“Poder” foi a palavra mais pesquisada em Portugal no dicionário Priberam em 2013
Empresa divulgou as palavras mais consultadas em 90 países, e ainda os palavrões mais procurados ou os erros mais frequentes. No Brasil, o termo mais consultado no ano que passou foi “atemporal”.
A Priberam costuma publicitar todos os anos a lista de palavras mais consultadas em Portugal e no Brasil, mas desta vez a empresa divulgou também erros ortográficos frequentes, uma lista dos palavrões mais procurados, e ainda as palavras mais pesquisadas em noventa países a partir dos quais o dicionário foi consultado em 2013.
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A Priberam costuma publicitar todos os anos a lista de palavras mais consultadas em Portugal e no Brasil, mas desta vez a empresa divulgou também erros ortográficos frequentes, uma lista dos palavrões mais procurados, e ainda as palavras mais pesquisadas em noventa países a partir dos quais o dicionário foi consultado em 2013.
Se nos podemos interrogar por que motivo os internautas na Croácia pesquisam tanto a palavra “anão”, ou em França se interessam por “obnubilações”, ou o que explica a obsessão da Nova Zelândia com “pevides”, ou ainda a suspeita curiosidade demonstrada por quem se encontra na Tailândia pelo termo “bunda-mole”, a verdade é que, por exemplo, o segundo lugar atingido em Portugal pela palavra “ser” não é menos surpreendente. Ou mesmo o facto de “poder”, que já fora a palavra mais procurada em Portugal ao longo de 2012, ter, por assim dizer, revalidado o título.
À partida, tender-se-ia a pensar que quem consulta uma palavra num dicionário tem uma de duas motivações: quer saber o que a palavra significa ou confirmar a respectiva grafia. Se “poder” beneficiará de ser simultaneamente um substantivo e um verbo, e se ainda seria admissível que alguns internautas quisessem verificar se o substantivo se escreve com “o” ou com “u” (que a dúvida seja tão generalizada é que já parece mais improvável) quem é o falante de português que não sabe o que quer dizer e como se escreve “ser”?
Como os utilizadores do dicionário não relatam o que os levou a pesquisar determinada palavra, a interpretação destes resultados implica sempre alguma dose de especulação, mas tudo indica que a explicação para uma parte dos dados mais desconcertantes resida nas funcionalidades adicionais que o programa da Priberam oferece. Maria Serras, da direcção de marketing da empresa, sugere que o facto de o top ten de palavras pesquisadas em Portugal incluir “ser” (2.º), “ver”(5.º), “ter” (7.º) e “haver (8.º) ficará provavelmente a dever-se à circunstância de o Priberam fornecer a conjugação dos verbos. Ou seja, quem pesquisa “ter” poderá querer verificar uma determinada conjugação do verbo.
E como ao explicar o significado de cada termo, o dicionário inventaria palavras com sentido igual ou aproximado, também não é improvável que funcione, para muitos utilizadores, como uma espécie de dicionário de sinónimos.
Mas nada disto explica, por exemplo, que a palavra “paradigma” ocupe a 5.ª posição no Brasil e a 6.ª em Portugal. Ou que “atemporal” tenha sido, em 2013, a palavra mais pesquisada em território brasileiro. À partida, dir-se-ia que quem procura “paradigma” pode ignorar o significado do termo, ou querer confirmá-lo, e que quem pesquisa “atemporal” pode ter lido a palavra algures e querer saber se é sinónima de “intemporal”, ou até se a palavra está efectivamente registada no dicionário. Mas continua a ser estranho que que uma e outra tenham sido tantas vezes pesquisadas.
Os dados agora divulgados não especificam o número de ocorrências para cada palavra, mas tendo em conta que a maioria dos acessos ao Priberam é feita a partir do Brasil e de Portugal, e que em 2013 o site do dicionário recebeu mais de 62 milhões de visitas, é de crer que ambas tenham sido objecto de um considerável número de consultas. “Possivelmente milhares”, diz Maria Serras, que adianta outra explicação para súbitos interesses generalizados por determinada palavra: “Muitas vezes tem a ver com alguma coisa que aconteceu, ou com algo que um presidente ou um primeiro-ministro tenha dito”.
Está é uma explicação testada. “É impressionante como uma notícia pode fazer o gráfico de pesquisa de uma palavra qualquer subir de uma maneira louca”, diz a responsável da Priberam. A empresa suspeitou que uma razão desse tipo estivesse por trás da meteórica ascensão da palavra “atemporal” nas consultas efectuadas a partir do Brasil, mas “não foi possível descobrir nada”, conta ainda Maria Serras.
Em Portugal, além das já referidas, foram ainda especialmente pesquisadas as palavras “connosco”, “pragmático” e “carácter”. No Brasil, a segunda mais procurada foi “definir”, seguida de “amor”, que trepou cinco posições por comparação com 2012, “afinco” (4.º), “poder” (no Brasil só chegou ao 6.º lugar), “iminente” (7.º), exceção (o dicionário tem opções de consulta para a norma do português europeu e do português do Brasil, com ou sem as alterações previstas pelo Acordo Ortográfico), “hipocrisia” e “ratificar”.
Outro dado de que a empresa não dispõe é a naturalidade dos que consultam o dicionário. Um acesso na Noruega (onde ganhou a palavra “abrupto”) ou em Omã (“armário” foi o termo mais pesquisado) pode vir de um emigrante de um país lusófono, mas também, por exemplo, de um estudante local de português ou de um tradutor.
Em alguns dos 90 países incluídos na lista divulgada pela Priberam, mesmo as palavras mais pesquisadas poderão ter registado um número de ocorrências muito baixo, mas a estatística vale pela curiosidade. Ficamos a saber, por exemplo, que a palavra mais procurada na Alemanha é “axioma”. Na Bolívia estão interessados em “depenar”, nos Emiratos Árabes Unidos a moda é “adjudicar”, a Guiné-Bissau procura “aderecista”, o Listenstaine (também grafado Liechtenstein) busca o “filho pródigo”, e a Polónia pesquisa “tiroteio”. Os países estão ordenados alfabeticamente, e a sucessão Suécia-Suíça-Tailândia-Taiwan parece uma legenda de filme pornográfico traduzida por computador: “caralho”/”pudéssemos”/”bunda-mole”/”túrgido”.
“Caralho” foi também o palavrão mais procurado em 2013, depois de “puta” e “porra”, um pódio decepcionantemente convencional, que sugere que muitas destas pesquisas podem ter sido movidas pelo mero desejo de verificar se o dicionário da Priberam incluía calão obsceno.
Os dados relativos a 2013 incluem ainda os erros mais frequentes, que incluem “concerteza” (com certeza), “disfrutar” (desfrutar), “extender” (estender) ou… “Priberan”, em vez de Priberam.
Criada em 1989, a Priberam comercializa, além deste dicionário on line, produtos como o FLiP, uma ferramenta de revisão e correcção do português, ou o LegiX, vocacionado para a pesquisa de legislação.
Notícia substituída e actualizada às 18h56.