Um Kindle Fire para o Natal
Tal como está, o Kindle Fire HDX é um deleite leve, nítido e super-rápido.
Trata-se do Kindle Fire HDX. Custa 230 dólares e é espectacular. A bateria dura cerca de 11 horas, ou 17 num modo economizador, só de leitura. O som das colunas estereofónicas é excelente. A caixa de plástico pesa menos que a da versão anterior e as margens à volta do ecrã são mais estreitas. Tem uma câmara medíocre à frente para chat de vídeo (não atrás, no modelo de 7 polegadas). O único grande erro foi colocar as teclas de energia e volume atrás: vamos passar a primeira semana a carregar no botão Off por engano, ao tentar pôr o som mais alto.
O X de “HDX” refere-se à clareza do ecrã, cujos 323 minúsculos pontos por polegada o tornam mais nítido que alta definição e vulgarizam os 163 ppp do iPad Mini.
O ecrã do HDX é verdadeiramente espectacular, se bem que irritantemente reflexivo. O problema é que só se pode apreciar a nova nitidez se estivermos a ver material de fonte com uma resolução igualmente elevada. A letra de livros e revistas é ultraprecisa, mas a maior parte dos 150 mil programas de televisão e vídeos do catálogo da Amazon não melhoram. Os filmes também têm o formato errado para o ecrã: vemos faixas pretas em cima e em baixo.
Embora o Kindle se baseie no sistema operativo Android, a Amazon disfarçou-o bem.
O ecrã inicial continua a apresentar um “carrossel” deslizante horizontal de tudo o que abrimos recentemente: livros, filmes, música, aplicações. Sob esse carrossel vê-se agora uma tradicional grelha de ícones, tal como noutros tablets – o que é bom.
Os controlos parentais são simples e eficazes. Podemos limitar o tempo de utilização diário pelos miúdos e o que eles podem usar, ver ou ler.
A Amazon começou a introduzir a sua função X-Ray em música e filmes. Algumas das canções que se compram a esta empresa (alguns milhares, ao que parece) apresentam agora letras deslizantes. E ver um filme com o painel X-Ray aberto é muito divertido: ele identifica os actores da cena que está a ver, com as suas biografias à distância de um toque, e diz-lhe o título da música de fundo.
A empresa anuncia que, numa actualização de software a ser feita em breve, poderemos passar o vídeo para uma PlayStation 3 ou um televisor Samsung enquanto continuamos a ler as informações X-Ray no Kindle Fire. Isso não compensa totalmente, porém, a perda de qualquer outra forma de ligar o Fire a um televisor (a porta HDMI desapareceu).
Mas o mais ousado e espantoso de tudo é o botão Mayday, que estabelece uma ligação imediata e gratuita a um serviço de assistência disponível 24/24 horas. Os técnicos podem ver o ecrã do nosso Kindle. Não nos vêem a nós, mas nós vemo-los (numa janelinha amovível, com uma polegada) e aceitamos o seu convite para tomar o controlo do dispositivo ou desenhar, com marcadores virtuais, em torno de elementos do ecrã.
Ora 230 dólares é um excelente preço para um tablet tão bom e tão rápido como o HDX – e este tablet da Amazon inclui finalmente um carregador de tomada. Custa mais 30 dólares que o modelo do ano passado, mas os caçadores de pechinchas talvez se satisfaçam com o remodelado Kindle Fire HD, que fica por apenas 140 dólares, embora tenha, como me disse um representante, “melhor desempenho” (tenho quase a certeza que isso quer dizer “mais rápido”).
Mas acontece que 230 dólares é também o preço do tablet Nexus 7 da Google, que também é bom e rápido, e também tem um ecrã de 323 ppp. No Kindle, contudo, vê-se um anúncio de ecrã integral sempre que o ligamos, e para nos vermos livres dele para todo o sempre temos de desembolsar mais 15 dólares. Por outros 50, podemos comprar uma capa que se acopla magneticamente e se dobra de formas estranhas para funcionar como suporte.
Portanto, qual é o melhor negócio?
Depende daquilo que procuramos. O Nexus é um verdadeiro tablet, com toda a flexibilidade e complexidade que isso implica. O Kindle Fire continua a destinar-se claramente a apresentar os livros, os programas de televisão, as músicas e os videos que compramos à Amazon.
Continua a não parecer um “verdadeiro” tablet. Ainda não tem navegação por GPS, reconhecimento de voz, lista de tarefas ou aplicação de notas. Não corre aplicações Android comuns e não pode aceder à loja Google Play, que tem para aí um milhão delas. Foram desenhadas cerca de 100 mil aplicações para o Fire, mas faltam muitas importantes, incluindo a Dropbox, o SkyDrive e tudo o que seja da Google.
Mas isto também não é um bota-abaixo. A simplicidade e a dedicação ao fim a que se destina sempre foi a principal virtude do Kindle. A Amazon deve avançar com cautela; amontoando funções, arrisca-se a atravancar este leitor eficiente e focado.
Tal como está, o Kindle Fire HDX é um deleite leve, nítido e super-rápido.
O colunista David Pogue deixou o New York Times. Esta é a última crónica no PÚBLICO.
