Presidente da Ucrânia diz que "não há alternativa" à aproximação à Rússia
Numa declaração televisiva, Viktor Ianukovich diz que resposta à situação de emergência económica do país passa pelo fortalecimento da ligação comercial a Moscovo.
A Rússia é o maior investidor estrangeiro na Ucrânia e o principal fornecedor de gás natural do país. Depois de mais um ano de recessão, Kiev precisa desesperadamente de um financiamento internacional (estimado em cerca de 10 mil milhões de dólares) para evitar o default das contas públicas.
“Estamos a trabalhar em todas as frentes para responder à situação económica”, sublinhou o Presidente, que informou que vai enviar uma delegação governamental para Bruxelas já amanhã, a fim de manter aberto o canal das negociações com a União Europeia, e também reatar os contactos com o Fundo Monetário Internacional.
“A realidade é que não podemos falar num futuro melhor sem falar na recuperação da nossa ligação comercial à Rússia”, notou o Presidente ucraniano, cujo volte-face na assinatura de um acordo de cooperação comercial e política com a União Europeia originou uma revolta popular que dura há mais de duas semanas.
“Para já devemos concentrar-nos na economia”, insistiu Ianukovich. E acrescentou: “Os problemas políticos que estamos a viver podem ser resolvidos dentro de dias."
Num esforço para acalmar os ânimos, o Presidente disse que vai pedir ao procurador-geral da Ucrânia que, “sem violar a Constituição”, estude uma solução que facilite a libertação de alguns dos manifestantes detidos nos protestos de Kiev: aqueles que não foram acusados de nenhum delito grave e que têm filhos ou famílias que dependem do seu trabalho.
Ianukovich marcou já para amanhã a primeira sessão de diálogo com os líderes da oposição, que, apesar de fragmentada em diversos partidos, está unida na exigência de demissão do primeiro-ministro, Mikola Azarov, e na inversão do caminho de aproximação à Rússia seguido pelo Presidente.
A realização de uma “mesa-redonda” entre as duas partes em confronto desde o início do mês foi acertada num encontro com os três primeiros três primeiros chefes de Estado da Ucrânia independente, Viktor Iuchenko, Leonid Kutchma e Leonid Kravchuk.
Mas um compromisso entre Governo e oposição, para acabar com a tensão em Kiev, ainda era uma possibilidade remota: apesar do ambiente de calma que prevalecia entre os manifestantes da Praça da Independência, repetiam-se os esforços para barricar os edifícios governamentais – incluindo, por exemplo, a sede da União Europeia para onde estavam previstos contactos com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
A alta-representante para a política externa da União Europeia viajou para a Ucrânia, para uma “missão de mediação e conciliação” entre os diversos intervenientes políticos.
Os esforços diplomáticos para o restabelecimento da normalidade envolveram também a vice-secretária de Estado norte-americana, Victoria Nuland, que aterrou em Kiev (depois de uma visita a Moscovo) para prosseguir os contactos com o Governo e reuniões com os três líderes da oposição: Vitali Klitschko, o antigo campeão de boxe que está à frente do Udar (Murro); Arseni Iatseniuk, que dirige o partido Pátria da antiga primeira-ministra Iulia Timoshenko, e Oleh Tiahnibok, da formação Svoboda de extrema-direita.
“Os Estados Unidos apoiam a escolha europeia da Ucrânia e esperam uma solução política e não violenta do actual impasse, para que o país possa retomar o seu progresso e desenvolvimento económico, com o apoio do Fundo Monetário Internacional”, declarou Nuland, numa nota emitida antes da chegada a Kiev.
Mas os analistas põem pouca fé na assinatura de um acordo com o FMI, que inevitavelmente exigiria a adopção de medidas de consolidação orçamental que o Governo de Kiev tem repetidamente rejeitado. “A probabilidade de um acordo é muito baixa. Ninguém acredita que o Governo de Ianukovich, com a actual taxa de popularidade, esteja disposto a avançar com medidas que quase de certeza provocariam eleições”, explicou à Bloomberg o economista chefe do Standard Bank Group de Londres, Tim Ash.
Mais de dois mil manifestantes permanecem acampados na Praça da Independência de Kiev, desafiando as temperaturas negativas e as ordens das autoridades, que na véspera desmantelaram – sem confrontos – as barricadas erguidas à frente de vários edifícios governamentais.
Em declarações à Reuters, Ilya Shutov, um antigo mineiro que viajou da cidade de Donetsk para participar nos protestos, prometeu aguentar na capital até o Governo aceder às exigências dos manifestantes. “Estamos aqui porque queremos o acordo de cooperação com a União Europeia. Queremos ficar livres das autoridades soviéticas, queremos a civilização”, disse. “Vamos ficar aqui para que Ianukovich perceba que a Ucrânia não quer voltar para a Rússia”, completava Anton Ostrisko.
