Imigrantes fazem greve inédita em Israel

Manifestação reuniu milhares sem-papés africanos no centro de Telavive contra nova lei para reprimir imigração.

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Migrantes manifestam-se contra a lei que permite detenção de quem pede asilo Nir Elias/Reuters

“Somos refugiados”, cantavam alguns manifestantes, “Sim à liberdade, não à prisão”. “Fugimos de perseguição, ditaduras, guerras civis e genocídios”, disse Dawud, eritreu, à agência francesa AFP. “Em vez de nos considerar refugiados, Israel trata-nos como criminosos”, queixou-se.

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“Somos refugiados”, cantavam alguns manifestantes, “Sim à liberdade, não à prisão”. “Fugimos de perseguição, ditaduras, guerras civis e genocídios”, disse Dawud, eritreu, à agência francesa AFP. “Em vez de nos considerar refugiados, Israel trata-nos como criminosos”, queixou-se.

Calculava-se que a manifestação tenha reunido cerca de 20 mil pessoas. Ao contrário do que tem acontecido em protestos anteriores contra uma nova lei, esta foi a primeira acção em que os migrantes africanos apareceram em grande número, nota a imprensa israelita.

O Parlamento israelita aprovou em Dezembro uma lei permitindo a detenção, num chamado centro aberto, de imigrantes até um ano. Uma lei anterior, prevendo um período de detenção de até três anos, foi em Setembro rejeitada pelo Supremo Tribunal.

Grupos de defesa de direitos humanos dizem que desde a aprovação da lei foram detidos mais de 300 imigrantes.

Estes ficam em centros construídos em zonas remotas (no deserto do Negev). Podem sair durante o dia, mas têm de responder a chamadas três vezes por dia. Estas obrigações, aliadas à falta de transportes públicos na zona, faz com que não consigam procurar emprego ou trabalhar.

Mas trabalho não foi o que moveu a maioria dos imigrantes que procuraram refúgio em Israel, quiseram dizer os organizadores da greve que agora começou e que deverá afectar restaurantes, cafés, hotéis e empresas de limpeza que empregam estes imigrantes.

“Estamos conscientes dos riscos de fazer greve, que podemos perder os nossos empregos e rendimento”, dizem os organizadores – no caso de imigrantes sem documentos, o risco é ainda maior. “Mas nós viemos para cá por causa do perigo para as nossas vidas nos nossos países de origem”, sublinham, num comunicado citado pelo diário Ha'aretz. “Como qualquer pessoa, queremos também ter um rendimento para viver em dignidade, mas não foi o trabalho que nos trouxe a Israel.”

As autoridades israelitas dizem o contrário. Acrescentam que actualmente há cerca de 60 mil migrantes africanos em Israel, a maioria chegada através da fronteira com o Egipto, onde Israel completou recentemente uma barreira.

Desde 2009, entre 17.194 pedidos de refugiados, 26 foram aceites, e entre os 1.133 pedidos para ficar em Israel por razões humanitárias, 540 receberam essa autorização, segundo dados apresentados durante a discussão da lei no Knesset citados pelo jornal Jerusalem Post.

O Governo chama a estes imigrantes “infiltrados” e o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, já disse que a presença de muitos destes imigrantes é uma ameaça à sociedade judaica, e o Governo tem ainda dado incentivos monetários a imigrantes que queiram regressar voluntariamente aos seus países.