Ministério Público vai receber resultados das peritagens ao barco naufragado na Caparica

Se os pescadores tivessem usado coletes teriam sobrevivido, acredita comandante do Porto de Lisboa.

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Barco de recreio era do irmão do único sobrevivente, o condutor Enric Vives-Rubio

“As averiguações ainda estão em fase de conclusão e, como é habitual sempre que há acidentes com mortos, o processo é enviado depois para o Ministério Público”, diz o comandante Vieitas Ruivo, da Capitania do Porto de Lisboa. Caberá a esta instituição decidir se abre um inquérito ao acidente.

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“As averiguações ainda estão em fase de conclusão e, como é habitual sempre que há acidentes com mortos, o processo é enviado depois para o Ministério Público”, diz o comandante Vieitas Ruivo, da Capitania do Porto de Lisboa. Caberá a esta instituição decidir se abre um inquérito ao acidente.

O Cochicho, uma embarcação em fibra de vidro registada em Peniche, com cerca de sete metros de comprimento e uma cabina, foi rebocado no domingo à tarde do paredão junto à praia do Dragão Vermelho, para onde foi levado com o auxílio de um tractor após embater no molhe. Estava já sem a cabine, que se terá soltado no embate, mas lá dentro estavam ainda os coletes salva-vidas, que nenhum dos sete pescadores a bordo usava no momento em que o barco se virou.

O uso destes coletes não é obrigatório quando a embarcação está em trânsito, como era o caso do Cochicho. Os sete amigos, que costumavam sair aos fins-de-semana para pescar, estavam já a regressar ao porto de Santo Amaro, em Alcântara (Lisboa), quando ocorreu o acidente, perto das 19h, depois de um dia inteiro a pescar ao largo do Cabo Espichel, a ocidente de Sesimbra.

Como descreveu ao PÚBLICO, no domingo, o irmão do único sobrevivente do naufrágio – o condutor do barco, Mitchell Almeida, um luso-canadiano de 37 anos – o mar “não estava especialmente perigoso”. Mas “de repente apareceu uma onda” e “não houve tempo para nada”, disse Danny Almeida, citando o irmão, que esteve internado no hospital Garcia de Orta com hipotermia, tendo regressado a casa no domingo de manhã.

Aproximação "imprudente"
O barco virou a cerca de 500 metros da costa, em frente à praia do CDS. Apenas Mitchell Almeida conseguiu chegar a terra com vida, apoiado numa bóia, depois de nadar cerca de uma hora na zona da rebentação. Com ele, seguia outro pescador que chegou à praia em paragem cardiorrespiratória. O óbito foi declarado no local. Os corpos dos outros cinco homens, com idades entre os 40 e os 70 anos, deram à costa na praia Nova, a seguir à praia do Dragão Vermelho, semi-despidos. As equipas de socorro ainda tentaram reanimar três vítimas, mas sem sucesso.

“A aproximação do barco à costa foi imprudente”, considera o comandante Vieitas Ruivo, recordando que o mar estava muito agitado naquela noite. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera tinha accionado o aviso amarelo para aquela zona devido à forte ondulação. “Naquela zona, o mar é muito batido não só junto à praia mas também a cerca de 500 metros da costa”, afirma.

O comandante acredita que se os pescadores tivessem o colete salva-vidas vestido poderiam ter saído com vida do mar. “Tudo indica que à distância a que eles estavam e apesar de a temperatura da água estar baixa, se tivessem os coletes vestidos seriam muito maiores as probabilidades de sobreviverem”, garante Vieitas Ruivo. Até porque, sublinha, com a chegada do helicóptero da Força Aérea logo depois de ter sido dado o alerta, cerca das 19h30, os cinco pescadores que ficaram agarrados ao barco enquanto este ia sendo puxado para sul poderiam ter sido resgatados a tempo.

“A aproximação a terra, a navegar numa zona de rebentação, à noite, são factores que aconselham o uso do colete, mesmo não sendo obrigatório naquela situação”, diz Vieitas Ruivo, que repete o apelo feito de cada vez que ocorrem tragédias como esta. Só este ano, a imprensa noticiou a morte de pelo menos nove pessoas em seis naufrágios, em Portugal continental e nos Açores