Carlos César posiciona-se nos Açores como reserva da República
A presidência da Assembleia da República poderá estar nos horizontes de Carlos César.
Em pontuais mas programadas prestações públicas, através de entrevistas e conferências, César mostra não pretender desligar-se definitivamente da política activa. E que, sobretudo, tem projectos e ideias claras para a República, alicerçados na experiência de 32 anos como titular de um cargo político, 16 dos quais como deputado, incluindo mais de um ano na Assembleia da República (AR), e 16 anos como presidente do executivo.
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Em pontuais mas programadas prestações públicas, através de entrevistas e conferências, César mostra não pretender desligar-se definitivamente da política activa. E que, sobretudo, tem projectos e ideias claras para a República, alicerçados na experiência de 32 anos como titular de um cargo político, 16 dos quais como deputado, incluindo mais de um ano na Assembleia da República (AR), e 16 anos como presidente do executivo.
Actualmente com o estatuto de presidente honorário do PS nos Açores, um cargo de patriarca criado no congresso que consagrou Vasco Cordeiro como seu sucessor na liderança, César deverá encabeçar a próxima candidatura dos socialistas açorianos à AR, em vez de se refugiar na prateleira dourado do Parlamento Europeu. Em Lisboa, ficaria mais próximo do seu aliado António Costa e do criticado António José Seguro, cada um com planos próprios que podem passar por Belém e por São Bento.
Depois de ter conduzido com êxito todo o processo de sucessão nos Açores, Carlos César, ao contrário de Mota Amaral (a cujo afastamento se seguiu um conturbado e longo período de oposição para o PSD), tem fortes motivos para aspirar a uma posição de destaque na vida nacional. E, pela capacidade de diálogo e experiência política, para assumir um papel decisivo na formação de um novo bloco central que preconiza como saída para a actual crise.
Em ruptura com o PCP que “apenas pretende uma negação constante”, o líder açoriano declarou, em entrevista à TVI, que “o PSD, tal como hoje é dirigido e com a orientação que tem, não é compatível com o PS no Governo”. Mas o PSD, “na esteira dos seus fundadores, na aproximação às suas origens social-democratas, é um partido que pode com o PS construir uma alternativa muito forte, muito vigorosa e muito mobilizadora dos portugueses”, frisou.
Reforço do poder socialista
O reforço do poder socialista nas autárquicas dos Açores, ao ganhar 13 das 19 câmaras e remetendo o PSD para o pior resultado de sempre na região com apenas quatro municípios, foi também em parte uma vitória de César, atendendo à forma como se envolveu na campanha eleitoral. O “desastroso” resultado dos sociais-democratas reflecte não só a incapacidade do partido em se relacionar com os açorianos, mas também premeia a mudança consistente, nalguns casso pouco pacífica, que o ex-líder conduziu ao deixar como novo inquilino do Palácio de Sant´Ana o seu delfim predilecto.
Com maioria absoluta no parlamento regional e o domínio do poder local, Vasco Cordeiro está a prosseguir as políticas implementadas pelo seu antecessor, mas com mudanças e mais jovens protagonistas que trouxeram novo sangue, novas ideias e propostas à governação. Dando continuidadeà política de estabilidade das finanças públicas regionais, num quadro de equilíbrio que tem assegurado a sustentabilidade da região, pesem os constrangimentos que afectam o arquipélago com nove ilhas.
César pode ainda evocar a favor de voos nacionais, ter deixado como herança as contas públicas regionais equilibradas que, ao contrário da Madeira, não obrigaram os açorianos a submeterem-se a um plano de resgate, com perda de benesses sociais para compensar a austeridade nacional, e do diferencial fiscal para atenuar os custos da insularidade. Também isso dá-lhe legitimidade para não ficar confinado aos Açores, como Jardim está refém da ilha que cercou pelo mar revolto de suas próprias tormentas.