Al-Qaeda declara cidade iraquiana de Falluja o seu novo Estado

O objectivo do Estado Islâmico do Iraque e do Levante passa por controlar partes do Iraque e da Síria, expulsando os governantes que considera infiéis.

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O ISIS irrompeu nas orações de sexta-feira na cidade Reuters

A última vaga de confrontos na província iraquiana de Anbar começou na segunda-feira, quando as autoridades decidiram desmantelar vários acampamentos de protesto contra o Governo do xiita Nouri al-Maliki, acusado de discriminar a minoria árabe sunita. Em Ramadi, capital de Anbar, as autoridades contam com o apoio das milícias tribais inicialmente criadas pelos Estados Unidos para combater os jihadistas e entretanto reactivadas; em Falluja, segundo diversos testemunhos, pelo menos parte destas milícias está ao lado dos combatentes estrangeiros.

ISIS, Estado Islâmico do Iraque e do Levante, ou do Iraque e da Síria, Daash, são tudo nomes para a mesma coisa: um grupo de criminosos de várias nacionalidades, muitos árabes e de países da região, outros muçulmanos de países asiáticos, africanos e europeus, que tem tornado a guerra na Síria num pesadelo ainda maior para os sírios.

No Iraque, o Governo de Bagdad já tinha enfurecido muito a população árabe sunita (o sunismo é um ramo do islão minoritário no país, mas esmagadoramente maioritário no mundo). Autoritarismo misturado com corrupção tem sido a combinação explosiva da liderança de Maliki, deixando uma parte da população disponível a juntar-se a quem tenha armas para combater a autoridade central. Seguidores da Al-Qaeda apareceram no Iraque para combater os norte-americanos e nunca de lá saíram completamente – com a revolta síria, esmagada pelo regime, vieram mais e com mais força.

"Não vamos ceder até termos derrorado todos os grupos terroristas e resgatado o novo povo de Anbar", prometei Maliki numa declaração transmitida pela televisão estatal, a Iraqiya.

Os relatos são confusos. Segundo alguns, Falluja está totalmente nas mãos dos jihadistas desde sexta-feira. Militares e polícias abandonaram os seus postos, os extremistas nomearam um governador para a cidade e içaram a bandeira negra da Al-Qaeda em vários edifícios governamentais. No fim das orações de sexta-feira, as mais importantes da semana, combatentes do ISIS ocuparam o palco num parque público, expulsando o imã que liderava a oração, agitando a sua bandeira e desafiando as autoridades a virem buscá-los.

“Declaramos Falluja um Estado islâmico, ponham-se do nosso lado”, gritaram à multidão, de acordo com relatos de testemunhas citados no jornal The New York Times. “Estamos aqui para vos defender do Exército de Maliki e dos safávidas”, disse ainda um dos combatentes. A dinastia safávida controlou durante centenas de anos os territórios onde hoje se erguem o Iraque e o Irão – o Irão é o único grande país muçulmano de maioria xiita, e os seus líderes são aliados dos xiitas do Iraque, assim como da família Assad, no poder na Síria.

O objectivo do ISIS passa por controlar partes do Iraque e da Síria, expulsando os governantes que considera infiéis.

Um correspondente da agência AFP confirmou já neste sábado que Falluja está totalmente sob controlo dos homens do ISIS. Mas há combates intermitentes nos arredores da cidade, 60 quilómetros a ocidente de Bagdad, e a polícia iraquiana tentava ainda na sexta-feira entrar pelo norte de Falluja e chegar à rua principal da cidade.

Em Ramadi, capital da província, a situação é pelo menos tão confusa quanto a de Falluja. Os combatentes do ISIS conquistaram vastas zonas da cidade na quinta-feira, mas as forças do Governo terão entretanto recuperado algumas partes, com três bairros ainda nas mãos dos jihadistas estrangeiros.

Sabe-se que na sexta-feira morreram pelo menos 32 civis e 71 combatentes da Al-Qaeda, entre Falluja e Ramadi; no sábado, segundo o Governo, foram 65 os mortos, incluindo 55 combatententes ligados à Al-Qaeda. Sabe-se ainda que Falluja está sem electricidade: o ISIS terá cortado a energia e ordenado aos habitantes que não usem os geradores para não gastarem o combustível disponível. Temem-se novos combates e quem consegue está a fugir da cidade.


