O Inverno de Juan Carlos
É mais um capítulo do "martírio", a expressão usada pelo chefe da Casa do Rei para descrever o "Caso Nóos", o imbróglio jurídico no qual estão envolvidos a infanta e o marido, Iñaki Urdangarin.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
É mais um capítulo do "martírio", a expressão usada pelo chefe da Casa do Rei para descrever o "Caso Nóos", o imbróglio jurídico no qual estão envolvidos a infanta e o marido, Iñaki Urdangarin.
Profundamente abalada por este caso e pelo desgaste cada vez maior da imagem do rei Juan Carlos, a monarquia espanhola é uma instituição debilitada perante uma das maiores crises do regime democrático. Minado pelo impacto da crise económica e pelo desafio independentista da Catalunha, o Estado espanhol que saiu da transição em 1975 está em risco de soçobrar.
Os níveis de popularidade dos partidos do regime são os mais baixos de sempre. A degradação da monarquia, que foi o grande pilar da transição para um regime democrático e para o sistema das autonomias, não podia acontecer em pior altura. O regime precisa mais do que nunca do peso simbólico de uma instituição monárquica que se confunde com a figura do rei Juan Carlos e a monarquia está a ter cada vez mais dificuldades em desempenhar o seu papel de legitimação.
Este não é o momento de uma abdicação e muito menos de uma mudança de regime em Espanha. O monarca terá que travar sozinho um derradeiro combate para manter coeso um país em crise de confiança, descrente do projecto europeu e sem saber que papel o futuro lhe reserva.
E a situação da infanta perante a justiça tornou tudo mais difícil, quer ela venha ou não a ser ouvida. A monarquia joga o seu futuro neste último combate, do qual terá de sair em condições para preparar a sucessão e evitar uma crise constitucional de consequências imprevisíveis, nomeadamente para Portugal.