Juventude e política: oito exemplos
João Torres
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João Torres
Aos 27 anos lidera a Juventude Socialista (JS). Nunca teve dúvidas, “o legado histórico e os valores do PS” falaram mais alto do que a Engenharia Civil. “Jovem comum”, chegou a secretário-geral da JS pelos próprios pés e tem como “grandes inspirações” Mário Soares e António Arnaut. Diz-se “um político de esquerda”, guiado pela pirâmide de valores que coloca a liberdade acima da igualdade. Olha para jota que dirige como uma histórica consciência crítica do PS. Contraria a ideia de que os jovens não se interessam pela política, fala sim num problema de representação e falta de proximidade entre as instituições e a sociedade civil. Considera que o maior problema da juventude assenta numa emancipação que tarda e defende que só alterações ao sistema político e eleitoral podem aproximar os jovens e a própria sociedade da política.
Simão Ribeiro
Com 27 anos é o mais jovem deputado da Assembleia da República. Finalista do curso de Direito, diz ter sido sempre muito precoce em relação ao assunto que o move: a política. Os irmãos e os amigos indicaram-lhe o caminho. Muitas leituras e conversas acabaram mesmo por o guiar à Juventude Social Democrata. “Foi um casamento natural”, afirma. Passou por todos os órgãos da jota. Depois de vice-presidente foi eleito secretário-geral, cargo que desempenha há cerca de um ano. Acredita e defende uma nova República e concebe uma visão de Estado “assente na iniciativa privada e na livre regulamentação dos mercados”. Diz que, “de um modo geral”, os jovens se interessam pela política, mas considera que as acções de protesto “que saem dos parâmetros institucionais” são “o maior foco de afastamento das pessoas”.
Duarte Alves
Tem 23 anos e é militante da Juventude Comunista Portuguesa (JCP). Os olhos brilham quando explica que na JCP não há líderes. “Não há listas contra listas”, há uma direcção colectiva que dirige a organização de juventude entre congressos de acordo com a resolução política “discutida por todos os militantes”. Luta por uma política patriótica de esquerda e deixa escapar um sorriso quando se fala numa possível ditadura do proletariado, “história dos que insistem em dizer que o PCP não é o partido que mais deu pela liberdade”, argumenta. Acredita numa democracia política avançada impossível de atingir sem uma democracia económica, a social e a cultural. Diz que os jovens estão “cada vez mais presentes na luta” e que foram as políticas dos governos PS e PSD “que têm posto os jovens de lado.”
Sara Nobre
Tem 29 anos e faz parte do movimento inicial que deu origem aos Precários Inflexíveis. O gosto pela política nasceu em casa. Licenciou-se em Ciências da Comunicação, mas a experiência no jornalismo não a convenceu. “Tinha duas opções, ou ia para um call center ou pedia ao meu pai para me pagar outro curso.” O pai pagou Direito. Sara acabou a licenciatura há pouco tempo e está na primeira fase de estágio para ingressar na Ordem nos Advogados – continua precária mas mais realizada.
Não generaliza mas diz que “grande parte dos jovens não se interessa pela política”. Segundo a jovem, esta falta de interesse deve-se à falta de educação cívica e à falta de competências emocionais, “porque é preciso um empenhamento emocional para se estar interessado na política”.
Inês Subtil
É um muitos rostos jovens do movimento Que Se Lixe a Troika. Aos 29 anos é jornalista e activista. Acredita que “a política é quase tudo na nossa vida”, mas diz que os jovens não se interessam e a encaram como um “bicho de sete cabeças”. Chama excepção à histórica mobilização conseguida nas manifestações de 15 de Setembro de 2012 e 2 de Março de 2013 e fala num crescimento do individualismo que se acentuou com a crise económico financeira “que faz com que cada um de nós se esqueça da importância do colectivo”. Acredita que é possível "mudar o mundo" através de “pequenas coisas e pequenos passos” e dá o exemplo daquilo que se pode fazer através “de uma organização de base bairrista” e da rua, “onde as pessoas estão realmente”. Tem esperança no futuro mas insiste que nem o Governo nem a troika foram eleitos para empobrecer o país.
Francisca Soromenho
Aos 22 anos é presidente da Associação Académica da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (AAFDL). Sente-se “irremediavelmente representada pela democracia” e defende a dignidade humana acima de qualquer imposição nacional ou internacional. Diz-se na linha da frente para proteger os direitos dos universitários, mas fala de uma “polarização à direita” a nascer no seio da Clássica. Francisca acredita que as acções de protesto não se esgotam nas manifestações e está empenhada em continuar com as “Quintas-Feiras Negras”, protesto que já se fez sentir à porta da reitoria da Universidade de Lisboa quando 1071 toneladas de gelo foram despejadas para representar as dificuldades que os alunos sentem para pagar as propinas. Defende que os jovens não estão pouco interessados pela política, estão “desencantados”.
Miguel Braga
Aos 26 anos é licenciado em Design Gráfico. Interessou-se verdadeiramente pela política quando terminou os estudos e se apercebeu da sua própria condição: precário a viver na casa dos pais. Admite ter “certas inclinações” mas não segue nenhum partido religiosamente. Tem uma visão optimista em relação ao futuro do país e conta que quando percebeu “que o tema do dia era a crise” resolveu fazer uma paródia em tom de crítica: um jogo intitulado Tuga vs. Troika, disponível para Android, em que “a personagem principal, o Tuga, tem de se livrar dos troikanos”. Vê a classe política “lá longe, enfiada num gabinete a olhar para nós lá do alto” e diz que os jovens estão alienados da política nacional. Vota mas não participa em manifestações por não ver “alternativas e soluções reais” para os problemas do país.
Sílvia Alexandre
A jovem de 23 anos é uma trabalhadora precária que não se sente representada por nenhum partido político ou movimento social. Não vota por convicção e encara a política “como um negócio”. Classifica os partidos e os movimentos com a mesma palavra: fachada. Não participa em manifestações porque despreza “o ambiente de festa” que diz ter presenciado nas manifestações que encheram as ruas de Lisboa em Setembro de 2012 e em Março de 2013. Argumenta que em Portugal há poucos jovens a interessar-se pela política e vê com maus olhos aqueles que “em vez de lutarem pelo país preferem emigrar”. Admite que tem uma relação de amor-ódio com a política, interessa-se, lê mas “não é nenhuma especialista” e está cansada de tentar entender “como é que um deputado que não sabe o que é viver com o salário mínimo pode mudar o país”.