John Fahey
Não há muitos guitarristas que tenham inventado uma forma de tocar guitarra. John Fahey (1939-2001) fê-lo, cruzando formas dos blues, da folk e da country com estruturas da música clássica. No seu fingerpicking, esculpiu pessoalíssimas visões da música de guitarras, capaz de construir pontes entre a América profunda e a longínqua Índia.
A sua carreira oscilou entre momentos de algum reconhecimento e outros em que o seu génio esteve quase votado ao esquecimento colectivo. Nos momentos comercialmente felizes está The New Possibility: John Fahey’s Guitar Soli Christmas Album (1968), que terá vendido mais de 100 mil cópias — um recorde para Fahey. Talvez por isso, em 1975, 1982 e 1983, o norte-americano tenha feito outros discos dedicados à quadra. Christmas Soli, oportunamente lançado nesta época pela Fantasy, reúne peças desta vertente da carreira do guitarrista. Temas tradicionais famosos, como Joy to the world e Santa Claus is coming to town, que ouvimos em todo o lado, dos centros comerciais às ruas das cidades, ganham uma nova beleza na guitarra acústica de Fahey. Há uma pureza na forma como ele tocava que o distingue de outros guitarristas, uma pureza que assenta bem a estes temas. Em Oh, Tannenbaum, parte de um dos três medleys natalícios registados neste disco, a guitarra de Fahey parece desdobrar-se e cantar, em coro.
É um Fahey pausado aquele que encontramos aqui, um guitarrista que respeita a qualidade de balada ou de hino religioso dos tradicionais que interpreta, mas que os torna seus. Silent night, holy night é disso exemplo: movida a slide guitar, algures entre a preguiça e a melancolia, o standard vira Fahey clássico. Carol of the bells, canção ucraniana do século XIX, surge num dueto com Richard Ruskin, artista da Takoma (editora que Fahey fundou). Nas mãos de Fahey e Ruskin, torna-se coisa aérea, solene, plena de harmónicos e reverberações. “Espero que gostem dos meus arranjos — não são progressivos; ‘diferentes’ é a palavra”, escreveu Fahey no livreto deThe New Possibility. O toque de Fahey honra a tradição, mas sente-se: isto não é uma genérica compilação natalícia.
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Não há muitos guitarristas que tenham inventado uma forma de tocar guitarra. John Fahey (1939-2001) fê-lo, cruzando formas dos blues, da folk e da country com estruturas da música clássica. No seu fingerpicking, esculpiu pessoalíssimas visões da música de guitarras, capaz de construir pontes entre a América profunda e a longínqua Índia.
A sua carreira oscilou entre momentos de algum reconhecimento e outros em que o seu génio esteve quase votado ao esquecimento colectivo. Nos momentos comercialmente felizes está The New Possibility: John Fahey’s Guitar Soli Christmas Album (1968), que terá vendido mais de 100 mil cópias — um recorde para Fahey. Talvez por isso, em 1975, 1982 e 1983, o norte-americano tenha feito outros discos dedicados à quadra. Christmas Soli, oportunamente lançado nesta época pela Fantasy, reúne peças desta vertente da carreira do guitarrista. Temas tradicionais famosos, como Joy to the world e Santa Claus is coming to town, que ouvimos em todo o lado, dos centros comerciais às ruas das cidades, ganham uma nova beleza na guitarra acústica de Fahey. Há uma pureza na forma como ele tocava que o distingue de outros guitarristas, uma pureza que assenta bem a estes temas. Em Oh, Tannenbaum, parte de um dos três medleys natalícios registados neste disco, a guitarra de Fahey parece desdobrar-se e cantar, em coro.
É um Fahey pausado aquele que encontramos aqui, um guitarrista que respeita a qualidade de balada ou de hino religioso dos tradicionais que interpreta, mas que os torna seus. Silent night, holy night é disso exemplo: movida a slide guitar, algures entre a preguiça e a melancolia, o standard vira Fahey clássico. Carol of the bells, canção ucraniana do século XIX, surge num dueto com Richard Ruskin, artista da Takoma (editora que Fahey fundou). Nas mãos de Fahey e Ruskin, torna-se coisa aérea, solene, plena de harmónicos e reverberações. “Espero que gostem dos meus arranjos — não são progressivos; ‘diferentes’ é a palavra”, escreveu Fahey no livreto deThe New Possibility. O toque de Fahey honra a tradição, mas sente-se: isto não é uma genérica compilação natalícia.