Controlar terapêutica de doentes VIH/sida poupa 43 mil em internamentos
Doentes em falência terapêutica foram acompanhados durante dois anos e meio por projecto Hospital na Comunidade.
Esta questão vai estar hoje em debate no Hospital de Loures. No encontro sobre os “Desafios para o Acesso e Adesão à Terapêutica Antiretroviral” vão ser apresentados os resultados do projecto Hospital na Comunidade que envolveu perto de duas centenas de pessoas em situação de falência medicamentosa e em início de terapêutica e foi levado a cabo pela Ajpas (Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde) em parceria com o hospital de Amadora-Sintra.
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Esta questão vai estar hoje em debate no Hospital de Loures. No encontro sobre os “Desafios para o Acesso e Adesão à Terapêutica Antiretroviral” vão ser apresentados os resultados do projecto Hospital na Comunidade que envolveu perto de duas centenas de pessoas em situação de falência medicamentosa e em início de terapêutica e foi levado a cabo pela Ajpas (Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde) em parceria com o hospital de Amadora-Sintra.
Foi um projecto fora do comum. Durante dois anos e meio, especialistas do Hospital da Comunidade ajudaram a distribuir fármacos e a controlar a toma da medicação de 99 doentes em situação de falência terapêutica e de 70 novos pacientes do hospital de Amadora-Sintra.
Os resultados foram muito positivos, considera Emília Carreiras, a presidente da Ajpas: 95% dos doentes que apresentavam um historial de falência terapêutica, porque não tomavam ou tomavam mal a medicação, alteraram o seu comportamento. “Em casa de algumas pessoas havia caixas e caixas de medicação [por tomar]”, descreve.
No conjunto dos 70 doentes em início de terapêutica, o sucesso do acompanhamento também foi evidente: no final do projecto, 94% estavam a tomar os fármacos de forma adequada. Este resultado é muito importante, explica a presidente da Ajpas, porque quando uma pessoa infectada não segue a terapêutica “o organismo vai criando resistências e a carga viral dispara” e, quando isso acontece, torna-se necessário passar para um esquema terapêutico mais caro.
Outra vantagem destacada passa pela redução dos internamentos hospitalares, calculada em “menos 75%”.
Contra as expectativas dos responsáveis do projecto, porém, a avaliação custo-benefício supervisionada por Pita Barros concluiu que a poupança com internamentos evitados foi de apenas 43 mil euros, e, com idas à urgência, de uns meros 324 euros. “Este valor não é directamente comparável com o custo total do projecto [cerca de 443 euros euros], uma vez que grande parte dos benefícios a nível da adesão terapêutica e dos custos evitados devido aos efeitos da progressão da doença não foram contabilizados em termos monetários”, refere o estudo.
Nas conclusões sublinha-se, de qualquer forma, que os resultados apresentados “apontam para o sucesso do projecto”. “Encontrou-se evidência de que o acompanhamento recebido” fez “cair drasticamente os níveis de carga viral”, exemplifica.
"A nossa mensagem principal é que não será pelos custos evitáveis [em termos de internamentos e idas à urgência] que este tipo de projecto poderá valer a pena. Agora, pode valer a pena por outro tipo de benefícios", sustenta Pita Barros. “Tudo o que tem a ver com qualidade de vida" não foi contabilizado, exemplifica. “Qual é o valor de um doente se sentir menos discriminado por não ter que ir buscar os medicamentos ao hospital?", pergunta. Há que procurar e ponderar outros benefícios, propõe.