A ressurreição de Snoop
Conheceram-se numa galeria de arte, algures em 2010. Dâm-Funk devia limitar-se a pôr discos naquele evento. Mas Snoop Dogg estava lá e aconteceu magia entre os dois: a estrela global do hip-hop, que nos últimos tempos deu que falar pela surpreendente “reencarnação” reggae em Snoop Lion (algo de que a história do género não rezará), juntava-se em palco à referência underground no que toca à reactualização do património do funk.
Foi a semente de uma colaboração que se tornou real no último Verão, quando Dâm-Funk e Snoop se juntaram em estúdio. Não demoraram muito a inventar estes 7 Days of Funk e o álbum com o mesmo nome. Bendita a hora em que se juntaram: estamos perante um casamento perfeito, uma união que, vista hoje, parecia estar escrita nas estrelas. Afinal, Dâm-Funk não tem feito outra coisa que não explorar um filão musical que inspirou alguns dos melhores momentos da carreira de Snoop, como Doggystyle — uma linha que vai do funk de sintetizadores dos Zapp ao p-funk de George Clinton.
7 Days of Funk é um disco sem palha, que vai directo ao ouro. Em Faden away, a voz de Snoop é manipulada e dilui-se nas melodias múltiplas que Dâm-Funk dispara dos seus sintetizadores. Hit da pavement, com cameo da lenda Bootsy Collins (Parliament-Funkadelic, George Clinton), faz-se de batida quadrada, viciante, e sintetizadores cintilantes a flutuar. Snoop, esse, esbanja classe — foi feito para esta música (já não soava tão bem desde Sexual Eruption, de 2007). Let it go mantém a onda relaxada, mas junta-lhe libertação psicadélica.
7 Days of Funk não sai deste registo (linhas de baixo sintetizadas, sintetizadores a exalarem sensualidade enfumarada), o que torna sensata a opção de o limitar a 34 minutos, mas nestas balizas estéticas há lugar para muito. Em 1Question?, destaca-se o canto elástico de Steve Arrington, astro funk com a qual Dâm-Funk lançou, há meses, um disco. Em Do my thang, a batida hip-hop primitiva é a base sobre a qual há sintetizadores planantes e a métrica imaculada de Snoop, que, neste álbum, canta mais do que “rappa” (os convidados Kurupt e Tha Dogg Pound fazem-no em dois temas).
Depois de David Carreira e outros tiros no pé, 7 Days of Funk lembra que Snoop é um gigante — contraditório, excêntrico, capaz do pior e do melhor, mas um gigante. Lembra ainda que o funk, todo o funk, mesmo o dos anos 80, desprezado por muitos, é um património a recuperar e actualizar, não apenas através de samplespara canções hip-hop. Obrigado, Dâm-Funk.
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Conheceram-se numa galeria de arte, algures em 2010. Dâm-Funk devia limitar-se a pôr discos naquele evento. Mas Snoop Dogg estava lá e aconteceu magia entre os dois: a estrela global do hip-hop, que nos últimos tempos deu que falar pela surpreendente “reencarnação” reggae em Snoop Lion (algo de que a história do género não rezará), juntava-se em palco à referência underground no que toca à reactualização do património do funk.
Foi a semente de uma colaboração que se tornou real no último Verão, quando Dâm-Funk e Snoop se juntaram em estúdio. Não demoraram muito a inventar estes 7 Days of Funk e o álbum com o mesmo nome. Bendita a hora em que se juntaram: estamos perante um casamento perfeito, uma união que, vista hoje, parecia estar escrita nas estrelas. Afinal, Dâm-Funk não tem feito outra coisa que não explorar um filão musical que inspirou alguns dos melhores momentos da carreira de Snoop, como Doggystyle — uma linha que vai do funk de sintetizadores dos Zapp ao p-funk de George Clinton.
7 Days of Funk é um disco sem palha, que vai directo ao ouro. Em Faden away, a voz de Snoop é manipulada e dilui-se nas melodias múltiplas que Dâm-Funk dispara dos seus sintetizadores. Hit da pavement, com cameo da lenda Bootsy Collins (Parliament-Funkadelic, George Clinton), faz-se de batida quadrada, viciante, e sintetizadores cintilantes a flutuar. Snoop, esse, esbanja classe — foi feito para esta música (já não soava tão bem desde Sexual Eruption, de 2007). Let it go mantém a onda relaxada, mas junta-lhe libertação psicadélica.
7 Days of Funk não sai deste registo (linhas de baixo sintetizadas, sintetizadores a exalarem sensualidade enfumarada), o que torna sensata a opção de o limitar a 34 minutos, mas nestas balizas estéticas há lugar para muito. Em 1Question?, destaca-se o canto elástico de Steve Arrington, astro funk com a qual Dâm-Funk lançou, há meses, um disco. Em Do my thang, a batida hip-hop primitiva é a base sobre a qual há sintetizadores planantes e a métrica imaculada de Snoop, que, neste álbum, canta mais do que “rappa” (os convidados Kurupt e Tha Dogg Pound fazem-no em dois temas).
Depois de David Carreira e outros tiros no pé, 7 Days of Funk lembra que Snoop é um gigante — contraditório, excêntrico, capaz do pior e do melhor, mas um gigante. Lembra ainda que o funk, todo o funk, mesmo o dos anos 80, desprezado por muitos, é um património a recuperar e actualizar, não apenas através de samplespara canções hip-hop. Obrigado, Dâm-Funk.