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A Rússia é o maior investidor estrangeiro na Ucrânia e o principal fornecedor de gás natural do país. Depois de mais um ano de recessão, Kiev precisa desesperadamente de um financiamento internacional (estimado em cerca de 10 mil milhões de dólares) para evitar o default das contas públicas.
“Estamos a trabalhar em todas as frentes para responder à situação económica”, sublinhou o Presidente, que informou que vai enviar uma delegação governamental para Bruxelas já amanhã, a fim de manter aberto o canal das negociações com a União Europeia, e também reatar os contactos com o Fundo Monetário Internacional.
“A realidade é que não podemos falar num futuro melhor sem falar na recuperação da nossa ligação comercial à Rússia”, notou o Presidente ucraniano, cujo volte-face na assinatura de um acordo de cooperação comercial e política com a União Europeia originou uma revolta popular que dura há mais de duas semanas.
“Para já devemos concentrar-nos na economia”, insistiu Ianukovich. E acrescentou: “Os problemas políticos que estamos a viver podem ser resolvidos dentro de dias."
Num esforço para acalmar os ânimos, o Presidente disse que vai pedir ao procurador-geral da Ucrânia que, “sem violar a Constituição”, estude uma solução que facilite a libertação de alguns dos manifestantes detidos nos protestos de Kiev: aqueles que não foram acusados de nenhum delito grave e que têm filhos ou famílias que dependem do seu trabalho.
Ianukovich marcou já para amanhã a primeira sessão de diálogo com os líderes da oposição, que, apesar de fragmentada em diversos partidos, está unida na exigência de demissão do primeiro-ministro, Mikola Azarov, e na inversão do caminho de aproximação à Rússia seguido pelo Presidente.
A realização de uma “mesa-redonda” entre as duas partes em confronto desde o início do mês foi acertada num encontro com os três primeiros três primeiros chefes de Estado da Ucrânia independente, Viktor Iuchenko, Leonid Kutchma e Leonid Kravchuk.
Mas um compromisso entre Governo e oposição, para acabar com a tensão em Kiev, ainda era uma possibilidade remota: apesar do ambiente de calma que prevalecia entre os manifestantes da Praça da Independência, repetiam-se os esforços para barricar os edifícios governamentais – incluindo, por exemplo, a sede da União Europeia para onde estavam previstos contactos com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
A alta-representante para a política externa da União Europeia viajou para a Ucrânia, para uma “missão de mediação e conciliação” entre os diversos intervenientes políticos.
Os esforços diplomáticos para o restabelecimento da normalidade envolveram também a vice-secretária de Estado norte-americana, Victoria Nuland, que aterrou em Kiev (depois de uma visita a Moscovo) para prosseguir os contactos com o Governo e reuniões com os três líderes da oposição: Vitali Klitschko, o antigo campeão de boxe que está à frente do Udar (Murro); Arseni Iatseniuk, que dirige o partido Pátria da antiga primeira-ministra Iulia Timoshenko, e Oleh Tiahnibok, da formação Svoboda de extrema-direita.
“Os Estados Unidos apoiam a escolha europeia da Ucrânia e esperam uma solução política e não violenta do actual impasse, para que o país possa retomar o seu progresso e desenvolvimento económico, com o apoio do Fundo Monetário Internacional”, declarou Nuland, numa nota emitida antes da chegada a Kiev.
Mas os analistas põem pouca fé na assinatura de um acordo com o FMI, que inevitavelmente exigiria a adopção de medidas de consolidação orçamental que o Governo de Kiev tem repetidamente rejeitado. “A probabilidade de um acordo é muito baixa. Ninguém acredita que o Governo de Ianukovich, com a actual taxa de popularidade, esteja disposto a avançar com medidas que quase de certeza provocariam eleições”, explicou à Bloomberg o economista chefe do Standard Bank Group de Londres, Tim Ash.
Mais de dois mil manifestantes permanecem acampados na Praça da Independência de Kiev, desafiando as temperaturas negativas e as ordens das autoridades, que na véspera desmantelaram – sem confrontos – as barricadas erguidas à frente de vários edifícios governamentais.
Em declarações à Reuters, Ilya Shutov, um antigo mineiro que viajou da cidade de Donetsk para participar nos protestos, prometeu aguentar na capital até o Governo aceder às exigências dos manifestantes. “Estamos aqui porque queremos o acordo de cooperação com a União Europeia. Queremos ficar livres das autoridades soviéticas, queremos a civilização”, disse. “Vamos ficar aqui para que Ianukovich perceba que a Ucrânia não quer voltar para a Rússia”, completava Anton Ostrisko.