Vendas de carros reanimam-se e regressam à barreira dos 100 mil veículos
Crescimento de 11,% em 2013 não disfarça baixo nível de vendas de ligeiros de passageiros. Recuperação foi visível a partir de Junho. Para 2014, o sector espera uma estabilização.
De Janeiro a Dezembro, o total de carros novos quebrou o patamar das 100 mil unidades. O desempenho, suportado pelo crescimento constante nos últimos sete meses, é comparável com um ano de 2012 em que o mercado bateu no fundo, com as vendas a descerem para o nível mais baixo em 27 anos.
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De Janeiro a Dezembro, o total de carros novos quebrou o patamar das 100 mil unidades. O desempenho, suportado pelo crescimento constante nos últimos sete meses, é comparável com um ano de 2012 em que o mercado bateu no fundo, com as vendas a descerem para o nível mais baixo em 27 anos.
Em 2013, foram comercializados 105.898 veículos ligeiros de passageiros novos, contra 95.309 no ano anterior, um ano de comparação “anormalmente baixo”, nota a ACAP. E recuando até 2011, mesmo quando o mercado já estava em queda, a diferença é ainda maior, contrastando com vendas superiores a 153 mil.
Até aqui, o último ano de crescimento nas vendas tinha sido o de 2010, também o último em que vigorou o programa de incentivos ao abate de carro em fim de vida. A queda do sector coincidiu com o agravamento da crise económica em Portugal, com o fim do programa de incentivos ao abate de automóveis em fim de vida e com o aumento geral dos preços de venda ao público (em 2011 o IVA subiu para 23%).
Já em 2013, o aumento homólogo foi constante nos últimos sete meses. Dezembro foi o mês em que as vendas mais cresceram (35,4%, 8612 unidades) e Junho aquele em que foram comercializados mais veículos (12.735 carros). A partir dessa altura, as vendas dispararam sempre na casa dos dois dígitos, quando no mesmo período do ano passado acumulavam quedas de mês para mês que superaram em alguns períodos os 30% e 40%.
Impulso no consumo
A recuperação — que as associações do sector consideram positiva, mas dizem dever ser lida à luz da forte contracção nos dois anos anteriores — contrasta com a trajectória negativa do mercado no conjunto da União Europeia (uma queda forçada por dois gigantes do comércio de carros, Alemanha e França).
A compra de automóveis tem sido a principal razão do crescimento homólogo do consumo de bens duradouros. E o aumento da procura e de algum investimento dos particulares é uma das razões que o secretário-geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), Jorge Neves da Silva, encontra para este comportamento do mercado. Mas também o “crescimento significativo das vendas para rent-a-car num ano turístico muito bom”.
Perante o “comportamento menos negativo dos índices de confiança, quer dos consumidores, quer das empresas”, é expectável que as vendas estabilizem em 2014, acredita o secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro. As perspectivas da ANECRA vão no mesmo sentido. As vendas “não deverão ficar muito acima” das 105 mil registadas este ano, diz Neves da Silva. Mas isso não significa que a crise do sector — que representa 3,6% do volume de negócios das empresas em Portugal — esteja ultrapassada, refere, notando o “aumento significativo do encerramento de empresas” a que se assistiu no ano passado.
Uma resolução aprovada em Julho no Parlamento recomendava ao Governo a introdução de um novo plano de incentivos ao abate, para dinamizar o sector, mas a proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2014 acabou por não incluir uma medida há muito reclamada no sector tanto pela ACAP, como pela ANECRA. Mesmo com um novo programa, calcularam, o Estado conseguiria compensar em receita fiscal os incentivos concedidos.
Para surpresa das duas associações, o OE acabou por trazer outra medida que consideram negativa para a recuperação do sector: a criação de uma taxa adicional em sede de imposto único de circulação (IUC) para os carros movidos a gasóleo, que varia entre 1,39 euros e 68,85 euros (em função da idade do veículo e a cilindrada). Isto, quando tem sido a compra de automóveis a principal razão do crescimento homólogo do consumo de bens duradouros, que no terceiro trimestre aumentaram 4,2%.
Crescimento em Espanha, queda em França
Tal como Portugal, Espanha deixou para trás dois anos de contracção do mercado automóvel, terminando 2013 com um crescimento de 3,3% nas vendas. Ao todo, foram vendidos 722.703 novos veículos, um número que não satisfaz o sector, habitado antes da crise a vendas superiores a um milhão.
Já o mercado automóvel francês, o terceiro maior da União Europeia (a seguir à Alemanha e ao Reino Unido), esteve em queda, recuando mesmo para o nível mais baixo em 16 anos (1,79 milhões de veículos). O mau momento nas vendas, que caíram 5,7% em relação ao ano anterior. Pela descida que as vendas registaram, o sector espera agora uma estabilização do comércio automóvel em 2014. Bernard Cambier, director comercial do grupo Renault, projecta um crescimento de 2% a 3%.