Maioria rejeita inquérito aos Estaleiros de Viana do Castelo
A votação é só na sexta-feira, mas PSD e CDS criticaram fortemente a possibilidade. Mas comissão pode avançar se PCP, ou outro partido da oposição, reunir 46 assinaturas de deputados
O deputado do PSD, Carlos Abreu Amorim, foi categórico na rejeição, durante o debate sobre proposta apresentada pelo PCP. Manifestou disponibilidade para “apurar todos os factos” mas “evitando as redundâncias e a banalização dos procedimentos”. Que se confirmariam no caso de avançar a comissão de inquérito, uma vez que a comissão de Defesa estava já a ouvir todas as entidades envolvidas no processo de sub-concessão.
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O deputado do PSD, Carlos Abreu Amorim, foi categórico na rejeição, durante o debate sobre proposta apresentada pelo PCP. Manifestou disponibilidade para “apurar todos os factos” mas “evitando as redundâncias e a banalização dos procedimentos”. Que se confirmariam no caso de avançar a comissão de inquérito, uma vez que a comissão de Defesa estava já a ouvir todas as entidades envolvidas no processo de sub-concessão.
“Esta maioria não vai voltar atrás, não vai voltar a cometer os mesmos erros do passado”, assegurou Amorim. O centrista Abel Baptista seguiu a mesma linha, lembrando a sucessão de audições já realizadas e a realizar.
O PCP e o BE acusaram, em resposta, o PSD e o CDS de “medo”. Mariana Aiveca denunciou o processo como uma “falência fraudulenta”. O deputado comunista António Filipe acrescentou que as audições já realizadas “só estão a confirmar a indispensabilidade do mesmo”.
“A culpa pode morrer solteira”, perguntou António Filipe, antes de recordar o negócio ruinoso do navio Atlântida ou os prejuízos na construção dos patrulhões. Para concluir que a empresa tinha sido “destruída por decisão política”. Uma reacção particularmente violenta que podia antecipar o recurso à constituição da comissão de inquérito potestivamente.
O PCP não quis agora antecipar o próximo passo. “Veremos depois da votação”, explicou o deputado comunista, que se escusou ainda a acrescentar se aquele grupo parlamentar entendia que a gravidade da situação justificaria o recurso a esse mecanismo procedimental. Há um mês, no encerramento das jornadas parlamentares do partido, o líder parlamentar, João Oliveira, avançou que o PCP iria propor a criação potestativa da comissão caso não houvesse acordo inicial.
Mas a imposição da comissão de inquérito não é um dado adquirido. Para tal se conseguir é necessário que um quinto, ou seja , 46 dos 230 deputados subscrevam a proposta. O que significa que o PS tem a palavra final na decisão.
Os socialistas foram mais cautelosos no debate. Jorge Fão anunciou o “voto favorável” ao inquérito mas sem a assertividade do PCP e BE, lembrando que os “debates, os projectos de resolução, as perguntas ao senhor ministro da Defesa não têm sido suficientes para apurar as verdadeiras razões” por trás dos prejuízos e da decisão de sub-concessão.
Questionado pelo PÚBLICO, o PS foi evasivo. “Essa questão [inquérito potestativo] só se colocará depois da votação e se essa proposta for avançada”, afirmou Jorge Fão.
Horas antes, a comissão parlamentar de Defesa ouvira o presidente do júri que presidiu à sub-concessão para a empresa Martifer. Que permitiu apurar que a decisão não teve em conta os procedimentos exigidos pelo código de contratação pública.
A revelação originou um debate entre a maioria e a oposição. Pelo meio, o presidente do júri, o procurador geral adjunto João Cabral Tavares, defendia a opção. As regras do código não se aplicavam por não se estar “nem de perto, nem de longe, perante serviços que coubesse ao Estado prestar”, lembrando o facto dos Estaleiros terem como missão a construção naval.
O socialista Marcos Perestrello criticou a aparente “informalidade” que tinham presidido ao processo, reconhecendo não perceber sequer qual fora o “enquadramento jurídico que presidira ao procedimento”. A comunista Carla Cruz concluiu que se “adensavam as dúvidas” sobre a decisão, o que justificava o inquérito parlamentar – que o PCP propôs. E Mariana Aiveca considerou que “só restava fazer a aferição do Ministério Público”.
Foi o presidente da comissão parlamentar, o social-democrata Matos Correia, que fez a contestação categórica a estas considerações, dando mesmo a entender a falta de “seriedade intelectual” por parte da oposição. Dizendo que o recurso ao código “não afectaria em nada o acto e a natureza do concurso”.
O que ficou por responder foi a pergunta deixada no ar por Marcos Perestrelo, momentos antes. “Quer dizer, para comprarem porcas e parafusos, os Estaleiros de Viana tinham de seguir o código de contratação pública, mas para ceder a sua actividade e encerrar as portas já não se aplicou…”