Experiência pioneira na Suécia permite transplante de útero a nove mulheres

Úteros foram doados por familiares das pacientes. As mulheres vão agora tentar engravidar.

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Depois de duas gravidezes bem sucedidas, os úteros serão removidos para que possa ser interrompida a medicação anti-rejeição Fernando Veludo/NFactos

Algumas destas mulheres nasceram sem útero – sofrem de síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKH), uma anomalia congénita que afecta uma em cada 4500 mulheres –, outras tiveram de remover o útero devido ao cancro do colo do útero. A maioria tem cerca de 30 anos. O objectivo, após estas operações que os médicos classificam como pioneiras, é que as pacientes possam dar à luz os próprios filhos.

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Algumas destas mulheres nasceram sem útero – sofrem de síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKH), uma anomalia congénita que afecta uma em cada 4500 mulheres –, outras tiveram de remover o útero devido ao cancro do colo do útero. A maioria tem cerca de 30 anos. O objectivo, após estas operações que os médicos classificam como pioneiras, é que as pacientes possam dar à luz os próprios filhos.

Outra opção para estas mulheres seria o recurso à maternidade de substituição – conhecida como “barriga de aluguer” – mas esta prática é proibida na Suécia, tal como em Portugal e na maioria dos países europeus.

Apoiados nos casos de sucesso de transplantes de outros órgãos, como corações ou fígados, que permitem salvar vidas, os médicos têm tentado aplicar a mesma técnica para proporcionar a maternidade às mulheres impossibilitadas de engravidar. Antes desta experiência houve outras, que falharam.

Na Turquia, uma mulher de 22 anos recebeu em Agosto de 2011 um útero de uma dadora morta há dois anos e conseguiu engravidar passados cerca de oito meses. No entanto, após oito semanas de gestação os médicos interromperam a gravidez porque a ecografia não mostrava os batimentos cardíacos do embrião. A primeira tentativa de transplante, realizada em 2000 na Arábia Saudita, com uma dadora viva, fracassou passados três meses – o útero teve de ser removido, devido à formação de um coágulo sanguíneo.

Agora, os médicos tentam outras fórmulas para o sucesso. “Este é um novo tipo de cirurgia”, disse à AP um dos especialistas, Mats Brannstrom, director do departamento de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Gotemburgo, que está a liderar a experiência. “Não temos nenhum livro para ler”, acrescentou.

Segundo o médico, as pacientes estão bem de saúde e algumas até já tiveram menstruação, seis semanas após o transplante, um sinal de que os úteros estão saudáveis e a funcionar correctamente. Uma das nove mulheres contraiu uma infecção no útero e teve pequenos episódios de rejeição, mas nada de preocupante, segundo Brannstrom. Já saíram todas do hospital.

Segundo a AP, a identidade das mulheres envolvidas na experiência não foi revelada. Os transplantes começaram em Setembro de 2012 e as doadoras são familiares das pacientes – mães, nalguns casos. Inicialmente estavam previstos dez transplantes, mas uma mulher não pôde avançar para a operação por razões médicas, de acordo com o porta-voz da universidade, Krister Svahn.

Fertilização será in vitro
Nos transplantes, os médicos não ligaram os úteros às trompas de Falópio das receptoras, pelo que estas não conseguirão engravidar naturalmente. Mas todas elas têm ovários funcionais. Antes das operações, foram-lhes retirados alguns óvulos para fertilização in vitro. Os embriões foram congelados e os médicos pretendem, dentro de alguns meses, implantá-los nos úteros, permitindo a evolução da gestação de forma natural.

Para evitar que o corpo rejeite o novo órgão, as mulheres terão de tomar fármacos que enfraquecem o sistema imunitário. Depois de, no máximo, duas gravidezes bem sucedidas, os úteros serão removidos e a medicação – que pode provocar subida da tensão arterial, inchaço ou diabetes e aumentar o risco de alguns tipos de cancro – será interrompida.

Em Fevereiro, Mats Brannstrom e a sua equipa vão fazer o primeiro workshop sobre o tema e pretendem publicar um artigo científico sobre a experiência que realizaram. Mas esta levantou já algumas preocupações éticas – alguns especialistas mostraram reservas sobre o facto de estarem a ser usados doadores vivos num procedimento experimental que não tem como objectivo salvar vidas.

Na Grã-Bretanha, por exemplo, estão em curso experiências que visam efectuar transplantes de úteros em pacientes nas mesmas condições, mas com doadoras mortas ou em vias de morrer. Brannstrom justifica a opção por doadoras vivas com o facto de só assim ser possível garantir que os úteros estavam funcionais e não tinham qualquer problema, como infecções vírus do papiloma humano (HPV).

Antes de testar o método em mulheres, os especialistas da Universidade de Gotemburgo testaram-no em animais, nomeadamente ratos, ovelhas e macacos. No caso dos primatas, a reprodução não se concretizou. Brannstrom admite que os transplantes em humanos podem não resultar em gravidezes bem sucedidas mas está optimista. “Isto é uma investigação”, afirmou. “Pode permitir [às mulheres] ter filhos, mas não há garantias… o que é certo é que elas estão a dar uma contribuição para a ciência.”