UE suspende conversações com Ucrânia por "falta de compromisso claro"

Decisão de Bruxelas anunciada no dia em que se realizam manifestações pró-Europa e pró-governo na capital ucraniana.

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De um modo informal, através da rede social Twitter, o responsável pelo processo de alargamento da UE, o checo Stefan Füle, disse que os argumentos das autoridades ucranianas "não têm base na realidade".

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De um modo informal, através da rede social Twitter, o responsável pelo processo de alargamento da UE, o checo Stefan Füle, disse que os argumentos das autoridades ucranianas "não têm base na realidade".

"Disse ao vice-primeiro-ministro Arbuzov, em Bruxelas, que a continuação das negociações dependia de um compromisso claro com vista à assinatura [do acordo]. Os trabalhos estão suspensos e não tive resposta", escreveu o comissário, referindo-se à reunião de quinta-feira passada entre os dois responsáveis.

Nesse encontro, em Bruxelas, Stefan Füle fez saber que o Acordo de Associação com a Ucrânia continuava em cima da mesa, mas também estabeleceu um conjunto de condições com críticas implícitas à influência russa no país e com apelos ao envolvimento da oposição no processo de aproximação à UE.

Desde então, segundo o comissário europeu responsável pelo alargamento, o governo nomeado pelo Presidente Viktor Ianukovich manteve-se em silêncio, pelo que as negociações foram interrompidas neste domingo.

Se é de uma espécie de jogo de póquer que se trata, como escreve o jornal em língua inglesa Kyiv Post, então o primeiro-ministro da Ucrânia, Mikola Azarov, parece disposto a continuar a esconder a sua mão.

"O governo ucraniano pretende continuar a negociar com a União Europeia a implementação do Acordo de Associação e está a trabalhar nesse sentido", disse o porta-voz de Azarov, Vitaliy Lukianenko, citado pela agência Interfax-Ucrânia.

O responsável acrescentou que o governo ucraniano só irá avaliar "declarações oficiais" de representantes da UE, desvalorizando os comentários do comissário Stefan Füle através do Twitter.

Visita a Moscovo na terça-feira
O anúncio da suspensão das negociações com a UE surge a apenas dois dias da visita do Presidente Viktor Ianukovich ao Kremlin, onde deverá assinar um conjunto de protocolos para suavizar os efeitos da cada vez mais profunda crise económica no país.

Ianukovich procura obter uma redução nos preços do gás e a concessão de novos empréstimos, mas a oposição descreve a visita a Moscovo como um primeiro passo em direcção à união aduaneira que Vladimir Putin está a promover, que inclui a Bielorrússia e o Cazaquistão.

Enquanto o toca e foge entre Bruxelas, Kiev e Moscovo prosseguia ao mesmo ritmo das últimas três semanas, centenas de milhares de pessoas voltavam neste domingo a inundar a Praça da Independência, na capital ucraniana.

A convocatória para uma outra manifestação que decorreu nas proximidades, esta de apoio ao governo, fez subir o risco de confrontos entre os que defendem uma aproximação à União Europeia e os que preferem reforçar os laços com a Rússia, que exerce uma enorme influência na zona oriental do país.

Na emblemática Praça da Independência – palco do movimento pró-europeu desde o dia 21 de Novembro, quando o governo ucraniano anunciou que não iria assinar o acordo comercial da Parceria Oriental da UE –, mais de 200.000 pessoas juntaram-se para pedir a demissão do governo e a aproximação da Ucrânia à Europa ocidental e para ouvirem os incentivos do senador norte-americano John McCain.

"Estamos aqui para apoiar a vossa causa, o direito soberano da Ucrânia de determinar o seu próprio destino livremente e com independência. E o destino que vocês procuram reside na Europa", disse McCain, uma das várias personalidades políticas internacionais que têm passado pela Praça da Liberdade nas últimas semanas.

Também na capital, no Parque Mariinsky, cerca de 20.000 pessoas defenderam "o regresso da estabilidade" à Ucrânia, numa manifestação organizada pelo Partido das Regiões, do Presidente Viktor Ianukovich.