África do Sul investiga acesso de intérprete acusado de fraude à homenagem a Mandela
Governo garante que a segurança nunca esteve em causa mas quer perceber como é que a situação embaraçosa aconteceu.
A ministra das Mulheres, Crianças e Deficientes, Hendrietta Bogopane-Zulu, durante uma conferência de imprensa na quinta-feira, citada pela BBC, começou por dizer que a África do Sul “enquanto país não pôs em risco a segurança de ninguém, em especial a dos chefes de Estado”.
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A ministra das Mulheres, Crianças e Deficientes, Hendrietta Bogopane-Zulu, durante uma conferência de imprensa na quinta-feira, citada pela BBC, começou por dizer que a África do Sul “enquanto país não pôs em risco a segurança de ninguém, em especial a dos chefes de Estado”.
Depois, a governante adiantou que quando se trata de requisitar serviços desta natureza a preocupação é a qualidade dos mesmos e a capacidade da pessoa os desempenhar, não sendo questionadas eventuais doenças mentais. Mas de todas as formas disse que dada a importância do dia estão a ser investigadas as circunstâncias em que o homem teve acesso ao evento – sendo que há informações que dizem que os responsáveis pela sua contratação desapareceram logo após a polémica.
A frase da ministra foi dita depois do suposto intérprete de língua gestual que acompanhou as cerimónias fúnebres de Nelson Mandela na terça-feira, acusado de fraude pelas associações de surdos da África do Sul, ter dito que sofreu um ataque de esquizofrenia durante o evento. Terá sido por isso, justificou, que os gestos que fazia em nada traduziam as palavras dos governantes que discursaram em homenagem a Mandela.
Homem garante que toma medicação
Em declarações ao jornal Star de Joanesburgo, Thamsanqa Jantjie, de 34 anos, disse que começou a ouvir vozes e a alucinar enquanto estava no palco, onde discursaram os principais líderes sul-africanos e mundiais. O intérprete, cuja identidade era até então desconhecida, chocou a comunidade surda sul-africana, que o acusou de estar “apenas a abanar os braços”, sem qualquer sentido. O homem garante que toma medicação para controlar a esquizofrenia mas diz não saber o que motivou aquele episódio.
Logo após a cerimónia, Cara Loening, directora do Centro Educativo e de Desenvolvimento de Linguagem Gestual da Cidade do Cabo disse à AFP que o intérprete "é uma fraude completa". "Ele não fez nada, não se viu nem sequer um gesto. Limitava-se apenas a abanar os braços", disse Loening, acrescentando que o intérprete que traduziu para língua gestual o discurso do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, "parecia que estava a espantar moscas da cara e da cabeça".
Milhares de pessoas viram pela televisão as polémicas imagens de Jantjie a gesticular enquanto, ao seu lado, falavam líderes como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente sul-africano Jacob Zuma. Porém, para a comunidade surda o trabalho do intérprete foi inútil e até uma falta de respeito. “É uma situação embaraçosa e um desrespeito pela comunidade dos surdos e por Nelson Mandela, que sempre apoiou a nossa comunidade”, disse à AFP o porta-voz da Federação dos Surdos da África do Sul, Delphin Hlungwane.
A comunidade surda disse não conhecer o intérprete – a própria organização do evento admitiu que desconhecia a sua identidade e continua a dizer que não conhece Jantjie, garantindo que vai investigar o caso. A Federação de Surdos da África do Sul informou ainda que já tinha apresentado uma queixa formal em 2012 por uma interpretação num outro evento.
Já o porta-voz do Congresso Nacional Africano, Jackson Mthembu, disse à NBC News estar preocupado com o facto de o historial médico não ter sido avaliado numa situação desta dimensão pela empresa a quem o contratou, mas disse que em outras situações não tiveram problemas e que desconheciam a queixa. “Nós não sabíamos que ele estava a ser tratado [por esquizofrenia]. Ele não nos informou. É outra coisa que nos preocupa porque estamos a saber disso pela primeira vez. Este homem esteve próximo de muitos presidentes, incluindo o nosso. Estamos preocupados por o termos contratado para os nossos serviços. Estamos mesmo preocupados”, afirmou.