Comunidade internacional procura solução política para travar a guerra no Sudão do Sul

Governantes da Etiópia e do Quénia encontraram-se com Presidente do Sudão do Sul. UE e China vão enviar representantes para assegurar diálogo

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O Presidente do Sudão do Sul, ao meio, entre os seus homólogos etíope (esquerda) e queniano (direita). PSCU/HO/AFP

Há quase duas semanas que o espectro de uma guerra civil paira sobre o Sudão do Sul, um país com pouco mais de dez milhões de habitantes. Os confrontos começaram depois de Salva Kiir ter revelado que o ex-vice-presidente, Riek Machar, tinha tentado organizar um golpe de Estado. Machar recusou qualquer responsabilidade, acusando Kiir de o querer afastar das próximas eleições em 2015.

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Há quase duas semanas que o espectro de uma guerra civil paira sobre o Sudão do Sul, um país com pouco mais de dez milhões de habitantes. Os confrontos começaram depois de Salva Kiir ter revelado que o ex-vice-presidente, Riek Machar, tinha tentado organizar um golpe de Estado. Machar recusou qualquer responsabilidade, acusando Kiir de o querer afastar das próximas eleições em 2015.

Desde então, as fortes divisões étnicas vieram ao de cima e os episódios de violência sucedem-se. Kiir e Machar são originários das duas tribos mais representativas do Sudão do Sul, os dinka (15%) e os nuer (5%), respectivamente. Os combates estenderam-se a metade dos dez estados do país, de acordo com a BBC, e estima-se que milhares de pessoas tenham morrido. Mais de 92 mil pessoas fugiram das suas casas e 58 mil encontraram refúgio nas várias instalações das Nações Unidas. No entanto, nem mesmo as bases da ONU podem constituir um lugar seguro neste momento, depois de na semana passada um pequeno posto em Akobo ter sido alvo de um ataque que vitimou dois capacetes azuis.

Aquilo que começou como uma jogada de poder entre a classe política do país está a assumir contornos de conflito étnico, como alertam vários responsáveis. Há relatos de pessoas mandadas parar nas ruas para serem questionadas quanto à sua origem e executadas, caso pertençam a um grupo diferente.

O Conselho de Segurança da ONU autorizou, na terça-feira, o envio de um contingente de 6 mil capacetes azuis para o Sudão do Sul, seguindo recomendações directas do secretário-geral, Ban Ki-moon.

O Sudão do Sul conseguiu tornar-se independente em 2011, depois de décadas em guerra com o Sudão. A independência não trouxe a paz e a iminência de uma guerra civil, tão pouco tempo depois, tem preocupado a comunidade internacional, sobretudo os EUA e a União Europeia (UE), os aliados mais entusiastas da causa sul-sudanesa.

O difícil acordo político
O encontro de ontem surge depois de uma primeira ronda de conversações na semana passada, que juntou líderes de vários países da região, mas que conheceu poucos progressos. Para além da Etiópia e do Quénia, também a UE pretende mediar as conversações no país. A alta-representante para os Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, anunciou na quarta-feira que o representante especial Alex Rondos irá deslocar-se ao Sudão do Sul. No mesmo dia, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, revelou que Pequim também vai enviar “em breve” um representante para acelerar as negociações de paz, segundo a Reuters.

A preocupação da China está relacionada com os interesses económicos presentes no Sudão do Sul, sobretudo na área da exploração petrolífera. A empresa estatal China National Petroleum Corporation (CNPC) é a maior investidora nas reservas petrolíferas do país africano, cujo orçamento depende em 98% das exportações de petróleo. Na semana passada, um ataque a um dos campos explorados pela CNPC obrigou a empresa a evacuar vários trabalhadores do país. Os ataques aos campos petrolíferos podem desencadear um novo foco de conflito, desta vez da parte do Sudão, país por onde passa um dos mais importantes oleodutos da região e que depende da exploração das reservas do Sudão do Sul.

Durante uma missa de Natal na capital, Juba, Salva Kiir apelou ao fim dos confrontos no país. “As lutas tribais não nos vão levar a lado nenhum”, afirmou o Presidente. “Somos mais de 60 tribos no Sudão do Sul, uma tribo não pode ser o Governo”, acrescentou, citado pelo Wall Street Journal.

À medida que os combates prosseguem, sobretudo no Norte, perto da conturbada fronteira com o Sudão – onde também se localizam as mais importantes reservas de petróleo –, a esperança de um acordo político diminui. Riek Machar afirmou ontem, em entrevista ao jornal independente Sudan Tribune, estar disponível para se encontrar com Salva Kiir. No entanto, o ex-vice-presidente reivindica a libertação de alguns presos, algo a que Kiir se opõe.

O aviso de Adama Dieng, conselheiro especial da ONU para a prevenção de genocídios, em entrevista à rádio francesa RF1, não podia ser mais claro: “[Caso o acordo entre Kiir e Machar não seja alcançado], não excluo que poderemos assistir ao extermínio de uma etnia pela outra.”