Professores de Matemática dizem que prova não era difícil, os de Português não se pronunciam
Em termos matemáticos, a prova não envolve “conhecimentos muito difíceis”, só que são questões que “exigem algum treino”, ou seja, um professor de Matemática não teria dificuldade em realizá-la, já outro docente de qualquer outra disciplina que não tenha por hábito comprar revistas com problemas de lógica teria mais dificuldade. A análise é de Ana Vieira Lopes, vice-presidente da APM.
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Em termos matemáticos, a prova não envolve “conhecimentos muito difíceis”, só que são questões que “exigem algum treino”, ou seja, um professor de Matemática não teria dificuldade em realizá-la, já outro docente de qualquer outra disciplina que não tenha por hábito comprar revistas com problemas de lógica teria mais dificuldade. A análise é de Ana Vieira Lopes, vice-presidente da APM.
A prova, com duas versões mas com as mesmas perguntas, tinha 16 páginas e 33 grupos para testar os conhecimentos dos professores, a maioria das perguntas era de resposta múltipla e era de lógica e de raciocínio matemático e de língua portuguesa. Apenas uma questão era de desenvolvimento, a última.
“A escola de hoje é infinitamente melhor do que a escola de ontem. É mais aberta, mais inteligente, mais sensível à diferença. Mas não chega.” A frase é de António Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa e investigador na área da educação, e aos professores foi pedido que escrevessem um texto de opinião sobre a perspectiva expressa pelo autor.
Os professores deveriam escrever um mínimo de 250 e um máximo de 350 palavras e seriam penalizados se fizessem mais de seis erros de sintaxe; mais de dez erros inequívocos de pontuação; e mais de dez erros de ortografia ou de morfologia. Contactado pelo PÚBLICO, Nóvoa não se quis pronunciar sobre o conteúdo da prova ou sobre o teste propriamente dito.
Esta é uma prova de “capacidades mínimas”, definiu o ministro Nuno Crato em entrevista à RTP, ontem à noite. Nela exigia-se aos professores “conhecimentos transversais”, acrescentou. Depois desta, os candidatos ao ensino farão uma prova específica para as disciplinas que queiram leccionar, acontecerá no primeiro trimestre do próximo ano. Nenhum destes exames avalia as competências pedagógicas, reconhece o ministro.
Voltando à matemática, o tipo de questões é contrária ao que os novos programas da disciplina prevêem, avalia Ana Vieira Lopes. “A tendência dos programas não é trabalhar em contexto”, nota. E os problemas colocados prevêem que os professores interpretem, façam esquemas, organizem dados e trabalhem em contexto. A professora dá um exemplo concreto de uma questão sobre transportes públicos numa cidade próxima do litoral que exige trabalhar com múltiplos, mas, diz, não basta sabê-los, é preciso trabalhar em contexto.
“Não percebo como é que respondendo a esta prova se garante que os professores são bons”, interroga-se Ana Vieira Lopes, que apelida a prova de “aberração”. Apesar de ser preciso interpretar bastante e de haver uma componente escrita, a professora considera que está adequada aos 120 minutos previstos para a sua realização.
Quanto às perguntas de Língua Portuguesa, o PÚBLICO contactou Edviges Ferreira, presidente da Associação de Professores de Português, que não se mostrou disponível para comentar a prova.
A Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação, que reúne a maior parte das escolas superiores de educação públicas, pronunciou-se em relação ao modelo da prova e defende que esta “em nada contribui para a avaliação da qualidade do desempenho docente” e lembra que não é possível avaliar “a complexidade da actividade” dos professores através de uma prova que “se reduz a aferir aspectos parcelares e básicos de interpretação, de escrita e de raciocínio lógico”.