Estudante de escola de Braga que morreu tinha outros problemas além do alegado bullying
Jovem tinha problemas familiares e esteve sinalizado pela protecção de menores. GNR afasta ligação entre morte e violência escolar. Inspecção-Geral de Educação vai, no entanto, investigar o caso.
O adolescente foi sinalizado pela CPCJ de Braga em Março de 2012 e esteve a ser acompanhado pelos técnicos da instituição nos meses seguintes. O processo “nunca teve nada a ver com bullying”, declara ao PÚBLICO a presidente daquele órgão, Amélia Pereira. Os problemas em causa estavam relacionados com as dificuldades financeiras da família e as condições difíceis em que o rapaz vivia. O caso acabou por ser arquivado em Setembro desse ano, numa altura em que se “verificaram várias melhorias e a situação de perigo já não se colocava”, refere a mesma responsável. Desde então, “houve um esforço da parte da família, que acabou por se reorganizar”.
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O adolescente foi sinalizado pela CPCJ de Braga em Março de 2012 e esteve a ser acompanhado pelos técnicos da instituição nos meses seguintes. O processo “nunca teve nada a ver com bullying”, declara ao PÚBLICO a presidente daquele órgão, Amélia Pereira. Os problemas em causa estavam relacionados com as dificuldades financeiras da família e as condições difíceis em que o rapaz vivia. O caso acabou por ser arquivado em Setembro desse ano, numa altura em que se “verificaram várias melhorias e a situação de perigo já não se colocava”, refere a mesma responsável. Desde então, “houve um esforço da parte da família, que acabou por se reorganizar”.
O caso deste jovem não voltou a ser sinalizado pela escola ou por qualquer outra entidade. No entanto, depois da sua morte, no fim-de-semana, aquele organismo já iniciou o processo de avaliação da situação dos irmãos do adolescente.
Depois de arquivado o processo na CPCJ, o estudante de 15 anos continuou a ser acompanhado por uma psicóloga na EB 2-3 de Palmeira, onde frequentava o 9.º ano. Aos problemas familiares, juntava o mau comportamento na escola e as dificuldades de aprendizagem. Mesmo acompanhado, “nunca terá conseguido ultrapassar” o peso das dificuldades em que vivia. É nesse sentido que apontam as diligências feitas pela GNR nos últimos dias.
O jovem “vivia numa família muito pobre”, explica o comandante do destacamento da GNR de Braga, Adelino Silva. Apesar de viver próximo dos pais, vivia na casa de um tio, “num quarto muito pequeno e em condições precárias”. Na noite de sábado, a GNR foi chamada a Adaúfe, uma freguesia rural no extremo Norte do concelho de Braga onde o adolescente vivia, tendo encontrado o corpo já sem vida, num terreno próximo das casas da família. No local, “não havia indícios de crime”, pelo que o caso não está a ser investigado por nenhuma força policial. Os dados apurados foram remetidos ao Ministério Público de Braga, que já nesta quarta-feira confirmou a abertura de um inquérito.
Para além das dificuldades familiares, a GNR fala num “pico emocional” associado a uma relação amorosa com uma amiga. Foi a ela que o jovem escreveu a última carta, contando as dificuldades por que passava, entre desabafos sobre a turbulência da relação entre ambos. As cartas – uma outra era dirigida à família – “não referem qualquer situação de bullying”, afirma o comandante da GNR, Adelino Silva.
À porta da escola de Palmeira, reúne-se um grupo de colegas de turma do estudante. Estão quase todas vestidas de preto, com uma fita branca sobre o braço direito, em sinal de luto. Descrevem um rapaz “alegre”, “sempre com um sorriso na cara” e que “entrava em brincadeiras”. “Não era um dos meus melhores amigos, mas falava para ele”, diz uma das alunas do 9.º ano da EB 2-3. Receberam, por isso, a notícia da morte com “choque”.
As estudantes também não confirmam a existência de nenhum caso recente em que o colega tenha sido vítima. No entanto, falam de uma relação difícil entre o adolescente e outros colegas da turma, que o tornavam um alvo fácil. “Ele nunca se protegia dos outros e acabavam por se meter com ele”, diz uma aluna.
O director do agrupamento Sá de Miranda, ao qual pertence a escola EB 2-3 de Palmeira, não quis prestar declarações ao PÚBLICO, mas à TSF garantiu não ter tido conhecimento de qualquer situação de violência vivida pelo adolescente na escola. No entanto, está a ser investigado um incidente verificado a semana passada dentro da escola e que envolveu este rapaz.
Na sequência da mediatização da morte deste adolescente bracarense, o ministro Nuno Crato anunciou a abertura de um inquérito da Inspecção-Geral de Educação e Ciência ao caso, investigando as denúncias de bullying de que o estudante seria alvo. O governante classificou o fenómeno da violência escolar como “intolerável”. “Temos de o atacar desde o princípio. É uma falta de respeito pelos colegas, pela comunidade escolar e, como tal, não o podemos tolerar”, afirmou.
Notícia actualizada às 17h55 de 15/01/2014 Acrescenta informação de que Ministério Público abriu inquérito.