Governo ucraniano supera o desafio no Parlamento, mas não o das ruas

Milhares voltaram à Praça da Independência após chumbo da moção de censura no Parlamento. Primeiro-ministro disponível para dialogar mas só se oposição levantar bloqueio à sede do Governo.

Fotogaleria

"Estamos a estender-vos a mão, afastem os intriguistas, os que procuram o poder e querem repetir o cenário de 2004”, disse o primeiro-ministro ucraniano, no debate que antecedeu a votação e em que foi várias vezes interrompido pelos apupos da oposição. Na véspera, Mikola Azarov acusara a oposição de usar as manifestações contra a recusa de Ianukovich em assinar um acordo de associação com a UE para preparar “um golpe de Estado”. Mas nesta terça-feira aproveitou a ida ao Parlamento para pedir desculpas “em nome do Governo” pela carga policial que no sábado deixou mais de 30 manifestantes feridos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

"Estamos a estender-vos a mão, afastem os intriguistas, os que procuram o poder e querem repetir o cenário de 2004”, disse o primeiro-ministro ucraniano, no debate que antecedeu a votação e em que foi várias vezes interrompido pelos apupos da oposição. Na véspera, Mikola Azarov acusara a oposição de usar as manifestações contra a recusa de Ianukovich em assinar um acordo de associação com a UE para preparar “um golpe de Estado”. Mas nesta terça-feira aproveitou a ida ao Parlamento para pedir desculpas “em nome do Governo” pela carga policial que no sábado deixou mais de 30 manifestantes feridos.

Só que, tal como acontece nas ruas, a oposição não recua. “Quem de entre vós não apoiar a moção será também responsável pelo espancamento dos nossos jovens e pela destruição do sonho europeu”, avisou Arseni Iatseniuk, líder do Pátria, o partido fundado pela ex-primeira-ministra Iulia Timochenko, actualmente na prisão. “Demita-se”, exigiu também Vitali Klitchko, antigo campeão de boxe e líder do partido Udar.

A moção de censura obteve 186 votos a favor, a 40 da fasquia necessária para ser aprovada, mas apesar dos sinais de também no Partido das Regiões (pró-russo, no poder) há quem discorde da estratégia presidencial, a bancada manteve-se unida, boicotando a votação.

Enquanto decorria o debate, centenas de pessoas concentraram-se frente ao Parlamento, numa confrontação tensa com as forças antimotim. A manifestação dispersou-se, mas ao final da tarde um grupo de dimensão semelhante acompanhou os líderes da oposição até à sede da presidência, onde não tiveram quem os recebesse, e já ao cair da noite cerca de 20 mil pessoas estavam de novo concentradas na Praça da Independência.

Azarov abriu a porta ao diálogo – “Estamos dispostos a ouvir as críticas e a dialogar com representantes dos manifestantes e dos partidos da oposição” –, mas apenas se for levantado o bloqueio, que dura há já dois dias, à sede do Governo. Uma condição que torna mais difícil a saída do impasse: “Peço-vos que não baixeis os braços. Precisamos de um novo poder”, apelou Klitchko aos manifestantes reunidos no centro de Kiev.

Apelos que, pouco a pouco, encontram eco dentro dos círculos do poder. Quatro diplomatas, incluindo os embaixadores na ONU e na Polónia, criticaram a repressão policial, a mesma razão que levou à demissão do chefe de gabinete do Presidente. “Todas as pessoas razoáveis sabem que não podemos derramar sangue na Ucrânia. Historicamente isso não se perdoa”, disse Inna Bogoslovskaia, deputada que decidiu abandonar a bancada do Governo.

Apesar da tensão, o Presidente decidiu manter a viagem que tinha agendado à China, durante a qual espera assinar vários acordos. “Ianukovich está a tentar mostrar que a UE e a Rússia não são os únicos parceiros possíveis da Ucrânia”, disse à Reuters o analista ucraniano Volodimir Fesenko, apesar de admitir que a sua ausência tornará mais difícil qualquer compromisso para a saída da crise.