Governo sírio propõe cessar-fogo em Alepo nas vésperas da conferência de paz

No terreno suspeita-se da boa vontade de Damasco. Oposição ainda não decidiu se vai a Genebra II.

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Walid al-Moualeme Serguei Lavrov em Moscovo AFP

“Espero que este plano tenha sucesso, se todas as partes cumprirem com as suas obrigações”, disse Moualem,citado pela AFP em Moscovo, onde se reuniu com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.

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“Espero que este plano tenha sucesso, se todas as partes cumprirem com as suas obrigações”, disse Moualem,citado pela AFP em Moscovo, onde se reuniu com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.

Sabe-se pouco deste plano, mas o jornal americano The New York Times falava num cessar-fogo acompanhado de entrega de alimentos em troca da entrega das armas pesadas na posse dos rebeldes e do hastear da bandeira síria nos edifícios governamentais de Alepo, devidamente filmadas pelos media estatais.

O jornal citava rebeldes e residentes em Alepo dizendo que há muita desconfiança sobre este plano, pois vêem nele um padrão usado pelo regime de Damasco: usar um cessar-fogo para encobrir uma operação futura, que dê ao exército de Assad uma vitória que não conseguiria de outra forma.

Lavrov tem sido um dos eixos das movimentações diplomáticas que visam criar um clima de confiança entre as duas principais partes nesta guerra civil — oposição e Governo —, que leve a um processo de pacificação e à entrada e circulação segura de ajuda humanitária na Síria. A primeira ronda de negociações decorreu em Genebra e a segunda, Genebra II, será na cidade suíça de Montreaux.

“Gostariamos que [este plano] servisse de exemplo para outras cidades”, disse o ministro sírio sobre o projecto de cessar-fogo para Alepo, uma cidade que já foi o grande centro económico da Síria e é agora o centro dos combates mais violentos.

Na quinta-feira, Lavrov reuniu em Moscovo os ministros dos Negócios Estrangeiros sírio e iraniano, Mohamad Yavad Zarif — a Rússia mantém que a participação do Irão nas negociações é vital. O russo sublinhou que, apesar deste encontro, “não há um projecto tripartido para a Síria”. “Não há aqui uma agenda escondida”, disse.

Teerão quer participar na conferência promovida pela Rússia e pelos Estados Unidos, mas não recebeu ainda o convite oficial do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. “Se nos convidarem, participaremos; se não, não iremos”, disse Zarif. A Arábia Saudita já recebeu esse convite.

“Ninguém se deixará enganar”
Parte considerada essencial nesta conferência é a oposição, que não tomou ainda uma decisão sobre a sua ida a Montreaux no dia 22. Em Istambul, na Turquia, a Coligação da oposição síria no exílio iniciou esta sexta-feira uma derradeira reunião para decidir se participa ou não na conferência da ONU. O encontro à porta fechada prometia arrastar-se noite dentro.

"Tomar uma decisão sobre a nossa participação não é fácil" avisou Munzer Aqbiq, conselheiro do presidente da Coligação Ahmad Jarba. "O direito, a justiça, o bem e o mal estão perfeitamente identificados no dossier sírio, por isso para nós fazer compromissos será muito doloroso".

A estes, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, garantiu que o mundo não se deixará “enganar” pelo regime sírio e voltou a insistir que o objectivo da conferência da ONU é iniciar uma transição política no país.

“Ninguém se deixará enganar”, disse Kerry em Washington, confrontado pelos jornalista a propósito de uma carta da diplomacia de Damasco enviada à ONU, em que o regime de Assad avisava que, no seu entender, o objectivo da conferência na Suíça era lutar contra “o terrorismo” e não falar de “transição política”

Kerry acusou o regime sírio de “revisionismo” ao tentar desviar-se do objectivo traçado pela comunidade internacional. Damasco pode “protestar e deformar as coisas, mas o essencial é que vamos para Genebra II para aplicar Genebra I [avançar com a transição política na Síria] e se Assad não fizer isso, ele abre a porta a uma resposta mais forte”, disse o secretário de Estado, repetindo que Washington dispõe de várias “opções” em relação ao conflito sírio.