Investimento de 35 milhões de euros nas escolas de Beja não reduziu o insucesso escolar

Professores e alunos reconhecem que têm melhores instalações e que há mais equipamento. Mas parte dele não é utilizado, com receio de que se estrague ou porque os custos da sua utilização são proibitivos.

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O investimento em instalações no Instituto Politécnico não evitou a redução do número de alunos antónio carrapato

O exemplo da Escola Superior de Tecnologias e Gestão de Beja é sintomático: as novas instalações construídas entre 2007 e 2012 custaram cerca de 10 milhões de euros. Foram dimensionadas para receber 3000 alunos, mas este ano matricularam-se 823 estudantes.

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O exemplo da Escola Superior de Tecnologias e Gestão de Beja é sintomático: as novas instalações construídas entre 2007 e 2012 custaram cerca de 10 milhões de euros. Foram dimensionadas para receber 3000 alunos, mas este ano matricularam-se 823 estudantes.

A Escola Secundária Diogo de Gouveia, uma das duas da cidade, sofreu, por seu lado, uma profunda remodelação e passou a dispor de novas instalações, como um polidesportivo coberto, que custou 1,4 milhões de euros. Este espaço tem, no entanto, pouca utilização no Inverno, porque chove lá dentro e os professores receiam as quedas com o piso molhado. O investimento na escola foi um dos maiores, a nível nacional, da empresa pública Parque Escolar, cerca de 12 milhões de euros. Todavia, alunos e professores afirmam: “Estamos pior do que na antiga escola”.

Tinhamos condições que perdemos com a remodelação”, diz mesmo a comissão de finalistas da escola, admitindo que o estabelecimento tem mais material de apoio, “mas ele não é utilizado com medo que se estrague”. Os quadros interactivos, acrescentam os estudantes, não são utilizados porque “os professores alegam que não tiveram formação para os manusear”. Nas aulas de Português e de Matemática, exemplificam também, nunca foi possível manter o mesmo professor do 7.º ao 12.º ano. E no 11.º ano há uma turma com 36 alunos e outras com 32 e 31 alunos. A comissão de finalistas queixa-se ainda do sofisticado sistema de ar condicionado que “só deita frio” e, no Verão, provoca um “choque térmico” com o ambiente exterior.

O professor David Argel, que lecciona Geografia, frisa que estas situações anómalas também são resultado da criação de um mega-agrupamento com mais de 3000 alunos. “O modelo de gestão e as alterações que introduziu resultaram num processo menos democrático e menos eficaz”, salienta, destacando o exemplo dos professores que “andam de escola em escola a dar aulas”. Fazendo um balanço da realidade que resultou de todas estas obras, David Argel confirma que “há mais equipamento, instalações e espaço, mas as dificuldades que existiam continuam a existir”, apontando a manutenção de turmas “com 25 e mais alunos”.

O PÚBLICO fez inúmeras tentativas para ouvir o presidente do concelho directivo da Escola Diogo de Gouveia, mas este manteve-se sempre incontactável.

No caso da remodelação da rede escolar do 1.º ciclo do ensino básico (escolas primárias), o município de Beja teve de investir quase três milhões de euros na recuperação de 17 edifícios, na sua maioria construídos entre 1940 e 1960. O projecto ainda não estava concluído e já o Ministério da Educação oficiava a autarquia, em 2008, para que esta construisse três agrupamentos escolares.

A decisão da tutela significou o abandono de escolas que já tinham sido sujeitas a grandes melhoramentos. Hoje, umas estão encerradas e outras têm outros usos alheios ao ensino.

A criação dos agrupamentos de Santa Maria, Santiago Maior e Mário Beirão exigiu a instalação de 34 novas salas de aula e um investimento superior a cinco milhões de euros. No entanto, a realidade apresenta aspectos críticos que colidem com o novo modelo de organização escolar, refere Susana Ramalho, presidente da Associação de Pais da Escola de Santiago Maior. Depois das obras, o espaço escolar ficou dotado de um refeitório com capacidade para 300 alunos, “mas fornece mais de 600 refeições”.

Também o sistema de ar condicionado instalado há três anos não funciona. No Verão, as salas de aula têm as janelas e portas fechadas “desde que o sol nasce até que se põe”. No início do ano escolar “as crianças suportaram temperaturas de 32 graus”, acusa a presidente da associação de pais, realçando o contraste com os dias que correm, em que os alunos foram informados por alguns professores que poderiam trazer uma manta de casa para não terem frio.

Manuel Nobre, presidente do Sindicato de Professores da Zona Sul, acrescenta que as novas escolas dos agrupamentos “reduziram para dois terços a área das salas de aula e aumentaram o número de alunos”. Referindo-se à Diogo de Gouveia, diz que o seu orçamento não permite ligar o ar condicionado, criticando a opção por grandes áreas envidraçadas, numa região sujeita a fortes amplitudes térmicas.

A criação dos mega-agrupamentos, acrescenta, significou a degradação da qualidade de ensino e contribuiu para o “aumento do abandono escolar”. O ranking das escolas, diz o sindicalista, revela o resultado das opções seguidas pela tutela, contribuindo para o “abandono escolar no ensino secundário e superior”.

O PÚBLICO analisou o ranking de 2013, para as escolas do 4.º ano, e verificou que os 13 estabelecimentos do concelho de Beja se encontram entre o lugar 1033 e 4210, num universo de 4609 escolas. No 6.º ano, a posição oscila entre o lugar 260 e 1098, em 1136 escolas, e no 9.º ano vai da posição 603 à 1084, entre 1296 escolas.

No caso do secundário, a D. Manuel I estava em 2005 no lugar 206 do ranking nacional e encontra-se agora, depois de a Parque Escolar lá ter investido quatro milhões de euros, no posto 219, entre 612 estabelecimentos. Já na Diogo de Gouveia, observa-se uma descida particularmente acentuada. Em 2005, era a a 49.ª escola mais bem classificada do país e neste momento, três anos depois das obras, está no lugar 229.

Nos últimos dois anos, os distritos de Beja, Évora e Portalegre perderam um total de 4000 alunos, em grande parte associado ao declínio demográfico.