MP sem "elementos objectivos" para agir sobre assinatura da subconcessão dos estaleiros de Viana

Procuradoria-Geral da República mantém "averiguação preventiva" em curso. Contrato que passa estaleiros para as mãos da Martifer é assinado nesta sexta-feira.

Foto
As queixas visam apurar a forma como o processo de subconcessão dos terrenos e equipamentos dos estaleiros ao grupo Martifer foi conduzido Sérgio Azenha

Em causa está uma "averiguação preventiva" em curso no Ministério Público (MP), que surge depois de participações apresentadas em Dezembro pela Câmara de Viana do Castelo e pela eurodeputada socialista Ana Gomes, alegando dúvidas sobre a forma como o processo de subconcessão dos terrenos e equipamentos dos estaleiros, ao grupo Martifer, foi conduzido.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Em causa está uma "averiguação preventiva" em curso no Ministério Público (MP), que surge depois de participações apresentadas em Dezembro pela Câmara de Viana do Castelo e pela eurodeputada socialista Ana Gomes, alegando dúvidas sobre a forma como o processo de subconcessão dos terrenos e equipamentos dos estaleiros, ao grupo Martifer, foi conduzido.

"O Ministério Público encontra-se a avaliar toda a documentação recebida, bem como os diversos elementos entretanto solicitados", disse nesta quinta-feira fonte da PGR, questionada pela agência Lusa.

A assinatura do contrato de subconcessão à Martifer, até 31 de Março de 2031, após vitória daquele grupo português no concurso público internacional que terminou em Setembro último, está agendada para esta sexta-feira.

"Neste momento, o Ministério Público não dispõe de elementos objectivos que lhe permitam requer qualquer tipo de providência nessa jurisdição [administrativa]", admitiu a mesma fonte, a propósito da concretização deste negócio.

"Qualquer eventual questão jurídica relacionada com a assinatura do contrato de subconcessão poderá ser matéria da competência dos Tribunais Administrativos", ressalvou, contudo, a Procuradoria.

No caso da eurodeputada Ana Gomes, a participação à PGR, concretizada a 20 de Dezembro, envolveu uma queixa-crime contra incertos, por causa da subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). A socialista alegou que nesse processo "terá havido violação de normas que, nos termos do Código Penal, punem a corrupção, o tráfico de influência, o abuso de poder, o favorecimento de interesses privados".

Essa participação é composta por 58 pontos, nos quais Ana Gomes expõe as várias matérias que considera que provam que houve violação de normas previstas e punidas no Código Penal.

Antes desta queixa, o ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco, tinha já anunciado a entrega à PGR de toda a documentação relativa ao processo de subconcessão, recordando que o próprio presidente de júri do concurso público deste procedimento é um magistrado do Ministério Público.

A administração dos ENVC assina sexta-feira com o grupo Martifer um contrato de subconcessão de terrenos, infra-estruturas e equipamentos da empresa pública. O grupo privado, que criou para o efeito a empresa West Sea Estaleiros Navais, pagará ao Estado uma renda anual de 415 mil euros.

A nova empresa prevê recrutar 400 dos atuais 609 trabalhadores, que estão a ser convidados a aderir a um plano de rescisões amigáveis que vai custar 30,1 milhões de euros, suportado por recursos públicos, decorrendo em paralelo o encerramento dos estaleiros.

A solução foi definida pelo Governo português para evitar a devolução de 181 milhões de euros de ajudas públicas, prestadas desde 2006, e não declaradas à Comissão Europeia, no âmbito de uma investigação de Bruxelas.