Alcino Soutinho, um homem elegante e sedutor, que falava com uma bonomia que não se confundia com displicência, era uma figura central da Escola do Porto. Podemos sentir maior ou menor empatia com a sua obra, mas é sempre evidente a solidez da construção, o manuseamento adequado dos materiais, o saber técnico ao serviço de uma ideia de arquitectura.

A arquitectura de Soutinho nunca pretendeu ser heróica como a de Álvaro Siza, companheiro de viagem, nem é tão marcada pela história como a de Fernando Távora. Mas Soutinho destacou-se na arquitectura portuguesa como um profissional eficaz e rigoroso, que nunca se quis confundir com um tecnocrata. Soutinho era o raro arquitecto, em Portugal, que se expressava pela construção mais do que pelo desenho.

Podemos dizer que procurava uma arquitectura corrente, o que não significa o mesmo que vulgar, no que é uma permanente miragem da Escola do Porto. Particularmente nos edifícios de habitação que foi construindo em Matosinhos, Gaia e no Porto, a partir dos anos 1990, Soutinho conseguiu esse raro equilíbrio entre a sobriedade e a cultura arquitectónica.

Não são edifícios neutros ou banais, mas discretos; cultos mas despretensiosos. Um bom exemplo disso é o conjunto residencial na Quinta das Sedas (Matosinhos, 2000), uma estrutura de grande urbanidade, qualificando uma área periférica com uma arquitectura sólida e experimentada, e não tentativa ou experimental, como é agora recorrente. 
O que não significa que fosse indiferente aos estilos e modas que se foram sucedendo, desde que começou a projectar em 1960. A Pousada do Castelo em Vila Nova de Cerveira (1973) é um exercício com influência de Alvar Aalto; na Casa Carlos de Sousa (Porto, 1984), podemos falar de um revivalismo art deco; no Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante (1978), há um classicismo seco e pragmático que pronuncia a futura Câmara de Matosinhos.

Alcino Soutinho, um homem elegante e sedutor, que falava com uma bonomia que não se confundia com displicência, era uma figura central da Escola do Porto. Podemos sentir maior ou menor empatia com a sua obra, mas é sempre evidente a solidez da construção, o manuseamento adequado dos materiais, o saber técnico ao serviço de uma ideia de arquitectura.

A arquitectura de Soutinho nunca pretendeu ser heróica como a de Álvaro Siza, companheiro de viagem, nem é tão marcada pela história como a de Fernando Távora. Mas Soutinho destacou-se na arquitectura portuguesa como um profissional eficaz e rigoroso, que nunca se quis confundir com um tecnocrata. Soutinho era o raro arquitecto, em Portugal, que se expressava pela construção mais do que pelo desenho.

Podemos dizer que procurava uma arquitectura corrente, o que não significa o mesmo que vulgar, no que é uma permanente miragem da Escola do Porto. Particularmente nos edifícios de habitação que foi construindo em Matosinhos, Gaia e no Porto, a partir dos anos 1990, Soutinho conseguiu esse raro equilíbrio entre a sobriedade e a cultura arquitectónica.

Não são edifícios neutros ou banais, mas discretos; cultos mas despretensiosos. Um bom exemplo disso é o conjunto residencial na Quinta das Sedas (Matosinhos, 2000), uma estrutura de grande urbanidade, qualificando uma área periférica com uma arquitectura sólida e experimentada, e não tentativa ou experimental, como é agora recorrente. 
O que não significa que fosse indiferente aos estilos e modas que se foram sucedendo, desde que começou a projectar em 1960. A Pousada do Castelo em Vila Nova de Cerveira (1973) é um exercício com influência de Alvar Aalto; na Casa Carlos de Sousa (Porto, 1984), podemos falar de um revivalismo art deco; no Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante (1978), há um classicismo seco e pragmático que pronuncia a futura Câmara de Matosinhos.

Soutinho foi provando ser capaz de integrar o mesmo rigor estrutural e construtivo em diversas facetas estilísticas, que foram testando a passagem do tempo. Aliás, a prova da sua sabedoria está no modo como os seus edifícios resistem, estrutural e construtivamente, à passagem do tempo.

O ponto alto do seu percurso, e deste difícil equilíbrio entre o decoro e a contaminação, é a celebrada Câmara de Matosinhos (1981).Um símbolo do poder autárquico conquistado com o 25 de Abril, a Câmara de Matosinhos reflecte a complexa premissa de ser um edifício representativo dos cidadãos sem ser ostensivamente monumental ou retórico.

Neste passo, Soutinho entra no debate do pós-modernismo, isto é, na pesquisa de elementos comunicantes para a arquitectura, por oposição à vocação “abstracta” da tradição moderna. Mas entra nos seus próprios termos, levando consigo uma testada experiência construtiva e a clara afeição à expressão sólida dos materiais. Estando, deste ponto de vista, muito longe da cultura de “papel”, de néon ou de tinta plástica, do pós-modernismo mais panfletário.

De qualquer modo, com a adopção de dispositivos arquitectónicos abrangentes, clássicos e modernistas, Soutinho mostra-se capaz de romper o círculo intimista e abstracto que era então tendência notória na arquitectura do Porto. Se a fachada é um porticado ondulante de inspiração clássica, no átrio principal Soutinho reintroduz o uso do azulejo na arquitectura “erudita”, enquanto a lógica de open space trai a genealogia moderna que nunca chegou a contestar. Com esta vivacidade, mas sem falta de decoro, a Câmara de Matosinhos transforma-se no edifício que faz a improvável ligação entre a tradição da Escola do Porto e o debate mais internacional e lisboeta dos anos 1980.

Se este edifício é o ícone, a Sede Norte do BPI (1993), na Avenida da Boavista, no Porto, representa o ponto alto de uma arquitectura que se presume como “corrente”, mas que é, na verdade, muito sabedora, culta e instigante. Está para o edifício de escritórios como a Câmara de Matosinhos para o poder autárquico. Inspirado na Escola de Chicago, como uma arquitectura intensa e evocativamente urbana, mais uma vez Soutinho encontra o registo certo entre a consistência construtiva, uma certa vocação decorativa e a sobriedade do edifício de escritórios como parte de um todo maior. No seu historicismo suave, quase velado, o BPI é também um edifício do seu tempo que resiste a passar à história.

Nas obras dos últimos anos, Soutinho redescobre, de acordo com o “espírito do tempo”, a genealogia modernista que, na verdade, nunca tinha explorado. A Biblioteca Florbela Espanca (2000) e o Auditório Municipal (2009), em Matosinhos, e o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira (2001), denotam uma tentação neomodernista que se percebe, embora eventualmente não seja tão convincente como as obras mais híbridas dos anos 1980/1990. É claro que falamos de edifícios irrepreensíveis no plano estrutural e construtivo, de grande consistência cultural e técnica.

No conjunto, Alcino Soutinho, figura nuclear da Escola do Porto, tinha, de facto, uma abordagem singular, capaz de integrar as instabilidades da cultura arquitectónicas sem trair a sua visão pessoal.

Pode parecer simples, mas não há outro arquitecto igual. Sendo um arquitecto do Porto, era um arquitecto europeu, movendo-se sem aparente melancolia e com uma civilidade que não saberemos reencontrar. 

Crítico de arquitectura