Juros da dívida portuguesa próximos dos registados na última emissão a dez anos

Irlanda já está a preparar primeira emissão desde a saída da troika.

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A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e o presidente do IGCP, João Pereira Rato Miguel Manso

No final da sessão desta segunda-feira, as taxas de juro das OT a 10 anos registadas no mercado secundário acentuaram a tendência de descida deste início de ano e caíram de 5,675% para 5,565%, segundo os dados publicados pela agência Reuters. Este é o valor mais baixo desde o final do passado mês de Maio e está já muito perto daquele que se registava a 7 de Maio, quando, com as taxas nos 5,499%, o Governo decidiu lançar uma operação de emissão de dívida através de um sindicato bancário.

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No final da sessão desta segunda-feira, as taxas de juro das OT a 10 anos registadas no mercado secundário acentuaram a tendência de descida deste início de ano e caíram de 5,675% para 5,565%, segundo os dados publicados pela agência Reuters. Este é o valor mais baixo desde o final do passado mês de Maio e está já muito perto daquele que se registava a 7 de Maio, quando, com as taxas nos 5,499%, o Governo decidiu lançar uma operação de emissão de dívida através de um sindicato bancário.

Na altura, foram emitidos três mil milhões de euros de dívida pública a uma taxa de juro de 5,669%, um resultado classificado pelo então ministro das Finanças, Vítor Gaspar, como “um grande sucesso”.

Nos meses seguintes, com o anúncio de redução dos estímulos monetários por parte da Reserva Federal norte-americana e com a crise política iniciada em Julho, as taxas de juro das dívidas públicas da Europa periférica voltaram a subir. Apenas em Dezembro, Portugal voltou aos mercados, com uma operação de troca de obrigações, esperando-se agora que, nos primeiros meses do ano, sejam tentadas novas emissões que coloquem o país numa melhor situação para o final do actual programa da troika em Maio deste ano.

As declarações dos principais responsáveis do Executivo português apontam para que se possa esperar a realização de novas emissões brevemente. Em entrevista ao Expresso este fim-de-semana, João Moreira Rato, presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), apenas garantiu que irão ser realizadas até Maio emissões de dívida pública sindicadas, mas assumiu que existem “muitos investidores e de muitas regiões geográficas que têm manifestado interesse em participar em emissões de Obrigações do Tesouro, sobretudo a cinco e a dez anos, mas também noutros prazos”.

Desde a chegada da troika a Portugal, apenas se realizaram duas emissões de dívida de longo prazo, uma a cinco anos, em Janeiro de 2013, e outra a 10 anos, em Maio de 2013. Ambas as operações foram feitas através de um sindicato bancário e não por via de um leilão, o tipo de operação que antes era mais habitual. As emissões sindicadas têm a vantagem para o tesouro de se poder negociar em antecipação com determinados investidores a venda de dívida, havendo por isso muito menos riscos de uma operação mal sucedida.

Um dos problemas que Portugal enfrenta nas colocações no mercado é o facto de os ratings atribuídos actualmente à República pelas agências de notação financeira estarem em nível muito baixo, impedindo mesmo alguns investidores institucionais de apostarem na dívida pública portuguesa. Na próxima sexta-feira a Moody's, uma das principais agências de rating internacionais irá publicar um relatório sobre a dívida portuguesa. A Standard & Poor’s fará o mesmo uma semana depois. Nas Finanças, a preocupação está neste momento em gerir o calendário das próximas emissões de acordo com o impacto que estes dois relatórios podem vir a ter na imagem da dívida pública junto dos investidores.

A expectativa de realização de uma nova emissão em Portugal ficou ainda reforçada esta segunda-feira com o anúncio por parte da agência que gere a dívida pública irlandesa de que está a ser preparada uma nova emissão de obrigações a 10 anos. Será a primeira colocação de dívida desde que o país decidiu que não irá recorrer a um novo programa de apoio financeiro e que passará a garantir o seu financiamento sozinho nos mercados.

A grande diferença em relação a Portugal é que as taxas de juro da dívida irlandesa a 10 anos estão actualmente nos 3,35% mais de dois pontos percentuais abaixo das portuguesas, o que permite ao país ter mais garantias de que conseguirá obter empréstimos a taxas de juro sustentáveis.

Não é só nos países periféricos da Europa que as estratégias de financiamento dos Estados enfrentam riscos este ano. Com a Reserva Federal e o BCE a darem os primeiros sinais de redução dos estímulos monetários, as maiores potências mundiais tentam garantir que emitem dívida às melhores taxas possíveis. De acordo com a agência Bloomberg, as maiores economias mundiais (G7 mais Brasil, Índia, Rússia e China) irão precisar de refinanciar 7,43 biliões de dólares de dívida durante este ano, um valor semelhante ao registado em 2013.