Dalai Lama não vai ao funeral de Mandela

A África do Sul já lhe negou o visto duas vezes, por pressões da China.

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A última vez que o Dalai Lama se encontrou com Mandela foi em 2004 Win McNamee/AFP

“Não está a prever ir”, disse Tenzin Takhla à AFP sobre as intenções do líder espiritual dos tibetanos, quando interrogado pela AFP, sem adiantar mais explicações.

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“Não está a prever ir”, disse Tenzin Takhla à AFP sobre as intenções do líder espiritual dos tibetanos, quando interrogado pela AFP, sem adiantar mais explicações.

Foi em 2009 que pela primeira vez o Dalai Lama viu o seu pedido de visto para entrar na África do Sul recusado: tinha sido convidado por Mandela e por Frederik Willem de Klerk – o ex-Presidente sul-africano que também recebeu o Nobel da Paz em 1993, juntamente com Mandela – bem como pelo arcebispo anglicano Desmond Tutu (outro Nobel da Paz, em 1984) para participar numa conferência sobre a paz em Joanesburgo, organizada pela Liga Nacional de Futebol. Em Outubro de 2011, viu recusado o seu pedido novamente, quando foi convidado para a festa dos 80 anos de Desmond Tutu, outro herói da luta anti-apartheid, na Cidade do Cabo.

O Dalai Lama, Nobel em 1989, não quererá submeter-se a uma terceira negativa do Governo do Presidente Jacob Zuma, acusado pela imprensa sul-africana e pela oposição de ceder às pressões da China, importante parceiro económico e diplomático – que fez grande força para que a África do Sul entrasse no grupo dos BRIC, as potências emergentes, juntando-se ao Brasil, à Rússia e à Índia.

A África do Sul decretou uma semana de luto, após a morte na quinta-feira, aos 95 anos, do líder da luta anti-apartheid. Ontem foi um dia nacional de recolhimento e reflexão, em que o Presidente Jacob Zuma apelou aos seus compatriotas para que vivam "em unidade, para que estejamos unidos como uma só nação arco-íris”. Mas na nação arco-íris o peso da China, importante parceiro económico e diplomático, tem fechado as portas ao Dalai Lama. A China tenta limitar as deslocações do líder espiritual tibetano, avisando os Governos estrangeiros sobre as consequências para as suas relações bilaterais se abrirem as portas ao Dalai Lama.

Foi em 2004 que os dois homens se encontraram pela última vez. Quando Nelson Mandela morreu, na passada quinta-feira, o Dalai Lama declarou ter sofrido uma “perda pessoal”: “Era um amigo querido, que ainda esperava rever e por quem tinha uma grande admiração e um grande respeito.” Mas o seu porta-voz disse à AFP que “ele não está a pensar ir” ao funeral, sem adiantar mais explicações. Para bom entendedor, no entanto, meia palavra basta.

Os sul-africanos continuavam no entanto a recordar Madiba e a celebrar a sua vida. Na Igreja de Regina Mundi, no bairro do Soweto, centenas de pessoas assistiram à missa ontem. A “igreja do povo”, como é conhecida, é um local especial: foi lá que decorreram muitas reuniões dos movimentos anti-apartheid. Hoje, a memória desses tempos está eternizada nos vitrais, onde Mandela aparece a discursar perante um mar de mãos, tal como no dia da sua libertação, em 1990.

Não muito longe, também no Soweto, o bispo Mosa Sono emocionava os milhares de pessoas ao dizer “graças a Deus por Madiba”, enquanto a cara de Nelson Mandela aparecia num grande ecrã.

Em Joanesburgo, a igreja metodista de Bryanston recebeu o Presidente, Jacob Zuma, e familiares de Mandela, incluindo a sua ex-mulher, Winnie. “Devemos orar para não esquecer certos valores que Madiba defendeu, pelos quais lutou, pelos quais sacrificou a sua vida”, declarou Zuma. “Ele levantou-se pela liberdade, ele lutou contra aqueles que oprimiam os outros. Ele queria que todos fossem livres”, acrescentou.