Prova de avaliação de professores não se realizou em várias escolas, diz Fenprof

Protestos, boicotes e lágrimas no dia em que docentes contratados com menos de cinco anos de serviço foram avaliados. Fenprof pede anulação do exame. Ministério vai marcar nova data para quem não pôde fazer prova. Polícia de choque chamada em Almada.

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Num primeiro balanço, o secretário-geral da Fenprof disse que há várias escolas no país onde a prova de avaliação de conhecimentos para professores contratados não foi realizada, devido à greve dos docentes vigilantes.

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Num primeiro balanço, o secretário-geral da Fenprof disse que há várias escolas no país onde a prova de avaliação de conhecimentos para professores contratados não foi realizada, devido à greve dos docentes vigilantes.

A adesão à greve dos vigilantes “está a ser extraordinária”, sendo "superior a 95%", e já fez com que escolas em Lisboa, Viseu, Faro, Setúbal, Évora, Barreiro, Almada, Guarda, Vila Real, Guimarães e Braga não realizassem a prova, disse o líder sindical aos jornalistas, em frente à Escola Preparatória Marquesa de Alorna, em Lisboa.

Mário Nogueira argumentou que, “com esta situação, a prova está ferida de morte” e que, “politicamente, o ministro [da Educação] vai morrer com ela”, exigindo que o exame seja anulado.

A não realização de provas em algumas escolas é uma situação semelhante à que se viveu a 17 de Junho, devido à greve dos professores, quando milhares de alunos não puderam realizar o exame nacional de Português. Viriam a fazê-lo noutra data (a 2 de Julho).

O Ministério da Educação já anunciou que em breve será conhecida uma nova data para os professores que não conseguiram realizar a prova esta manhã, disse João Grancho, secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário. Do lado de fora do edifício do ministério, cerca de 30 professores concentraram-se e tentaram entrar nas instalações.

Protestos, invasões de salas e polícia de choque
Em Lisboa, no Liceu Padre António Vieira, alguns manifestantes forçaram a entrada na escola e tentaram impedir a realização do exame, gritando “não há prova”. A polícia fechou os portões da escola, mas lá dentro registaram-se mesmo protestos, visíveis pelos jornalistas que aguardavam cá fora, ouvindo-se gritos e vendo-se janelas abertas nos corredores.

À saída da prova, alguns professores contaram que não houve condições para realizar o exame, porque as salas foram invadidas por gente em protesto. Além disso, quando foram entregues os enunciados, houve quem respondesse às perguntas em voz alta.

O exame também não se realizou em três escolas de Lisboa: na Marquês de Alorna (onde tentaram que todos os professores fizessem a prova no ginásio), no Alto do Lumiar (onde houve invasão da sala) e no Restelo, por boicote dos vigilantes.

O cenário de protesto e boicote repetiu-se um pouco por todo o país. Em Beja, foram mesmo queimados os enunciados da prova.

No Porto, na Escola Clara de Resende, alguns professores convocados para vigiar as provas impediram a realização do exame, disse à Lusa uma dirigente da Federação Nacional de Professores (Fenprof). “Estavam a funcionar apenas três salas com um vigilante por sala, quando a regra diz que são dois vigilantes. Os colegas das outras seis salas, revoltados com a situação, invadiram os três locais inviabilizando a realização da prova”, afirmou Manuela Mendonça. Antes um grupo de professores vestidos de negro, a maioria oriunda da zona de Amarante, aguardava à porta da escola o início da prova que classificaram de “humilhante”.

Em Vila Real, na Escola Morgado Mateus, um grupo de docentes em protesto também conseguiu demover os colegas de entrarem no recinto escolar. Eram cerca de 380 os professores que estavam inscritos para realizaram a prova de avaliação de conhecimentos nas escolas secundárias Morgado Mateus e S. Pedro. Nesta segunda só oito a fizeram.

No distrito de Viseu, segundo o dirigente da Fenprof Francisco Almeida, cerca de dois terços dos professores contratados com menos de cinco anos de serviço não realizaram a prova. Ao todo havia 800 inscritos em quatro escolas: três na cidade de Viseu e uma no concelho de Vouzela. De acordo com Francisco Almeida, não se realizaram provas no Agrupamento de Escolas do Viso, Agrupamento de Escolas Viseu Sul e na EBI de Vouzela.

