A pensar nas legislativas
A reunião magna do CDS deverá servir para glorificar sobretudo o vice-primeiro-ministro.
O modo como cada actor político irá sair das urnas em 2015 e a conquista de posições para influenciarem uma solução governativa na próxima legislatura serão as linhas de orientação da acção política quer do Governo, quer das oposições. E se a gestão da expectativa dos eleitores sobre o que possa vir a representar uma governação liderada por António José Seguro irá dominar a acção política do PS até Junho de 2015, já os partidos do Governo irão apostar na passagem de uma mensagem política centrada na ideia de que salvaram o país da falência e da tutela da troika e que, por isso, merecem continuar à frente do executivo.
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O modo como cada actor político irá sair das urnas em 2015 e a conquista de posições para influenciarem uma solução governativa na próxima legislatura serão as linhas de orientação da acção política quer do Governo, quer das oposições. E se a gestão da expectativa dos eleitores sobre o que possa vir a representar uma governação liderada por António José Seguro irá dominar a acção política do PS até Junho de 2015, já os partidos do Governo irão apostar na passagem de uma mensagem política centrada na ideia de que salvaram o país da falência e da tutela da troika e que, por isso, merecem continuar à frente do executivo.
O discurso da consagração do primeiro-ministro, que, qual Moisés, salvou os portugueses do caos da dívida e atravessou o Nilo da intervenção tutelar da troika, já começou, aliás, a ser preparado e ensaiado de forma implícita pelo próprio. Dominando como ninguém os dados da situação, bem como o conteúdo das conversações com a Comissão Europeia, o primeiro-ministro sabe quais as variantes de 2014 e conhece os limites e condicionantes da situação portuguesa.
E sabe que, mesmo que Portugal não cumpra exactamente as metas neste momento previstas – já para não falar do que estava previsto e foi sendo alterado –, a União Europeia não se pode dar ao luxo de assistir à derrapagem oficial de um segundo país, como já aconteceu com a Grécia. Por isso, Passos sabe que poderá contar com alguma condescendência na avaliação final, preparando-se para um discurso oficial de congratulação com o êxito de Portugal.
É assim previsível que, ao longo da primeira metade de 2014, se vá acentuando o discurso afirmativo e propagandístico do PSD. É mesmo expectável que o congresso de Lisboa, marcado para 21, 22 e 23 de Fevereiro, se transforme no palco de lançamento da operação eleitoral, tendo como meta as legislativas de 2015. O objectivo de tentar bisar o êxito eleitoral em 2015 – ou, dito de uma forma mais pessimista, de tentar impedir a implosão do PSD nas legislativas – irá levar a que não se manifestem reais oposições a Passos Coelho no Coliseu.
O congresso servirá assim de partida para uma operação que usará as eleições europeias de 25 de Maio como uma espécie de airbag eleitoral. Até porque uma derrota nas europeias, por má que seja, pode sempre ajudar a soltar o fel e a limpar o fígado do eleitorado, para que depois possa haver uma reconquista de votos, usando o discurso do sucesso governativo e a exibição dos louros de um final de legislatura já sem intervenção directa da troika. O recurso não é inédito, aliás, pois as europeias serviram já de escape ao desgaste governativo de José Sócrates e do PS em 2009.
Estando juntos no poder, o PSD e o CDS poderão gerir de forma similar a sua propaganda de sucesso. E ainda que exista já um acordo eleitoral de coligação para as autárquicas e que seja admissível que ele se possa prolongar para a um entendimento para as legislativas, tal não é provável, tendo em conta a defesa dos interesses eleitorais de cada um dos dois partidos. Até porque as contradições que existem no seio do Governo são por de mais evidentes e têm, aliás, sido alimentadas sobretudo por Paulo Portas, que precisa, como de pão para a boca, de assegurar a sobrevivência do CDS.
Ora, a forma encontrada por Paulo Portas para evitar a diluição do CDS no PSD tem sido a sua afirmação de autonomia e de pensamento próprio dentro da coligação. Chega a surgir, muitas vezes, como uma espécie de líder da oposição e tem capitalizado, até agora, os frutos dessa estratégia – nomeadamente, ao transformar uma demissão “irrevogável” em ascensão a vice-primeiro-ministro com vastíssimos poderes: relações com a troika, reforma do Estado e economia.
Portas terá assim que encontrar a forma de gerir a situação peculiar do seu CDS com um pé dentro e outro fora do Governo. Uma tarefa cujo desempenho irá ensaiar e preparar já no congresso do próximo fim-de-semana em Oliveira do Bairro, onde não se espera que haja críticas ao Governo. Mas a reunião magna do CDS deverá servir para glorificar sobretudo o vice-primeiro-ministro. E preparar o processo de tentativa de capitalização pelo CDS, nas legislativas de 2015, da experiência governativa e das reivindicações governamentais de Paulo Portas. Tanto mais que Passos Coelho já começou a sua campanha e a do PSD para as legislativas.