A aurora boreal nos céus de Kiruna
Para lá do círculo polar ártico, o frio dos 23 graus negativos desaparece perante a dança das “luzes do norte”
O desafio surgiu de repente. Uma campanha da Norwegian Airlines prometia o extremo norte da Suécia por meia dúzia de euros. Estávamos em Estocolmo e nem pensámos duas vezes: reunido um par extra de luvas, descoberto o destino no mapa, Kiruna reluzia no horizonte.
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O desafio surgiu de repente. Uma campanha da Norwegian Airlines prometia o extremo norte da Suécia por meia dúzia de euros. Estávamos em Estocolmo e nem pensámos duas vezes: reunido um par extra de luvas, descoberto o destino no mapa, Kiruna reluzia no horizonte.
No maior município da Suécia moram apenas 23 mil pessoas. A maior parte do território é preenchida por largas extensões de neve pousada sobre a floresta durante quase todo o ano. Situada no coração da Lapónia, a história recente de Kiruna relaciona-se com a indústria da extração do ferro.
As minas são o que fazem, literalmente, a cidade mexer. Com a constante exploração, o subsolo de Kiruna está a colapsar. O plano é o de mover todo o centro cerca de 3km para Leste. E vai mais além: o projeto vencedor inclui, além da deslocação de todos os edifícios, uma aposta no design e a construção de várias infraestruturas.
Quem quer ver Kiruna com toda a aura de uma pequena povoação mineira deixada cair sobre o quase Ártico deve apressar-se. A autarca local diz sonhar com uma mudança feita “durante um fim de semana”.
O centro de Kiruna tem umas quantas ruas, percorridas de trenó pelos seus habitantes na sua rotina, dois supermercados, algumas lojas, um centro de interpretação e uma surpreendente pizzaria.
Além disso, é possível visitar as minas de ferro e a igreja local, considerada em 2001 a mais bonita da Suécia. Os desportistas também não ficam a perder: o extenso manto branco permite todas as variações de desportos, entre o snowmobile, o cross-country skiing, e o snowshoeing.
Pela paisagem, casas que parecem saídas de um conto, com os seus jardins cobertos de neve, as cercas coloridas e a ideia de que lá dentro haverá sempre uma torta a sair do forno. Cá fora, neve até ao pescoço e a possibilidade de olhar em frente até perder de vista.
O elogio do efémero
No plano de viagem, deve-se ter em conta que no final e início do ano Kiruna está praticamente às escuras e que entre maio e o início de agosto é possível assistir ao fenómeno do sol da meia-noite. E é mesmo no céu que está o ex libris da cidade.
Partimos à descoberta das “luzes do norte” guiados através do escuro por catorze cães, num trenó, a todo o gás pela noite do Ártico. Aí, o silêncio é cortado apenas pelo ladrar agitado da matilha. Sem avisar, tudo parou e lá estavam elas, irrequietas no azul-marinho da noite polar. Uma banda de fogo verde e lilás balançava no céu e encontrava, cá em baixo, a neve, que de repente tinha ganho cor. Não é demais referir esta experiência como “forte, única e misteriosa”.
Disseram-nos que povo Sami acredita que as luzes polares são danças dos espíritos e os índios que são bebés que nunca chegaram a nascer. Há outras explicações mais científicas. Seja como for, perante tamanho espetáculo, algo de mágico acontece no céu.
Uma visita ao remoto norte da Suécia não pode escapar ao Icehotel, uma ode a toda a região. Todos os anos o hotel é reconstruído, sempre com formas diferentes, para depois derreter, devolvendo milhares de litros de água ao rio Torne.
Em Kiruna, a beleza está precisamente no efémero.