Coletes antibala e capacetes da PSP podem começar a ser produzidos em Portugal

Parceria com a Universidade do Minho vai permitir desenvolver novos equipamentos à base de fibras em parceria com empresas nacionais. Inovações vão ser testadas pela Unidade Especial de Polícia.

Foto
Os equipamentos que a PSP usa actualmente são, além de caros, muito pesados, retirando alguma mobilidade aos agentes Fernando Veludo/NFactos

Seja em manifestações, jogos de futebol ou grandes eventos, a imagem de agentes da Unidade Especial de Polícia (UEP) equipados com roupa especial, capacete e colete à prova de bala não é estranha para a maioria das pessoas. No que não se pensa à primeira vista é que aquele material especializado é comprado quase exclusivamente fora do país. Mas esse é um cenário prestes a mudar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Seja em manifestações, jogos de futebol ou grandes eventos, a imagem de agentes da Unidade Especial de Polícia (UEP) equipados com roupa especial, capacete e colete à prova de bala não é estranha para a maioria das pessoas. No que não se pensa à primeira vista é que aquele material especializado é comprado quase exclusivamente fora do país. Mas esse é um cenário prestes a mudar.

Entre as possibilidades que estão a ser estudadas pelo Fibrenamics, um grupo de investigação dedicado à investigação relacionada com fibras naturais e sintéticas, estão a criação de coletes à prova de bala mais leves, sistemas anti-corte ou anti-rasgo para os fatos tácticos, bem como o desenvolvimento de capacetes especiais mais leves ou mais resistentes. Os investigadores da UM e a PSP assinaram, no final do ano, um protocolo onde manifestam a intenção das duas partes de trabalhar neste domínio. “Pretendemos trabalhar com este grupo tudo o que tenha a ver com a utilização de fibras”, resume Raúl Fangueiro, professor responsável pelo projecto.

Os equipamentos habitualmente usados pela UEP conferem maior protecção aos agentes, mas são também responsáveis por um acréscimo de peso, “na ordem das dezenas de quilos, a juntar a outro equipamento e armamento, retirando assim alguma mobilidade”, explica fonte da direcção nacional da PSP. Com o desenvolvimento destes novos materiais à base de fibras, será possível diminuir a carga transportada e a rigidez habitual destes produtos, sem que haja um decréscimo da protecção dos polícias.

A parceria começou a desenhar-se em Outubro de 2012, quando a PSP foi convidada a participar numa das oficinas organizadas pelo projecto Fibrenamics sobre o tema da protecção pessoal. A segunda fase do acordo é passar estas ideias a projectos específicos, com calendarizações e planos de ensaios. A expectativa dos investigadores da UM é que dentro de um e meio a dois anos haja já produtos prontos a ser usados pela PSP e comercializados para fora do país.

Na parceria serão também evolvidas empresas portuguesas, que já são habitualmente parcerias do Fibrenamics. “A ideia será criar consórcios para cada um desses desenvolvimentos”, destaca Raúl Fangueiro, destacando a Prowork, de Braga, e a Damel, da Póvoa de Varzim, como duas das empresas parceiras. São elas quem depois poderá fornecer a PSP e poderá fornecer forças de segurança de outros países, abrindo portas à criação de um cluster de protecção pessoal no Norte do país.

“Muito do equipamento que a PSP adquire vem do estrangeiro, mas existe potencial português para os produzirmos cá”, afirma o investigador. A direcção da PSP sublinha a possibilidade de diminuição os custos na aquisição deste tipo de dispositivos, que assim podem vir a ser “massificados”, sem sacrificar a qualidade num mercado “normalmente caro”. O último Orçamento de Estado, a rubrica da dotação do Ministério da Administração Interna destinava 180 mil euros para “Material e fardamento”.

A UEP terá a função de identificar necessidades, ao passo que a universidade contribui com o conhecimento para resolver esses problemas. Uma das mais-valias de todo o processo é que cada novo material de protecção será testado pelos agentes da PSP em situações reais. “A validação por uma unidade especial de polícia será importante para o fazer chegar ao mercado”, considera Raúl Fangueiro.

A UM também assinou recentemente uma parceria semelhante com a Força Aérea. Neste caso, os projectos de investigação não se vão centrar nos equipamentos de protecção pessoal, mas em materiais compósitos que são utilizados nas aeronaves, que possam ser mais leves e resistentes. Fruto desse acordo, um dos professores da academia da força área vai fazer doutoramento na universidade. A expectativa dos investigadores é que dentro de um ano sejam também visíveis os primeiros resultados deste acordo.

Das roupas especiais ao cérebro em fibras
Não é só no domínio da defesa e segurança que o Fibrenamics vem desenvolvendo soluções inovadoras. A iniciativa, nascida na Universidade do Minho (UM) como projecto de divulgação científica do mundo das fibras, transformou-se numa plataforma de investigação com ramificações internacionais. Os primeiros produtos aqui desenvolvidos já chegaram ao mercado e há outras novidades em carteira.

A “mais arrojada” de todas as ideias em desenvolvimento no Minho é a criação de um modelo cerebral à base de fibras. A investigação é uma parceria com o departamento de neurologia da Universidade de Pittsburg, no nordeste dos EUA, e vai permitir identificar e tratar doenças no sistema nervoso central.

“Este é um mundo muito interessante e que nos está sempre a desafiar. As fibras vão encontrando aplicações em áreas completamente impensáveis”, resume Raúl Fangueiro, professor da Escola de Engenharia da UM. É ele o grande impulsionador do Fibrenamics, nascido há cinco anos. A iniciativa rapidamente evoluiu para uma plataforma de contacto entre a universidade, as empresas e outras organizações. “À medida que fomos contactando com os diversos agentes, começámos a notar que havia uma lacuna na sua interligação”, conta.

Das conferências, oficinas e encontros informais organizados, nasceram novos projectos de investigação aplicada, associando a universidade – onde o Fibranamics é hoje um grupo de investigação que envolve 25 pessoas – e vários parceiros, sobretudo empresas da região, em sectores que vão do têxtil ao ramo automóvel, passando pela construção civil.

Algumas das inovações daí surgidas já chegaram ao mercado, casos do ProtecDry, um produto destinado a pessoas com incontinência urinária, que foi desenvolvido e patenteado em parceria com uma empresa tradicional de roupa interior, ou uma toalha capaz de libertar calor até 45ºC, com fins terapêuticos, que está a ser produzida por uma firma que habitualmente opera no sector de têxteis-lar.