Marca de roupa Pablo Escobar? A Colômbia não gostou da ideia do filho do traficante
Filho criou peças de roupa inspiradas no antigo líder do cartel de Medellín acompanhadas de frases para afastar os mais novos do mundo da criminalidade. Mas a ideia foi mal acolhida e na Colômbia não querem registar a marca.
Marroquín é um arquitecto de 36 anos e vive em Buenos Aires, conta o El País. As camisolas, que custam entre 44 e 70 euros, mostram desde o bilhete de identidade do pai, onde se pergunta “como queres ser chamado?”, a uma certidão judicial, onde se diz que Pablo Escobar não tem antecedentes, acompanhada da frase “O que andas a fazer? Pensa bem”. Em todas as peças (também há calças de ganga com uma imagem num bolso e palavras no outro), há sempre associadas frases que fazem o contraponto com a vida do pai: “Os teus privilégios são por acaso fruto dos teus erros?”, diz outra peça.
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Marroquín é um arquitecto de 36 anos e vive em Buenos Aires, conta o El País. As camisolas, que custam entre 44 e 70 euros, mostram desde o bilhete de identidade do pai, onde se pergunta “como queres ser chamado?”, a uma certidão judicial, onde se diz que Pablo Escobar não tem antecedentes, acompanhada da frase “O que andas a fazer? Pensa bem”. Em todas as peças (também há calças de ganga com uma imagem num bolso e palavras no outro), há sempre associadas frases que fazem o contraponto com a vida do pai: “Os teus privilégios são por acaso fruto dos teus erros?”, diz outra peça.
E história da sua marca até poderia passar despercebida se não fosse Juan Pablo Escobar Henao, o filho do antigo líder do cartel de Medellín, morto a 2 de Dezembro de 1993 pela polícia durante um tiroteio. Era com este filho que Pablo Escobar estava ao telefone naquele dia. A chamada demorou demasiado tempo, o que permitiu que a polícia colombiana a interceptasse e localizasse aquele que era um dos homens mais procurados do mundo. Minutos depois, foi morto no telhado de uma vivenda em Medellín.
Da fuga do legado à luta contra o narcotráfico
De início, Juan Pablo optou por se esconder, com uma nova identidade, na Argentina, para fugir do pesado legado de tráfico e assassinato deixado pelo seu pai. Mas nos últimos quatro anos decidiu inverter o rumo da sua vida e tem dedicado uma grande parte do seu tempo a usar o nome do pai – por quem, contudo, não esconde o carinho de filho – para tentar impedir que mais pessoas sigam os seus passos e mostrando que os exemplos errados de um progenitor não devem condicionar a vida da família.
Marroquín voltou à luz do dia em 2009 para participar no documentário Pecados de Mi Padre, no qual pedia perdão aos filhos do ex-candidato presidencial Luis Carlos Galán e do ex-ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, assassinados na sequência de ordens do seu pai. O documentário mereceu prémios na Colômbia e teve um grande impacto no país, já que o realizador argentino Nicolás Entel pôs este filho a falar directamente com filhos de homens que Pablo Escobar mandou matar.
Por isso, Marroquín não entende a decisão das autoridades colombianas de negarem o registo da sua marca e garantiu que vai continuar a lutar pelos meios legais. México, Guatemala, Chile e Bélgica são alguns dos países onde o projecto está a ter sucesso, assim como nos Estados Unidos, particularmente em Los Angeles e Nova Iorque.
“Nunca estive a favor da violência e mesmo quando eu era uma das vítimas dessa violência, porque isto era de parte a parte, era o único que manifestava ao meu pai a oposição a essa maneira de proceder”, defendeu na entrevista ao El País, em que insistiu ser um pacifista.
“Não acreditamos que uma camisola vá fazer os jovens mais ou menos violentos, mas instala o debate com mensagens inequívocas sobre a paz”, acrescentou, reforçando o respeito que tem por todos os que foram vítimas dos esquemas de tráfico de Pablo Escobar. Por esse motivo, apenas quer registar a marca naquele país, para evitar alguns usos indevidos que já encontrou, mas não venderá os produtos na Colômbia.
Porém, aponta o dedo a quem tem lucrado com o nome do seu pai, contanto apenas a história do narcotraficante, nomeadamente em séries, sem nada acrescentar em termos morais. Marroquín refere-se em concreto à série Escobar, o Patrão da Morte, que estreou em 2012 e que foi um sucesso em vários países da América Latina.
“Não me transformei no que me podia ter transformado”
Na Colômbia queria sobretudo doar dinheiro vindo da marca a fundações que têm recusado, pondo em dúvida a sua origem. “Não me transformei no que me podia ter transformado, que era um Escobar 2.0, e com factos pude demonstrar que a minha atitude perante a paz é genuína”. Até porque, para o autor, as camisolas são precisamente uma espécie de “pequena coluna têxtil” nas quais deixa a sua opinião do que aprendeu sobre a guerra na Colômbia contra o mundo da droga.
Com o fornecimento de cocaína aos Estados Unidos, Pablo Escobar fez uma fortuna de milhões e milhões de dólares, mas para que nada se intrometesse nesse caminho ordenou o assassínio de centenas de pessoas. Segundo a revista Forbes, a sua fortuna chegou a atingir os 3000 milhões de dólares. O percurso no mundo do crime terá começado cedo, com o roubo de automóveis. Não que a mãe nunca lhe tivesse dito para se afastar dos delitos, mas porque era a Colômbia e foi fácil a passagem dos carros para a cocaína e da cocaína para o seu império – agora imortalizado em séries e peças de roupa.