Paisagens de Lisboa enchem de cor o túnel pedonal de Alcântara
Passagem subterrânea de acesso à estação da CP de Alcântara, em Lisboa, já está de cara lavada. Mas ainda há retoques por fazer. A Associação Portuguesa de Arte Urbana aceita voluntários para acabar de pintar o que falta.
A passagem subterrânea sob a Avenida da Índia e a via férrea, que dá acesso à estação ferroviária de Alcântara-Mar e à zona das docas, está de cara lavada. E maquilhada. Nas paredes, os rabiscos imperceptíveis e a sujidade deram lugar a painéis de arte urbana, com desenhos das paisagens, monumentos e edifícios mais emblemáticos da cidade. Está lá tudo: desde a Ponte 25 de Abril ao Aqueduto das Águas Livres, passando pela Torre de Belém, pelo Museu do Oriente, pelo Castelo de São Jorge, pelos cacilheiros a navegar no Tejo e pelos eléctricos “amarelinhos”, entre outras imagens de marca da cidade. E até evocações dos murais revolucionários do pós-25 de Abril.
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A passagem subterrânea sob a Avenida da Índia e a via férrea, que dá acesso à estação ferroviária de Alcântara-Mar e à zona das docas, está de cara lavada. E maquilhada. Nas paredes, os rabiscos imperceptíveis e a sujidade deram lugar a painéis de arte urbana, com desenhos das paisagens, monumentos e edifícios mais emblemáticos da cidade. Está lá tudo: desde a Ponte 25 de Abril ao Aqueduto das Águas Livres, passando pela Torre de Belém, pelo Museu do Oriente, pelo Castelo de São Jorge, pelos cacilheiros a navegar no Tejo e pelos eléctricos “amarelinhos”, entre outras imagens de marca da cidade. E até evocações dos murais revolucionários do pós-25 de Abril.
“É quase uma vista de 360 graus sobre Lisboa”, diz Octávio Pinho, da Apaurb. É ele o impulsionador do projecto, que conta com o apoio da Câmara de Lisboa, entidade responsável pelo espaço. As pinturas começaram em Agosto e desde então foram gastos 10.400 euros em tinta, oferecida pela Sika Portugal, uma empresa de produtos químicos para a construção e indústria, e 4500 euros em tinta de spray, oferecida pela CP e pela Refer. A mão-de-obra é totalmente voluntária.
O objectivo do projecto é duplo: por um lado, limpar a imagem de um túnel degradado há anos, com paredes rabiscadas, água e lixo pelo chão, e um cheiro nauseabundo; por outro lado, colocar o túnel nos roteiros de arte urbana da capital, transformando-o numa galeria aberta, com graffiti de artistas nacionais e estrangeiros. “Já entra em três roteiros”, adianta Octávio Pinho, explicando que os desenhos nos pilares centrais vão sendo alterados e renovados ao longo do tempo.
Voluntários, precisam-se
Os desenhos começaram a tomar forma com a ajuda de estudantes que ali passaram parte das férias de Verão. A palavra foi-se espalhando e chegou aos moradores e trabalhadores da zona, e até aos turistas, que ali encontram uma porta de entrada na cidade, ao saírem do terminal de cruzeiros. “Houve um casal de holandeses que perguntou se podia ajudar e pintou um mural. Tivemos um rapaz do Canadá, outro da Alemanha, outro do Brasil, que também pintaram. A Kat, uma graffiter francesa, veio ao casamento de uma amiga e pintou uma parte, depois veio cá de propósito pintar o resto.”
Falta pouco para terminar a intervenção. Por estes dias fazem-se retoques, dá-se a segunda demão em alguns locais, preenchem-se zonas de parede ainda em branco. Falta pintar o chão e os acessos à estação ferroviária. Mas os voluntários, que no Verão eram às dezenas, agora escasseiam. A Câmara de Lisboa lançou um pedido na sua página de Internet e aceitava inscrições para quem quisesse ajudar, nesta segunda e terça-feira, entre as 15h e as 19h.
Sara Malta “tropeçou” no anúncio da câmara e resolveu inscrever-se. Quando estudava design de interiores na Escola Superior de Artes Decorativas, a poucos metros da estação, passava por ali diariamente. “Às vezes preferia ir à volta, por outro lado, em vez de usar o túnel, que era escuro, sujo e cheirava mal”, conta. A iniciativa da Apaurb deixou-a satisfeita. “Já estudei na faculdade há mais de dez anos, já estava na altura”, afirma.
Bruno Silva foi o primeiro dos cinco inscritos a chegar, à hora em ponto. Está desempregado e achou a iniciativa “interessante”, por isso quis ajudar mesmo sem perceber nada de pintura. Não é preciso. Ainda assim, é pessimista – ou antes “realista”, afirma. “Acho que vão começar a surgir rabiscos por cima dos desenhos, sei de outros locais onde fizeram algo semelhante e isso aconteceu”, lamenta.
Octávio Pinho, também ele graffiter, não parece preocupado. “Já apareceram tags [nomes escritos na parede], mesmo depois de termos pintado”, afirma. A solução é pintar por cima e esperar que os graffiters compreendam a mensagem: “Até podem fazer a tag, mas de forma que fique integrada no desenho.”
Câmara promete "reabilitação profunda"
A Câmara de Lisboa, que assumiu em 2005 a gestão do espaço antes entregue à CP e à Refer, agradece a iniciativa. “Íamos fazer um concurso público para a reabilitação do túnel mas não avançámos porque a Apaurb ofereceu-se para organizar esta intervenção, sem custos para o município”, explica João de Sá Machado, coordenador da Unidade de Intervenção Territorial Ocidental.
Segundo o responsável, a autarquia também já pôs mãos à obra: renovou a iluminação no local e resolveu os problemas ao nível do escoamento de águas pluviais, para travar as infiltrações. O próximo passo é avançar com um “projecto de reabilitação profunda”, que passa nomeadamente pela melhoria das acessibilidades. A escada rolante num dos acessos a norte, parada há vários anos, vai dar lugar a uma rampa de 60 metros, onde poderão circular bicicletas, cadeiras de rodas e até os veículos municipais que asseguram a higiene urbana. O mesmo vai acontecer no acesso pelo sul, do lado das Docas.
Para aceder à plataforma da estação, a Refer disse ao PÚBLICO em Agosto que vai instalar elevadores, mas não indicou uma data. A instalação está dependente da “criação de condições semelhantes de acesso à rua, da responsabilidade da câmara”.
Sá Machado não diz quando é que o projecto da câmara vai avançar. Mas levanta o véu sobre outros pormenores. No espaço onde antes funcionava um café, a autarquia quer instalar um estabelecimento semelhante mas “de qualidade”, com uma esplanada em pleno túnel e um palco para espectáculos. Ao lado, deverá ficar um posto de apoio da PSP, com acesso às imagens captadas pelas quatro câmaras de videovigilância já instaladas no tecto. Haverá também sanitários públicos.
“Queremos que isto seja um local de paragem para os turistas. Que tenha um café agradável, uma livraria e uma tabacaria”, afirma. "Interessa-nos que isto passe a ser um sítio para estar, mais do que para passar."