No Agrupamento de Escolas Viseu Sul – ao qual pertence a Escola Infante D. Henrique onde se concentraram durante a manhã alguns professores que empunharam cartazes contra as provas – "só um dos 200 professores convocados para vigiar não fez greve".

O Agrupamento de Escolas do Viso "teve dois professores que furaram a greve" e na Escola EBI de Vouzela "a greve foi a 100%". De acordo com o sindicalista, só na Escola Secundária Alves Martins os professores contratados realizaram a prova.

Na Escola Alves Martins, em Viseu, a polícia acabou por impedir que alguns professores realizassem a prova. Logo pela manhã, um grupo de professores concentrou-se à entrada em protesto. Ainda no período de tolerância decidiram entrar para fazer a prova (embora alguns docentes fossem optar pelo boicote), mas acabaram por ser impedidos por cerca de 15 polícias que estavam no átrio. A confusão instalou-se e alguns minutos depois foram novamente informados de que poderiam entrar para as salas. No final, apenas 47 dos 180 professores estavam dentro da salas. Os restantes aguardavam explicações da direcção.

No distrito da Guarda, em Celorico da Beira os 80 professores inscritos não fizeram a prova por falta de condições, e na na cidade da Guarda dos 120 inscritos apenas 12 estavam às 12h15 a fazê-la, disse Sofia Monteiro, do Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC).

Em Leiria, um grupo de professores invadiu as salas de aula na Escola Secundária de Domingos Sequeira, impedindo a realização da prova de avaliação. Os professores que realizavam a prova estavam igualmente em protesto, fazendo barulho com os pés. O director da escola chamou a polícia, tentando também que a prova se realizasse. Às 11h00, os portões da escola foram fechados e o acesso à instituição apenas podia ser feito mediante identificação.

No distrito de Setúbal, em Almada, na Escola Emídio Navarro foi necessário chamar a polícia de choque, na sequência de uma tentativa de invasão do estabelecimento, disse à Lusa fonte da escola. De acordo com a mesma fonte da direcção da Emídio Navarro, a polícia de choque foi accionada pela PSP, a quem a escola alertou quando se apercebeu de uma tentativa de invasão. A iniciativa dos manifestantes mostrou, segundo a mesma fonte, “muita agressividade”, já que partiram todos os vidros da frente da escola. Apesar disso a prova de avaliação de conhecimentos dos professores está a realizar-se, garantiu.

Lágrimas em Coimbra
Em Faro, mais de 300 professores que estavam inscritos não conseguiram fazer o exame por falta de condições, disse à Lusa fonte do Sindicato de Professores do Sul. Na Escola Pinheiro e Rosa foram os próprios docentes que iam ser submetidos ao exame que se revoltaram, mas muitos dos professores vigilantes também estavam em greve. Nas duas escolas em Portimão onde estava prevista a realização da prova de avaliação, esta foi efectuada. “Esta prova é inútil porque só existe para as pessoas terem acesso a um concurso público. Isto não existe em lado nenhum”, afirmou à Lusa Susana Santos, professora com mais de dez anos de serviço. “Hoje somos nós! E amanhã?”, “Não à prova, exigimos respeito” e “Não pactues” eram algumas das frases que se podiam ler nos cartazes dos professores que se concentraram na Escola Pinheiro e Rosa.

Em Coimbra, depois de alguma indecisão sobre as acções a desenvolver, os docentes do movimento Boicote&Cerco que estiveram em frente à Escola Secundária D. Maria optaram por dificultar apenas a entrada na escola. “Vigiar é humilhar, vigiar é humilhar”, ouviram os professores que iam vigiar a prova.

Às 9h44, saídos das indecisões, foi a vez de dezenas de docentes abrirem caminho em fila indiana, para fazerem a prova. Subiram a escadaria, ouvindo gritos dos colegas que lhes chamaram fascistas e os acusaram de estarem a quebrar a união contra a prova.

