Peter O'Toole: o actor de porte aristocrático
Actor genial a que só faltou uma coisa: mais encontros com realizadores geniais e mais filmes com a imensidão de Lawrence da Arábia.
Peter O'Toole será sempre o Lawrence da Arábia, e o papel que desempenhou no filme homónimo de David Lean, tinha O'Toole 30 anos, foi o que lhe ficou agarrado à pele. Mérito do filme, e da maneira como ficou “incrustado” no imaginário colectivo, mérito de O'Toole e da allure que trouxe ao papel de T.E. Lawrence.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Peter O'Toole será sempre o Lawrence da Arábia, e o papel que desempenhou no filme homónimo de David Lean, tinha O'Toole 30 anos, foi o que lhe ficou agarrado à pele. Mérito do filme, e da maneira como ficou “incrustado” no imaginário colectivo, mérito de O'Toole e da allure que trouxe ao papel de T.E. Lawrence.
Mas ainda antes disso, dois anos antes, um dos primeiros papéis do actor fora num dos últimos filmes do enorme cineasta que se chamou Nicholas Ray, em The Savage Innocents – num cenário completamente diferente, com o gelo polar no lugar da areia quente do deserto. Actor genial, mais genial ainda no teatro do que no cinema segundo rezam todas as histórias, à carreira cinematográfica de O'Toole só faltou uma coisa: mais encontros com realizadores geniais (como Ray), mais filmes com a imensidão de Lawrence.
Da “fornada” de actores britânicos em que O'Toole apareceu (Albert Finney, Alan Bates, Richard Harris, entre outros), talvez ele fosse o menos “naturalista”, o mais marcado pelo teatro. Razão, ou consequência, de ao contrário dos outros nunca o termos visto em exemplares de “kitchen sink realism” (o “realismo de pia de cozinha” que marcou o cinema britânico no princípio dos anos 60), e mais em filmes que faziam apelo a uma matriz teatral ou marcada pela solenidade (no bom e no mau sentido) das adaptações da grande literatura.
Becket, onde contracenava com outro grande actor e grande beberrão como ele, Richard Burton (um pouco mais velho do que O'Toole, mas talvez o actor mais próximo dele, em termos de “perfil”), ou o
Lorde Jimque Richard Brooks sacou a Conrad – isto para falar apenas em filmes de meados dos anos 1960, quando fresca estava a popularidade advinda do papel de O'Toole em
Lawrence.
Quase sempre em tensão entre um porte aristocrático (de origem “cultural”) e a raiz, nada aristocrática, familiar – tensão, de resto, partilhada com tantos actores britânicos do seu tempo –, Peter O'Toole, fora algumas notáveis excepções, é a principal razão para se ver a maior parte dos filmes em que entrou.
E dizendo isto, não esquecemos o seu Leão no Inverno (onde contracenava com Katharine Hepburn, a sua actriz preferida), nem esquecemos o seu papel num dos últimos Premingers (Rosebud), nem um dos seus filmes mais populares nos anos 1980 (O Meu Ano Favorito, de Richard Benjamin). Nem, claro, o que porventura foi o seu último grande papel em cinema, certamente o último filme apostado em responder à grandiosidade de Lawrence, o Último Imperador de Bertolucci.