Do histórico acordo com o Irão à instabilidade no Egipto

Balanço de 2013 sobre o Médio Oriente.

A boa notícia Acordo nuclear

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A boa notícia Acordo nuclear


Foi a vitória da diplomacia numa região onde ela já há muito não dava frutos. Conseguido em Novembro, o acordo preliminar que suspende os aspectos mais polémicos do programa nuclear iraniano começou a desenhar-se em Junho, com a eleição de Hassan Rohani, um moderado que foi negociador nuclear e chegou à presidência com a promessa de aliviar o isolamento a que as sanções e retórica do antecessor votaram o Irão. Em Setembro, foi à ONU reafirmar o seu empenho num acordo e falou ao telefone com o Presidente dos EUA, Barack Obama, abrindo caminho ao degelo das relações entre os dois países, há 34 anos de costas voltadas. Há agora seis meses para chegar a um acordo definitivo – um que elimine as sanções e impeça o Irão de obter armas nucleares. Os obstáculos são grandes, os inimigos muitos, mas a concretizar-se a face do Médio Oriente pode mudar.

A má notícia O Egipto, agora sem Mubarak

Perto do terceiro aniversário das revoltas árabes, já não restam dúvidas: no Egipto, maior nação árabe, sede da Al-Azhar, a principal instituição do islão sunita, está-se de volta ao ponto de partida, agora sem Hosni Mubarak. No fundo, era isso que os generais tinham em mente quando deixaram cair o ditador. Os manifestantes ainda conseguiram obrigá-los a largar o poder – e morreram a fazê-lo. Depois, vieram as eleições e a Irmandade Muçulmana venceu. A seguir, os jovens revolucionários perderam a paciência com o Presidente islamista, Mohamed Morsi, e encheram de novo a Tahrir. Os generais aproveitaram, derrubaram e prenderam Morsi, chamaram terrorista à Irmandade e ilegalizaram o movimento. De caminho, também já prendem activistas que estiveram nas ruas contra Morsi, os mesmos que alimentaram a contestação a Mubarak. A 25 de Janeiro, a Tahrir vai voltar a estar cheia.

A figura ACNUR


É uma crise épica, das que batem recordes, das que por mais que se preparem nunca se podem realmente preparar. Pelo menos sete milhões de sírios, um terço dos que viviam na Síria em 2011, abandonaram as suas casas, fugiram para não morrer e para ter o que comer, para porem os filhos em segurança, para os poderem levar à escola e ao médico.

Destes, mais de dois milhões saltaram a fronteira e um milhão são crianças, 750 mil com menos de 11 anos. Se depender de António Guterres, chamaremos aos sete milhões refugiados – a palavra deslocados, usada para quem fica dentro do seu país, faz parecer que a vida é mais fácil; não é, diz o líder do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, a organização que tenta cuidar de toda esta gente.

“É uma vergonha para todos nós", disseram Guterres e o director da UNICEF, Anthony Lake, num comunicado a anunciarem “a milionésima criança” refugiada. "Devíamos parar e perguntar-nos como podemos continuar a falhar às crianças da Síria."

A velocidade da fuga alucina: em Janeiro, a ONU contava 600 mil refugiados e estimava que dois milhões tivessem deixado as suas casas dentro da Síria; em Agosto, já eram dois milhões os que estavam fora do país e 4,25 os que se tinham refugiado noutras zonas da Síria. Os países vizinhos estão a rebentar. No Líbano, há mais crianças sírias do que libanesas nas escolas. Na Jordânia, as incubadoras estão cheias de bebés sírios. Na Turquia, há tensões em muitas cidades do Sul. Os sírios também já morrem a chegar à Europa e cada vez são mais os que o tentam fazer. À Europa, que muito pouco tem feito por eles – com excepção da Suíça e da Alemanha, os países mais disponíveis para acolher os refugiados desta guerra.

A Síria que era já não volta a ser, também por isto. E o Médio Oriente muda todos os dias, também por isto.

Agenda 2014

14-15 Janeiro – O referendo à nova Constituição do Egipto é a primeira etapa e, segundo o Governo interino, a base da “transição para a democracia”. Mas a repressão da Irmandade Muçulmana e a detenção dos que estiveram na frente da revolução de 2011 mostram que os planos do Exército egípcio vão em sentido contrário.

22 de Janeiro – Adiada há meses e ainda sem lista final de participantes, a conferência internacional sobre a Síria é o único sinal de esperança no horizonte da guerra civil. O acordo para a destruição das armas químicas mostrou que não há impossíveis, mas a paz entre Bashar al-Assad e os rebeldes nunca pareceu tão difícil.

Abril – A grande questão nas presidenciais argelinas, ainda sem data, é saber se Abdelaziz Bouteflika se candidata a um quarto mandato. “A nossa geração está acabada”, disse em Abril, mas os seus apoiantes sugerem alterações à Constituição para criar o cargo de vice-presidente, o que tornaria menos preocupantes os 76 anos ou a frágil saúde do Presidente.

Dezembro – A saída das tropas da NATO não é o fim da guerra, nem deverá ser sequer o fim da presença militar estrangeira no Afeganistão. Mas terminam 13 anos de uma intervenção que mudou várias vezes de objectivo e deixou baixas pesadas de todos os lados. A estabilidade do país dependerá das presidenciais, marcadas para Abril, e de eventuais negociações com os taliban.