Putin promete lutar até à "eliminação total" do terrorismo

Celebrações do Ano Novo manchadas pelos ataques que mataram 34 pessoas em Volgogrado. Dezenas de pessoas foram detidas na cidade.

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Mais de cinco mil agentes foram mobilizados para as ruas de Volgogrado Sergei Karpov/Reuters

Putin — que solidificou a sua imagem de homem forte da Rússia ao esmagar os rebeldes na segunda guerra da Tchetchénia, em 1999, sem conseguir erradicar o terrorismo islamista que se entranhou desde então na região — trocou o habitual discurso ao país por uma mensagem de Ano Novo enviada a partir de Khabarovsk, região no extremo leste do país, atingida no Verão passado por grandes inundações.

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Putin — que solidificou a sua imagem de homem forte da Rússia ao esmagar os rebeldes na segunda guerra da Tchetchénia, em 1999, sem conseguir erradicar o terrorismo islamista que se entranhou desde então na região — trocou o habitual discurso ao país por uma mensagem de Ano Novo enviada a partir de Khabarovsk, região no extremo leste do país, atingida no Verão passado por grandes inundações.

“Caros amigos, inclinamo-nos perante as vítimas deste terríveis atentados. Estou certo que vamos continuar a lutar, tenaz e ininterruptamente, contra os terroristas até à sua eliminação total”, afirmou, depois de denunciar a “desumanidade” de quem mata civis inocentes, a caminho do trabalho ou na viagem para celebrar o Ano Novo com a família. A AFP sublinha que no discurso que gravou no Kremlin e que foi já transmitido nas regiões remotas de Magadan e Kamtchatka, não faz qualquer referência aos atentados.

Celebrações em alerta máxima
A Rússia entra no Ano Novo em ambiente de segurança máxima, depois dos atentados suicidas em dias sucessivos em Volgogrado terem ensombrado aquela que é a principal festa no país. Pela voz dos seus ministros, Putin deu ordens para um reforço da segurança a nível nacional, com particular atenção aos transportes — muito movimentados nesta altura do ano — e a Volgogrado.

Na Praça Vermelha, em Moscovo, onde milhares de pessoas se juntam para celebrar a passagem de ano foram colocados detectores antimetais nas várias entradas e há um reforço do número de agentes destacados. Em São Petersburgo, as autoridades locais decidiram cancelar o fogo de artifício e por todo o país foram reforçadas as patrulhas, incluindo com cães farejadores e outros meios de detecção de explosivos.

Em Volgogrado, colocada em estado de alerta até 3 de Janeiro, foram cancelados todos os festejos oficiais por decisão do Comité Antiterrorista e o governo regional pediu aos habitantes que não celebrem a chegada do ano com fogo-de-artifício. Nos hospitais da cidade continuam internados cerca de 60 feridos dos atentados dos últimos dois dias e esta terça-feira decorrem os primeiros funerais das vítimas — o último balanço do Ministério da Saúde revela que 18 pessoas morreram no atentado suicida na central de comboios e 16 no que, menos de 24 horas depois, destruiu um autocarro no centro da cidade.  

Cidadãos do Cáucaso na mira da polícia
Cerca de 5200 polícias e agentes do Ministério do Interior foram mobilizados para a operação antiterrorista “Tornado” em curso na cidade e que envolve buscas e controlos mais apertados nas ruas e locais mais frequentados. As autoridades revelaram que 87 pessoas foram detidas, alegadamente por se recusarem a fornecer documentos de identificação ou resistência à polícia. Foram apreendidas armas, mas não há indícios de que entre os detidos haja suspeitos de envolvimento nos atentados. A televisão estatal mostrou imagens de vários homens encostados a uma parede após a detenção.

A agência Itar-Tass noticiou que a polícia está a centrar atenções nas pessoas oriundas do Cáucaso do Norte, conjunto de repúblicas autónomas onde a guerrilha separatista da Tchetchénia deu lugar na última década a grupos jihadistas que usam o terror como arma para instaurar um Estado islâmico na região, muitos deles activos na vizinha república do Daguestão.

Após os atentados, os habitantes de Volgogrado apontaram o dedo aos migrantes oriundos daquela região, situada a cerca de 700 quilómetros da cidade. As organizações de defesa dos direitos humanos temem que para garantir a segurança dos Jogos Olímpicos de Inverno, que começam a 7 de Fevereiro na estância de Sochi, na costa do Mar Negro, as autoridades lancem uma campanha contra a minoria étnica oriunda da região e contra os imigrantes vindos das antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central.  

Ainda ninguém reivindicou os atentados, mas as suspeitas recaem sobre o grupo radical liderado pelo antigo guerrilheiro tchetcheno Doku Umarov, responsável pela maioria dos principais atentados ocorridos na última década em solo russo. O autoproclamado emir do Cáucaso lançou em Julho um apelo aos jihadistas para que usassem a máxima força para impedir a realização dos Jogos de Sochi. A agência Interfax, citando forças da segurança russas, adiantou que o bombista que se fez explodir domingo na estação de comboio de Volgogrado seria um russo de etnia eslava recentemente convertido ao islão e que se juntou aos jihadistas no Daguestão em 2012.