Morreu o soldado que ficou a lutar na selva por Hirohito até 1974
Hiroo Onoda só entregou as armas quase trinta anos depois do fim da II Guerra Mundial. Era o último dos "loucos do Imperador”.
Durante quase 30 anos depois da capitulação do império nipónico, este oficial dos serviços secretos especializado em técnicas de guerrilha viveu escondido na ilha filipina de Lubang, perto de Luzon. No coração da selva continuou a lutar contra um inimigo que já não estava lá, contra os insectos, contra o paludismo, tudo isto pelo Imperador, dando provas de um incrível espírito de sacrifício nipónico e de uma obediência total, que faz lembrar o bushido, o código de honra dos samurais.
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Durante quase 30 anos depois da capitulação do império nipónico, este oficial dos serviços secretos especializado em técnicas de guerrilha viveu escondido na ilha filipina de Lubang, perto de Luzon. No coração da selva continuou a lutar contra um inimigo que já não estava lá, contra os insectos, contra o paludismo, tudo isto pelo Imperador, dando provas de um incrível espírito de sacrifício nipónico e de uma obediência total, que faz lembrar o bushido, o código de honra dos samurais.
Onoda tinha sido enviado para as Filipinas em 1944 com uma ordem formal: nunca se render e manter-se firme até à chegada de reforços. Juntamente com mais três soldados, obedeceu a estas instruções durante os anos que se seguiram ao fim do conflito, ignorando que os combates tinham terminado.
A existência destes quatro homens só foi conhecida em 1950, quando um deles decidiu sair da floresta e regressar ao Japão. Foi então possível largar por avião mensagens a Onoda e aos outros dois homens que a guerra tinha terminado há muito tempo e que Exército imperial tinha sido derrotado. Mas Onoda nunca acreditou que isso fosse verdade e continuou com os seus dois companheiros a vigiar instalações militares e, em certas ocasiões, a atacar soldados filipinos.
Para ele, a guerra não tinha terminado, o Império não podia ter sido derrotado! E quando, em plena guerra do Vietname, os B-52 americanos sobrevoavam a “sua” selva, essa era a melhor prova para ele de que os combates continuavam.
Depois da morte de um dos seus companheiros, autoridades de Tóquio e de Manila continuaram à procura dos dois homens que permaneciam na selva há dez anos. Finalmente as buscas foram dadas como terminadas em 1959, já que as autoridades dos dois países se convenceram de que os dois soldados estavam mortos. Mas, em 1972, reaparecem para atacar tropas filipinas. Onoda consegue fugir, mas o seu último companheiro é morto.
Um país diferente
Tóquio, capital do Japão democratizado e em pleno desenvolvimento económico, decide então enviar membros da sua própria família para o tentarem convencer a pôr fim aos combates, mas em vão. Finalmente, foi preciso o seu ex-comandante embrenhar-se na selva em 1974 para lhe ordenar que depusesse as armas e se rendesse.
Hiroo Onoda era o último de dezenas de soldados japoneses que, nos quatro cantos da Ásia, recusando acreditar na derrota, decidiram continuar a lutar em nome do imperador Hirohito, muito depois da capitulação anunciada por este último no dia 15 de Agosto de 1945. Ficaram conhecidos como “os loucos do Imperador”.
No seu regresso ao Japão em 1974, Hiroo Onoda explicou que durante os 30 anos que tinha passado no coração da selva filipina, só tinha uma única coisa em mente: “Executar as ordens”. Mas o Japão que Onoda encontrou já não era o país que ele conhecia: triunfante, conquistador, imperial. O Império tinha sido vencido, é certo, mas o país reconstruía-se a ritmo acelerado. E, acima de tudo, o Japão era agora um país pacifista, com uma Constituição made in USA em vigor desde 1947.
Depois de um período passado numa fazenda no Brasil, Onoda regressa ao Japão. Em 1984, inaugura um campo de juventude onde ensina técnicas de sobrevivência, como aquelas que o ajudaram a manter-se vivo durante 30 anos no inferno da selva.