Amor 2.0
Então, as redes sociais fazem mal ao amor? Como sou uma eterna romântica, acredito que é mais provável que, na maior parte dos casos, seja o amor a fazer mal às redes sociais, originando pirosices sem conta no Facebook
Num concorrido restaurante do Porto, um casal de namorados está a jantar e ambos olham para a mesa com atenção, alheios a tudo em seu redor. Estarão encantados com as luxuriantes francesinhas que transbordam dos pratos? Observo mais atentamente e descubro que não. Afinal, os objectos de tanta atenção são os respectivos telemóveis. Ambos ligados ao Facebook, deslizam os dedos nos ecrãs. Fazem-no com a mesma dedicação e sorrisos nos rostos com que, antigamente (e sinto-me uma velha a falar), os namorados acariciavam as mãos um do outro. Ironicamente, o toque foi substituído pelos “ecrãs touch”…
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Num concorrido restaurante do Porto, um casal de namorados está a jantar e ambos olham para a mesa com atenção, alheios a tudo em seu redor. Estarão encantados com as luxuriantes francesinhas que transbordam dos pratos? Observo mais atentamente e descubro que não. Afinal, os objectos de tanta atenção são os respectivos telemóveis. Ambos ligados ao Facebook, deslizam os dedos nos ecrãs. Fazem-no com a mesma dedicação e sorrisos nos rostos com que, antigamente (e sinto-me uma velha a falar), os namorados acariciavam as mãos um do outro. Ironicamente, o toque foi substituído pelos “ecrãs touch”…
Neste caso, até estavam os dois (des)sintonizados, cúmplices no momento de socialização virtual. Porém, a maior parte das vezes, observo indivíduos que, mesmo acompanhados, se ligam ao Facebook e se desligam da relação amorosa, da família ou dos amigos que os rodeiam. A cada instante, e nos mais variados locais, é possível encontrar alguém alienado do momento real, mas ligado à rede social.
Esta intromissão do Facebook nos momentos íntimos das relações interpessoais é um bocado complicada de entender, mesmo para uma utilizadora frequente (excessiva, para alguns) das redes sociais, como eu. Não entendo como é que se convida o Facebook para um jantar à luz das velas, um passeio na praia ao pôr-do- sol ou um serão romântico no sofá…
Outro dos problemas do amor na era redes sociais é a urgência que algumas pessoas têm em partilhar e mudar, se for o caso, o estado da relação amorosa: do “casado”, ao “noivo, ao “solteiro”, ao “numa relação com...”, até ao enigmático “complicado” (como se houvesse alguma relação que não fosse complicada). A este nível, considero que o Facebook é o verdadeiro “simplex” do estado civil.
Por falar em casamentos, desde que o Facebook passou, também, a ser convidado para estas cerimónias, além do álbum oficial dos noivos, qualquer enlace origina dezenas de identificações e fotografias. No fundo, é como se os casamentos estivessem cheios de autênticos paparazzis. Fujam dos flashes, se não querem que o mundo vos veja a dançar a Macarena.
E a propósito de fotografias, não posso deixar de dar a minha opinião (polémica, eu sei) sobre os “retratos de casal” na rede social. Concordo que pessoas apaixonadas, estejam elas de mãos dadas ou aos beijos e abraços, originam quase sempre fotografias lindas e dignas de serem partilhadas. No entanto, quando alguém publica constantemente esse tipo de fotografias no Facebook, já me parece exibicionismo ou insegurança. Do mesmo modo, as declarações de amor constantes na rede fazem-me questionar as razões desta estranha necessidade de afirmação dos seus protagonistas.
A excepcionalidade das imagens, das acções e das palavras apaixonadas é que as fazem ter um significado especial. Daí a minha atitude crítica perante a banalização do amor e a necessidade de o gritar, não só a quatro ventos, mas também pelos “feeds” e “hashtags” desta vida. Então, as redes sociais fazem mal ao amor? Como sou uma eterna romântica, acredito que é mais provável que, na maior parte dos casos, seja o amor a fazer mal às redes sociais, originando pirosices sem conta no Facebook.