por uma eventual candidatura às eleições para o Parlamento Europeu (PE) de Carvalho da Silva, pelo Movimento 3D, a par de uma provável candidatura com contornos mais populares protagonizada por Marinho Pinto pelo Movimento Partido da Terra. A solução é encontrar um nome mais abrangente do que o de Francisco Assis.

Um dirigente nacional disse ao PÚBLICO que a ala mais à esquerda do partido teme que um discurso mais ao centro como o de Francisco Assis seja prejudicial e por isso reclama uma viragem à esquerda no discurso para as europeias. “Há uma convergência política à esquerda do PS para que ocorra uma candidatura forte e uma mais popular de Marinho Pinto e ambas roubam votos, quer à esquerda quer ao centro”, acrescenta a mesma fonte, numa alusão ao Movimento unitário 3D, que integra o BE, o LIVRE (partido em formação), e personalidades independentes, entre elas ex-dirigentes do PCP.

O ex-líder da bancada parlamentar do PS, Francisco Assis, tem sido apontado para encabeçar a lista socialista ao PE, mas a direcção de António José Seguro parece temer que o nome do deputado, que tem um discurso conotado com a ala mais à direita do partido, não seja suficientemente forte para uma vitória nas europeias, capaz de capitalizar o descontentamento generalizado.

Assis, que já disputou as eleições para a liderança do partido com António José Seguro, afirma, em declarações ao PÚBLICO, que formalmente nunca foi convidado para liderar a lista e que, se esse convite vier a acontecer, terá de fazer uma reflexão.

“Não fui convidado e se fosse teria de avaliar a questão. Há certas coisas que só pensamos sobre elas se formos confrontados com um convite e isso não aconteceu”, reafirma o deputado, declarando que a sua “aproximação” ao secretário-geral do partido fez com que o seu nome fosse “lançado de uma forma precipitada”.

Embora não concordando que um discurso mais à esquerda possa trazer mais votos ao partido, Assis, que já liderou a lista do PS às eleições europeias, não ignora que no partido há pessoas com um perfil mais à esquerda do que o seu e lança um nome incontornável: “Jorge Sampaio”, conotado com a ala mais à esquerda. “Jorge Sampaio é um bom nome”, declara.

O antigo Presidente da República tem sido apontado por alguns sectores do partido como “uma boa solução” para estas eleições, que são também um teste à liderança de Seguro. De resto, não é a primeira vez que um antigo Presidente da República (da área do PS) foi candidato ao Parlamento Europeu. Cá, aconteceu com Mário Soares, em França, com Giscard D´Estaing.

Em 1999, três anos depois de ter deixado a Presidência da República, Soares foi eleito deputado ao Parlamento Europeu. E chegou a disputar a presidência do PE, cargo que perdeu para Nicole Fontaine.

O PÚBLICO contactou o gabinete do ex-Presidente da República, primeiro por telefone e depois por e-mail no sentido de perceber se houve algum contacto por parte da direcção de Seguro. Ausente em Cabo Verde, Jorge Sampaio fez saber que “não foi sondado, que não equacionou esse cenário e que não tem actualmente qualquer disponibilidade para exercer tais funções”.

Mas a verdade é que a direcção já tem uma lista de nomes que considera mais apelativos em termos eleitorais. A primeira escolha para cabeça de lista é Sampaio. Mas há mais nomes em ponderação. A saber, o ex-comissário europeu António Vitorino, a presidente do PS, Maria de Belém, e o ex-candidato a Belém, Manuel Alegre. Este último disse ao PÚBLICO que “ninguém da direcção” o havia contactado. E adiantou que não estava disponível. “Nunca quis ser candidato”, assegurou. Não está também descartada a possibilidade do ex-reitor Sampaio da Nóvoa ser sondado.

A renovação não se limita ao cabeça de lista. A vitória nas europeias – entende a liderança socialista – tem de ser alicerçada em toda uma lista ganhadora. O que implica renovar uma grande parte dos nomes. Ao que o PÚBLICO apurou, o PS vai invocar o princípio da limitação de mandatos para renovar a lista. Saindo quem tem já mais de dois mandatos – 10 anos – de Bruxelas. Nesta situação estão os eurodeputados socialistas Capoulas Santos, Ana Gomes, Edite Estrela e Elisa Ferreira.

Contactada pelo PÚBLICO, a direcção do PS, que prepara em segredo a sua estratégia às europeias, não quis fazer nenhum comentário sobre o tema, limitando-se apenas a dizer pela voz de uma assessora que “tudo o que for dito não passa de especulação”.

Perante um “quadro complexo” que se avizinha para o partido de Seguro, Assis diz que o “PS tem de definir o caminho que quer seguir”, ao mesmo tempo que vai dizendo que não tem certezas sobre o êxito de um discurso mais à esquerda. Porque – entende – “o que traz mais votos é uma posição clara sobre a Europa”. Assis censura eventuais “tacticismos” e deixa clara a sua posição: “Se o PS entender que deve ter um discurso mais à esquerda do que o meu, então as pessoas que vierem a fazer parte da lista têm de ter esse discurso…”

O líder da concelhia socialista do PS-Porto e ex-deputado, Manuel Pizarro, sai em defesa do seu ex-colega de bancada e declara que “este é o momento para o PS afirmar um discurso para o conjunto da sociedade portuguesa, apesar do risco real de haver um enorme voto de protesto nos partidos e nos movimento à esquerda do PS”.

Segundo Pizarro, o partido deve aproveitar as “eleições europeias para reforçar a sua especificidade na esquerda portuguesa. Nós somos um partido de esquerda, mas percebemos que, nas circunstâncias da globalização, as soluções para o desenvolvimento e para uma maior igualdade têm de ser encontradas na afirmação do projecto europeu. Dito de outra forma, somos a esquerda que quer mais e melhor Europa, ao contrário de uma esquerda que imagina de forma atávica que o regresso à pré-integração europeia era a panaceia para todos os males”.