Barroso denuncia "veto" da Rússia à aproximação entre a Ucrânia e a UE

Recusa de Kiev em assinar o acordo de associação coloca num impasse a política de aproximação dos Vinte Oito ao antigo bloco soviético.

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O tempo “da soberania limitada na Europa acabou”, disse Barroso JANEK SKARZYNSKI/AFP

O tempo “da soberania limitada na Europa acabou”, disse o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, no final da cimeira em Vílnius, na Lituânia. Dos seis países da Parceria Oriental, que abrange a Geórgia, Moldávia, Arménia, Bielorrússia e Azerbaijão, além da Ucrânia, apenas os dois primeiros aceitaram assinar um acordo de associação com a UE – instrumentos destinados a fomentar as trocas comerciais e a incentivar os países vizinhos a efectuar reformas políticas e económicas que os coloquem em rota de aproximação à união.

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O tempo “da soberania limitada na Europa acabou”, disse o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, no final da cimeira em Vílnius, na Lituânia. Dos seis países da Parceria Oriental, que abrange a Geórgia, Moldávia, Arménia, Bielorrússia e Azerbaijão, além da Ucrânia, apenas os dois primeiros aceitaram assinar um acordo de associação com a UE – instrumentos destinados a fomentar as trocas comerciais e a incentivar os países vizinhos a efectuar reformas políticas e económicas que os coloquem em rota de aproximação à união.

A Ucrânia, com os seus recursos naturais, um vasto território e um PIB que excede em muito os outros países da região, era um pilar desta aproximação a Leste, mas o “namoro” de Bruxelas colide com os interesses da Rússia, apostada em ver o país juntar-se a outras ex-repúblicas soviéticas na união aduaneira que lidera. Ianukovich, visto como pró-russo mas que tem mantido relações atribuladas com Moscovo, acabou por ceder à pressão e, na semana passada, anunciou a suspensão das negociações com Bruxelas. Nem os protestos pró-europeus que encheram muitas das cidades do Oeste (na região oriental a maioria da população é russófona), nem as propostas de compromisso feitas por dirigentes europeus convenceram o Presidente ucraniano a recuar.

“Vejo isto como uma derrota para a Ucrânia”, disse a Presidente lituana, Dalia Gribauskaite, anfitriã da reunião europeia, acusando Ianukovich de “limitar as esperanças dos ucranianos num futuro melhor”. No final da reunião, o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, assegurou que o acordo “continua sobre a mesa”, mas avisou que só poderá ser assinado se Kiev “deixar de lado as considerações de curto prazo e as pressões vindas do exterior”.

Uma referência à Rússia que Durão Barroso fez questão de deixar mais clara quando rejeitou liminarmente a proposta de Ianukovich para incluir Moscovo nas negociações. “Não podemos aceitar como condição para um acordo bilateral uma espécie de possível veto da parte de um país terceiro”, disse o líder do executivo europeu, assegurando que a UE “não vai ceder a pressão externa, incluindo da Rússia”.

A confirmação de que não haveria acordo desencadeou novos protestos em Kiev – “Cobarde, cobarde”, gritaram manifestantes pró-europeus reunidos na Praça da Independência, relatou a Reuters. Ianukovich disse que a Ucrânia pretende assinar “num futuro próximo” o acordo de associação com a UE e que esta “pausa forçada não significa a suspensão das reformas necessárias com vista a uma integração europeia”. Mas é improvável que isso aconteça enquanto ele estiver no poder, quer por causa da sua dependência face a Moscovo, quer porque continua a exigir montantes de ajuda financeira que a UE não está disposta a desembolsar.

Com a recusa da Ucrânia, é toda a estratégia da UE em relação às antigas repúblicas soviéticas que entra num impasse e admite-se que Bruxelas possa mesmo optar por um travão na aproximação. Mas vários analistas russos ouvidos pela AFP dizem que também o Presidente russo, Vladimir Putin, tirará poucos proveitos deste braço de ferro com a UE, já que apesar dos incentivos prometidos é improvável que Kiev adira à sua união aduaneira. “Esta é uma vitória que vai custar caro ao orçamento russo e sem nenhum benefício estratégico”, explicou Nikolai Petrov, professor da Escola Superior de Economia de Moscovo.