Estrangeiros ficam com mais de 40% do capital dos CTT
Quase três milhões de acções foram transferidas dos trabalhadores para o público em geral.
A informação foi prestada nesta quarta-feira na apresentação de resultados da privatização dos correios, que passou pela dispersão de 70% do capital em bolsa. A estreia da negociação das acções da empresa ocorrerá na quinta-feira, a partir das 10h30.
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A informação foi prestada nesta quarta-feira na apresentação de resultados da privatização dos correios, que passou pela dispersão de 70% do capital em bolsa. A estreia da negociação das acções da empresa ocorrerá na quinta-feira, a partir das 10h30.
Dos 84 milhões de acções alocadas a grandes investidores, 58,8 milhões foram adquiridas por estrangeiros, o que corresponde a uma fatia de 77% da oferta disponível. Destes, 27% têm origem no Reino Unido, 13% nos Estados Unidos, 10% na Alemanha, havendo ainda uma fatia de 27% repartida por diferentes países, que não foi ainda possível apurar quais.
As restantes 25,2 milhões de acções foram compradas por investidores nacionais, dando-lhes uma participação de 14,2% no capital dos CTT. A esta fatia juntam-se outros 12,6% que foram alocados a pequenos investidores, na sua maioria portugueses. Isto significa que 26,8% do capital dos correios será controlado por accionistas nacionais.
Pequenos investidores ficam com 12,6% dos CTT
Os pequenos investidores vão controlar 12,6% do capital dos CTT, acima dos 10,5% que lhes tinham sido inicialmente destinados. Este aumento está relacionado com a fraca procura registada do lado dos trabalhadores, que tinham uma fatia de 5,25 milhões em acções ao dispor mas deram ordens de compra ligeiramente acima dos dois milhões.
Miguel Geraldes, director de mercados da Euronext, informou que o público em geral comprou cerca de 18,6 milhões de acções, quando a fasquia estava inicialmente fixada num máximo de 15,75 milhões. Foram transferidos quase três milhões de acções para este grupo de investidores que tinham sido alocadas aos trabalhadores, mas não foram compradas por estes. Nesse sentido, os actuais e antigos funcionários da empresa vão controlar apenas 1,4% do capital, quando poderiam ter chegado aos 3,5%.
Na apresentação de resultados, que diz apenas respeito à operação pública de venda inicial (OPI) no retalho (excluindo os dados relativos à alienação de acções junto de grandes investidores), foi divulgado que a fatia de capital destinada ao público em geral está repartida por 25.433 accionistas, sendo que a maioria reside em Lisboa e no Porto (50,4%). Há uma fasquia muito reduzida de investidores (1,09%) que tem origem no exterior, dos quais 0,73% na Europa.
A liquidação física das acções ocorrerá nesta quinta-feira, no mesmo dia em que os CTT se estreiam em bolsa. A negociação de acções arrancará às 10h30.
Na cerimónia de apresentação de resultados, o presidente executivo dos correios fez referência aos grandes investidores, aos quais o Governo destinou 56% do capital da empresa, afirmando que foi possível “atrair um leque muito alargado de investidores institucionais, como fundos de investimento e de pensões das maiores praças financeiras internacionais”. Francisco Lacerda considerou que a elevada procura pela operação “revela que os CTT são um activo interessante e que há vontade de investir em Portugal”.
Já o presidente da Euronext aproveitou para renovar o apelo ao Governo para que “a dispersão em bolsa seja um mecanismo a privilegiar”. “Mantemos a convicção de que, para eventuais operações futuras, o mercado deve ser um caminho a privilegiar”, frisou Luís Laginha de Sousa, durante a cerimónia, acrescentando que o modelo de venda dos CTT foi “uma boa decisão”.
“Faço votos para que outras empresas possam seguir esta via. A entrada de uma empresa com a antiguidade dos CTT também significa que a bolsa é para todas as idades e que nunca é tarde demais”, referiu o responsável, concluindo que esta operação “é um novo marco na vida dos correios, mas também do nosso mercado de capitais e, consequentemente, da nossa economia”.
O Governo decidiu, a 10 de Outubro, alienar 70% do capital dos correios em bolsa, destinando 20% da oferta ao retalho (público em geral e trabalhadores) e 80% aos grandes investidores, com o apoio de quatro bancos (Caixa Bi, JP Morgan, BBVA e BESI). Na terça-feira, o executivo fixou o preço de cada acção a alienar em 5,52 euros, o que elevou o encaixe com a operação para 580 milhões de euros e a avaliação dos CTT para 828 milhões.