Uma artista chamada Laure Prouvost roubou o Turner a Tino Sehgal

Artista francesa radicada em Londres ganha mais de 30 mil euros com instalação de vídeo dedicada a Kurt Schwitters e povoada de serviços de chá.

Fotogaleria

Sehgal, que aos 34 anos, em 2010, esvaziou o Guggenheim de Nova Iorque para uma das suas exposições, está entre os nomes mais afirmados nos circuitos internacionais nos últimos anos, e a imprensa britânica não deixou de imediatamente revelar a sua surpresa: “Com júris, nunca se sabe, mas eu esperava mesmo que ganhasse o Tino Sehgal”, escreveu no Guardian o influente crítico Adrian Searl, que já fez parte do júri do Turner.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Sehgal, que aos 34 anos, em 2010, esvaziou o Guggenheim de Nova Iorque para uma das suas exposições, está entre os nomes mais afirmados nos circuitos internacionais nos últimos anos, e a imprensa britânica não deixou de imediatamente revelar a sua surpresa: “Com júris, nunca se sabe, mas eu esperava mesmo que ganhasse o Tino Sehgal”, escreveu no Guardian o influente crítico Adrian Searl, que já fez parte do júri do Turner.

Para a exposição de que anualmente, desde 1984, sai o vencedor do prémio, Prouvost retrabalhou uma instalação que criou para uma exposição do princípio do ano na Tate Britain dedicada ao pintor, escultor e escritor alemão Kurt Schwitters. A artista recriou uma cozinha de campo decorada com esculturas e bules de chá, tudo supostamente feito pelo seu avô, também artista – uma figura ficcional frequentemente evocada na obra de Prouvost e à qual, nesta instalação, é dedicado um vídeo sobre o desaparecimento.

Wantee foi originalmente concebida como resposta directa à obra e biografia de Schwitters com o título a evocar uma namorada deste, Edith Thomas, a quem Schwitters chamava Wantee por estar sempre a perguntar à visitas se queriam chá (want tea?).

Na narrativa da sua instalação, o suposto avô de Prouvost, bem como outros seus parentes, teriam conhecido Schwitters.

O júri, composto pela directora da Tate Britain, Penelope Curtis, pela curadora Annie Fletcher e pelo ensaísta e professor Declan Long, sublinhou a forma como Prouvost usou o vídeo “de uma forma absolutamente contemporânea: “Trabalhando a partir de memórias pessoais, Prouvost tece factos, ficção, história da arte e tecnologias modernas. Leva o público para um mundo interior, enquanto referencia as imagens em streaming de uma era pós-Internet.”

Penelope Curtis, presidente do júri, referiu ainda a “abordagem singular” da artista ao universo do cinema, fazendo notar que Prouvost recorre “à narração de histórias, a cortes bruscos, à montagem e um deliberado mau uso da língua para criar trabalhos surpreendentes e imprevisíveis”.

Prouvost formou-se em Belas Artes pela prestigiada Central Saint Martins em 2001. A sua vitória foi anunciada ao início da noite de segunda-feira pela actriz Saoirse Ronan numa cerimónia em Londonderry, na Irlanda do Norte, que é este ano a Capital da Cultura (City of Culture) no Reino Unido e que levou o Turner a sair pela primeira vez de Inglaterra.

Com uma história marcada por sucessivas polémicas, o prémio tinha este ano como nomeados a artista britânica de origem ganesa Lynette Yiadom Boakye e o artista plástico e humorista escocês David Shrigley, para além de Prouvost e Sehgal.

“Não posso deixar de pensar que Sehgal é o melhor artista na exposição”, escreveu Searl.

Entre os vencedores da história do prémio estão artistas como a dupla Gilbert & George (que em 1986 deixou para trás o colectivo Art & Language, de Michael Baldwin e Mel Ramsden), ou Tony Cragg, que em 1988 deixou Lucian Freud, Richard Long e Richard Hamilton preteridos. Entre os vencedores mais recentes estão Elizabeth Price, Martin Boyce e Susan Philipsz, que deixou para trás os mais reconhecidos The Otolith Group, de Kodwo Eshun  e Anjalika Sagar.