Beleza escaqueirada
Aquilo que acontecia no disco de estreia dos Dead Combo é precisamente o oposto do que se passa nos 53 minutos da primeira partilha do trio que assina Timespine. Aquilo que se ouvia naquela música de Morricone de Alfama, entre a aridez solitária da paisagem norte-americana e as ruas de empedrados cuspidos dos bairros populares lisboetas, era já uma linguagem de tal forma acabada, perfeita e original que a identidade do duo de Tó Trips e Pedro Gonçalves parecia nascida, assim mesmo, de um choque frontal entre os dois, numa súbita eclosão espontânea sem necessidade de retoques. Em Timespine, trio acidental em que o dobro de Tó Trips aparece ao lado do baixo de John Klime (remotamente ligado à fundação dos Presidents of the USA) e do zither de Adriana Sá (vinda das artes visuais), o apelo é o da procura de uma linguagem que, qual Godot, nunca aparece.
E isso porque Timespine vive precisamente de um não-lugar. Soa como se o dobro de Tó Trips, espécie de guitarra de som mais metálico e popular entre os praticantes de folk, bluegrass, blues e jazz, tivesse sido acometido por uma inesperada amnésia em que perdeu irremediavelmente todas as bases para se enquadrar nesses géneros. Assim, Tó Trips passa o disco numa tentativa falhada de recondução a esses trilhos, enquanto os outros dois apenas lhe atiram areia para os olhos e o despistam: por um lado, Klime fornece bases mais sólidas, circulares, reconhecíveis; por outro, Sá infecta tudo com uma aparente aleatoriedade. Um fornece segurança, o outro retira-a.
O resultado é de uma beleza escaqueirada, fruto de uma viagem de desorientação, em que, felizmente, nunca o carácter de improvisação consegue tomar uma forma definitiva, numa constante negação do local onde se encontra. Como se o objectivo fosse a frustração, a desolação. O que, no entanto, resulta de uma fragilidade e uma vulnerabilidade tocantes.
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Aquilo que acontecia no disco de estreia dos Dead Combo é precisamente o oposto do que se passa nos 53 minutos da primeira partilha do trio que assina Timespine. Aquilo que se ouvia naquela música de Morricone de Alfama, entre a aridez solitária da paisagem norte-americana e as ruas de empedrados cuspidos dos bairros populares lisboetas, era já uma linguagem de tal forma acabada, perfeita e original que a identidade do duo de Tó Trips e Pedro Gonçalves parecia nascida, assim mesmo, de um choque frontal entre os dois, numa súbita eclosão espontânea sem necessidade de retoques. Em Timespine, trio acidental em que o dobro de Tó Trips aparece ao lado do baixo de John Klime (remotamente ligado à fundação dos Presidents of the USA) e do zither de Adriana Sá (vinda das artes visuais), o apelo é o da procura de uma linguagem que, qual Godot, nunca aparece.
E isso porque Timespine vive precisamente de um não-lugar. Soa como se o dobro de Tó Trips, espécie de guitarra de som mais metálico e popular entre os praticantes de folk, bluegrass, blues e jazz, tivesse sido acometido por uma inesperada amnésia em que perdeu irremediavelmente todas as bases para se enquadrar nesses géneros. Assim, Tó Trips passa o disco numa tentativa falhada de recondução a esses trilhos, enquanto os outros dois apenas lhe atiram areia para os olhos e o despistam: por um lado, Klime fornece bases mais sólidas, circulares, reconhecíveis; por outro, Sá infecta tudo com uma aparente aleatoriedade. Um fornece segurança, o outro retira-a.
O resultado é de uma beleza escaqueirada, fruto de uma viagem de desorientação, em que, felizmente, nunca o carácter de improvisação consegue tomar uma forma definitiva, numa constante negação do local onde se encontra. Como se o objectivo fosse a frustração, a desolação. O que, no entanto, resulta de uma fragilidade e uma vulnerabilidade tocantes.