À porta da escola, havia docentes a chorar. Sónia Barbosa criticava os colegas, a chorar: “Devíamos ter ficado todos lá fora, isto é que é união? Se não entrasse ninguém, eu também não tinha de estar aqui.” Uns baixavam a cabeça. Outra professora que ia fazer a prova sugeria que lá dentro pedissem aos professores do quadro para não aceitarem vigiar a prova. "Tínhamos de entrar, se não, não podemos candidatar-nos a dar aulas, mas está nas mãos deles ajudar-nos. Podem fazer greve”, dizia.

Ao lado Maria Ferreira chorava convulsivamente: “Não acredito que passei por cima dos meus colegas que estão a manifestar-se por nós, que estão a defender-nos." Dizia que "partir do momento em que um entra têm de entrar todos”, mas garante que não se perdoará.

Duarte, um dos que estavam sentados no chão, dificultando a entrada aos colegas, também não tem vínculo, também não tem cinco anos de serviço, pelo que, não fazendo a prova, não se poderá candidatar a dar aulas para o ano. Passada a confusão levantou-se. “Ficar aqui, não entrar foi talvez a decisão mais difícil da minha vida”, disse, não conseguindo continuar a falar. Chorava também.

André Pestana, um dos porta-vozes do movimento Boicote&Cerco, animou outros manifestantes, dizendo que há outras escolas no país em que o boicote foi efectivo.

E as lágrimas continuaram após a prova. Alguns dos professores sem vínculo que fizeram a prova acabaram por se juntar aos manifestantes, gritando palavras de ordem contra Nuno Crato, em lágrimas. "Tenho uma licenciatura, mestrado, uma pós-graduação e sinto-me humilhada por ter ido fazer esta prova, que não avalia nada. Mas tenho três filhas e estou desempregada, não podia deixar de entrar”, justifica Sofia Casqueiro, a chorar. Um dos elementos que lhe dificultaram a entrada duas horas antes aproxima-se e dá-lhe um curto abraço.

Ao lado, também em lágrimas, Anabela Nunes diz-se revoltada por ter ido fazer a prova e mostra-se zangada com os vigilantes, professores do quadro.

Contam que nas salas confrontaram os vigilantes, desafiando-os a aderir à greve.

Helena Nunes, que tem perto de cinco anos de serviço e optou por não faltar, apesar de se ter inscrito, chora também. “O que nos fazem”, lamenta.

Fenprof ameaça com tribunal
O dia da prova de avaliação de professores começou com uma polémica entre a Fenprof e o ministério. A Federação Nacional de Professores anunciou na terça-feira que o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) do Funchal deferiu uma providência cautelar interposta por sindicatos, para impedir a realização da prova de avaliação dos professores. Desde terça-feira à noite que o ministério garantia não ter sido notificado, mas no final da manhã desta terça-feira a tutela anunciou que a recebeu e que apresentou uma resolução fundamentada. O ministério de Nuno Crato tinha também já dito que recebeu uma outra notificação sobre um indeferimento liminar de um pedido que tinha dado entrada no TAF de Coimbra.

Antes da confirmação da tutela, o secretário-geral da Fenprof  tinha ameaçado recorrer ao tribunal. "Se, até à hora de início da prova, o ministério da Educação não tiver accionado os mecanismos legais, que os tem, para apresentar essa resolução fundamentada nos tribunais, iremos junto do próprio tribunal suscitar o incidente, o que pode levar a uma multa ou até à própria anulação da prova”, avisou o sindicalista frente à Escola Marquesa de Alorna onde vários professores protestavam.

A coordenadora do Bloco de Esquerda também considerou a prova “um ataque à dignidade dos docentes” e acusou o ministro da Educação de querer destruir a escola pública mantendo a precariedade destes docentes. Catarina Martins, que estava nesta manhã na Escola Secundária Padre António Vieira, em Alvalade, Lisboa, disse à Lusa que o seu partido está solidário com os professores contratados e acrescentou que “esta prova não tem sentido nenhum e é quase uma vingança contra uma geração, ao decidir que esta seja feita apenas pelos professores com menos de cinco anos de serviço”. com Sandra Rodrigues