Tradução: Maria Eugénia Colaço
©2013 The New York Times. Distributed by The New York Times Syndicate.
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Trata-se do Kindle Fire HDX. Custa 230 dólares e é espectacular. A bateria dura cerca de 11 horas, ou 17 num modo economizador, só de leitura. O som das colunas estereofónicas é excelente. A caixa de plástico pesa menos que a da versão anterior e as margens à volta do ecrã são mais estreitas. Tem uma câmara medíocre à frente para chat de vídeo (não atrás, no modelo de 7 polegadas). O único grande erro foi colocar as teclas de energia e volume atrás: vamos passar a primeira semana a carregar no botão Off por engano, ao tentar pôr o som mais alto.
O X de “HDX” refere-se à clareza do ecrã, cujos 323 minúsculos pontos por polegada o tornam mais nítido que alta definição e vulgarizam os 163 ppp do iPad Mini.
O ecrã do HDX é verdadeiramente espectacular, se bem que irritantemente reflexivo. O problema é que só se pode apreciar a nova nitidez se estivermos a ver material de fonte com uma resolução igualmente elevada. A letra de livros e revistas é ultraprecisa, mas a maior parte dos 150 mil programas de televisão e vídeos do catálogo da Amazon não melhoram. Os filmes também têm o formato errado para o ecrã: vemos faixas pretas em cima e em baixo.
Embora o Kindle se baseie no sistema operativo Android, a Amazon disfarçou-o bem.
O ecrã inicial continua a apresentar um “carrossel” deslizante horizontal de tudo o que abrimos recentemente: livros, filmes, música, aplicações. Sob esse carrossel vê-se agora uma tradicional grelha de ícones, tal como noutros tablets – o que é bom.
Os controlos parentais são simples e eficazes. Podemos limitar o tempo de utilização diário pelos miúdos e o que eles podem usar, ver ou ler.
A Amazon começou a introduzir a sua função X-Ray em música e filmes. Algumas das canções que se compram a esta empresa (alguns milhares, ao que parece) apresentam agora letras deslizantes. E ver um filme com o painel X-Ray aberto é muito divertido: ele identifica os actores da cena que está a ver, com as suas biografias à distância de um toque, e diz-lhe o título da música de fundo.
A empresa anuncia que, numa actualização de software a ser feita em breve, poderemos passar o vídeo para uma PlayStation 3 ou um televisor Samsung enquanto continuamos a ler as informações X-Ray no Kindle Fire. Isso não compensa totalmente, porém, a perda de qualquer outra forma de ligar o Fire a um televisor (a porta HDMI desapareceu).
Mas o mais ousado e espantoso de tudo é o botão Mayday, que estabelece uma ligação imediata e gratuita a um serviço de assistência disponível 24/24 horas. Os técnicos podem ver o ecrã do nosso Kindle. Não nos vêem a nós, mas nós vemo-los (numa janelinha amovível, com uma polegada) e aceitamos o seu convite para tomar o controlo do dispositivo ou desenhar, com marcadores virtuais, em torno de elementos do ecrã.
Ora 230 dólares é um excelente preço para um tablet tão bom e tão rápido como o HDX – e este tablet da Amazon inclui finalmente um carregador de tomada. Custa mais 30 dólares que o modelo do ano passado, mas os caçadores de pechinchas talvez se satisfaçam com o remodelado Kindle Fire HD, que fica por apenas 140 dólares, embora tenha, como me disse um representante, “melhor desempenho” (tenho quase a certeza que isso quer dizer “mais rápido”).
Mas acontece que 230 dólares é também o preço do tablet Nexus 7 da Google, que também é bom e rápido, e também tem um ecrã de 323 ppp. No Kindle, contudo, vê-se um anúncio de ecrã integral sempre que o ligamos, e para nos vermos livres dele para todo o sempre temos de desembolsar mais 15 dólares. Por outros 50, podemos comprar uma capa que se acopla magneticamente e se dobra de formas estranhas para funcionar como suporte.
Portanto, qual é o melhor negócio?
Depende daquilo que procuramos. O Nexus é um verdadeiro tablet, com toda a flexibilidade e complexidade que isso implica. O Kindle Fire continua a destinar-se claramente a apresentar os livros, os programas de televisão, as músicas e os videos que compramos à Amazon.
Continua a não parecer um “verdadeiro” tablet. Ainda não tem navegação por GPS, reconhecimento de voz, lista de tarefas ou aplicação de notas. Não corre aplicações Android comuns e não pode aceder à loja Google Play, que tem para aí um milhão delas. Foram desenhadas cerca de 100 mil aplicações para o Fire, mas faltam muitas importantes, incluindo a Dropbox, o SkyDrive e tudo o que seja da Google.
Mas isto também não é um bota-abaixo. A simplicidade e a dedicação ao fim a que se destina sempre foi a principal virtude do Kindle. A Amazon deve avançar com cautela; amontoando funções, arrisca-se a atravancar este leitor eficiente e focado.
Tal como está, o Kindle Fire HDX é um deleite leve, nítido e super-rápido.
O colunista David Pogue deixou o New York Times. Esta é a última crónica no PÚBLICO.
Tradução: Maria Eugénia Colaço
©2013 The New York Times. Distributed by The New York Times Syndicate.