Manifestantes pró-UE derrubam estátua de Lenine em Kiev

Durão Barroso telefonou a Ianukovich. Serviços de segurança ucranianos investigam líderes da oposição por suspeitas de "tentativa de tomada do poder".

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Entre flashes de máquinas fotográficas, uma multidão assistia enquanto uns poucos manifestantes subiam à estátua de Lenine e a faziam cair, atacando depois o resto da estátua de 3,5 metros, já sem cabeça, com grandes martelos.

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Entre flashes de máquinas fotográficas, uma multidão assistia enquanto uns poucos manifestantes subiam à estátua de Lenine e a faziam cair, atacando depois o resto da estátua de 3,5 metros, já sem cabeça, com grandes martelos.

A recusa de Ianukovich em assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, e uma viragem para a Rússia, despertou protestos que começaram a crescer, os maiores desde a Revolução Laranja de 2004/2005, quando protestos pela eleição, vista como fraudulenta, de Ianukovich (pró-russo), levaram a uma nova votação e à eleição do seu opositor, Viktor Iuschenko (pró-ocidental).

No protesto de domingo, houve uma forte participação de elementos do partido nacionalista Svoboda (Liberdade), de Oleg Tiahnibok, que terão sido quem derrubou a estátua de Lenine, segundo a agência francesa AFP. Viam-se bastantes homens com a cara tapada, vestidos de escuro com braçadeiras vermelhas com o tridente do brasão da Ucrânia, diz o site do Kyiv Post.

Foram dois destes homens mascarados que ataram uma corda ao pescoço da estátua de 3,5 metros e a deitaram abaixo, dizendo, "cai, porco comunista!", relata a AFP.“Ianukovich, és a seguir”, gritou alguém na multidão, ouvido pela agência Reuters. Uma jovem pôs depois uma bandeira da UE no pedestal onde antes estava a estátua. Líderes das manifestações recusaram qualquer envolvimento no derrube da estátua.

Abertura de investigação
Antes, os Serviços de Segurança Ucranianos (SBU) tinham anunciado a abertura de uma investigação por "tentativa de tomada do poder". Os principais suspeitos, disseram, são "alguns políticos", que têm estado à frente dos milhares de manifestantes que nas últimas duas semanas protestam, nas ruas, contra a decisão do Presidente e do Governo de não assinar o acordo de associação com a União Europeia e aprofundar os laços comerciais com a Rússia.

A União Europeia não desistiu ainda de recuperar a Ucrânia. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, telefonou este domingo a Ianukovich, para lhe sublinhar a necessidade de encontrar uma solução política para esta situação, e anunciou uma visita a Kiev, durante esta semana, da alta-representante para a Política Externa, Catherine Ashton.

Enquanto isso, a Alemanha mostra uma intervenção cada vez maior e o Presidente, Joachim Glauck, anunciou mesmo que não vai assistir às Olimpíadas de Inverno em Sotchi (Rússia). A revista Der Spiegel dá a notícia sem especificar um motivo, embora lembrasse que Gauck não fez, desde que tomou posse, nenhuma visita a Moscovo e que tem criticado repetidamente o défice do estado de Direito e os obstáculos criados a media críticos na Rússia.

O secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também telefonou a Ianoukovitch para o exortar ao diálogo com a oposição. Ban expressou a sua “profunda inquietação” e disse que “não deve haver recurso à violência”.

O ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, apelou igualmente à moderação. “Apelamos às duas partes à moderação, não a recorrerem à força, e ao diálogo”. “É preciso encontrar uma solução ucraniana para o que é um problema político ucraniano”, disse.

"Demissão! Demissão!"
Na manifestação, que juntou centenas de milhares de pessoas (a oposição queria mobilizar um milhão) cantou-se o hino da Ucrânia. Escritores, artistas, filósofos e responsáveis religiosos estiveram presentes, relata a AFP, assim como líderes da oposição e a filha de Iulia Timochenko, a ex-primeira-ministra condenada a sete anos de prisão por abuso de poder. "O nosso objectivo é a demissão imediata do Presidente da Ucrânia. Vá-se embora!", afirmou Evguénia Timochenko, transmitindo a mensagem da sua mãe. "Demissão! Demissão!", gritou, em resposta, a multidão.

"Esta praça não pode permitir a Viktor Ianukovich vender a Ucrânia à Rússia", afirmou, quando foi a sua vez de falar, Arseni Iatseniuk, líder do Pátria, partido de Timochenko, que também já esteve preso. Vitali Klitscko, líder do partido Udar, apelou, por seu lado, à greve geral. "Tenho a certeza de que poderemos fazer cair o poder", assegurou.
Segundo o seu partido, o número de manifestantes terá chegado a um milhão; os meios de comunicação falam em algumas centenas de milhares: 100 mil, 200 mil.

Antes do início da marcha, o responsável da polícia da Ucrânia, Vitali Zakharchenko, admitiu que “algum pessoal do Ministério do Interior usou força excessiva” durante as manifestações da semana passada. Na sexta-feira, Governo e oposição tinham anunciado um acordo para uma investigação sobre a violência que fez com que mais de 100 pessoas tivessem de ter tratamento hospitalar na sequência dos protestos de 30 de Novembro (na Praça da Independência) e 1 de Dezembro (no Parlamento).