 
 

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A última vaga de confrontos na província iraquiana de Anbar começou na segunda-feira, quando as autoridades decidiram desmantelar vários acampamentos de protesto contra o Governo do xiita Nouri al-Maliki, acusado de discriminar a minoria árabe sunita. Em Ramadi, capital de Anbar, as autoridades contam com o apoio das milícias tribais inicialmente criadas pelos Estados Unidos para combater os jihadistas e entretanto reactivadas; em Falluja, segundo diversos testemunhos, pelo menos parte destas milícias está ao lado dos combatentes estrangeiros.

ISIS, Estado Islâmico do Iraque e do Levante, ou do Iraque e da Síria, Daash, são tudo nomes para a mesma coisa: um grupo de criminosos de várias nacionalidades, muitos árabes e de países da região, outros muçulmanos de países asiáticos, africanos e europeus, que tem tornado a guerra na Síria num pesadelo ainda maior para os sírios.

No Iraque, o Governo de Bagdad já tinha enfurecido muito a população árabe sunita (o sunismo é um ramo do islão minoritário no país, mas esmagadoramente maioritário no mundo). Autoritarismo misturado com corrupção tem sido a combinação explosiva da liderança de Maliki, deixando uma parte da população disponível a juntar-se a quem tenha armas para combater a autoridade central. Seguidores da Al-Qaeda apareceram no Iraque para combater os norte-americanos e nunca de lá saíram completamente – com a revolta síria, esmagada pelo regime, vieram mais e com mais força.

"Não vamos ceder até termos derrorado todos os grupos terroristas e resgatado o novo povo de Anbar", prometei Maliki numa declaração transmitida pela televisão estatal, a Iraqiya.

Os relatos são confusos. Segundo alguns, Falluja está totalmente nas mãos dos jihadistas desde sexta-feira. Militares e polícias abandonaram os seus postos, os extremistas nomearam um governador para a cidade e içaram a bandeira negra da Al-Qaeda em vários edifícios governamentais. No fim das orações de sexta-feira, as mais importantes da semana, combatentes do ISIS ocuparam o palco num parque público, expulsando o imã que liderava a oração, agitando a sua bandeira e desafiando as autoridades a virem buscá-los.

“Declaramos Falluja um Estado islâmico, ponham-se do nosso lado”, gritaram à multidão, de acordo com relatos de testemunhas citados no jornal The New York Times. “Estamos aqui para vos defender do Exército de Maliki e dos safávidas”, disse ainda um dos combatentes. A dinastia safávida controlou durante centenas de anos os territórios onde hoje se erguem o Iraque e o Irão – o Irão é o único grande país muçulmano de maioria xiita, e os seus líderes são aliados dos xiitas do Iraque, assim como da família Assad, no poder na Síria.

O objectivo do ISIS passa por controlar partes do Iraque e da Síria, expulsando os governantes que considera infiéis.

Um correspondente da agência AFP confirmou já neste sábado que Falluja está totalmente sob controlo dos homens do ISIS. Mas há combates intermitentes nos arredores da cidade, 60 quilómetros a ocidente de Bagdad, e a polícia iraquiana tentava ainda na sexta-feira entrar pelo norte de Falluja e chegar à rua principal da cidade.

Em Ramadi, capital da província, a situação é pelo menos tão confusa quanto a de Falluja. Os combatentes do ISIS conquistaram vastas zonas da cidade na quinta-feira, mas as forças do Governo terão entretanto recuperado algumas partes, com três bairros ainda nas mãos dos jihadistas estrangeiros.

Sabe-se que na sexta-feira morreram pelo menos 32 civis e 71 combatentes da Al-Qaeda, entre Falluja e Ramadi; no sábado, segundo o Governo, foram 65 os mortos, incluindo 55 combatententes ligados à Al-Qaeda. Sabe-se ainda que Falluja está sem electricidade: o ISIS terá cortado a energia e ordenado aos habitantes que não usem os geradores para não gastarem o combustível disponível. Temem-se novos combates e quem consegue está a fugir da cidade.