Meia centena de professores em vigília de velas contra a prova de avaliação
Entre os manifestantes estavam professores efectivos que se recusam a vigiar a prova marcada para 18 de Dezembro.
Ana Baltazar foi das primeiras a chegar, é uma das professoras da educação especial que este ano não conseguiu colocação e defende que as políticas do Ministério da Educação “estão a dar cabo do ensino”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ana Baltazar foi das primeiras a chegar, é uma das professoras da educação especial que este ano não conseguiu colocação e defende que as políticas do Ministério da Educação “estão a dar cabo do ensino”.
Aos poucos foram chegando outros docentes, alguns acompanhados por amigos e familiares que ajudavam a compor a massa humana. Ao todo 54 pessoas estiveram reunidas à volta da estátua de D.Pedro IV, no Rossio.
José Oliveira é professor de inglês e é um dos docentes efectivos que junta a sua voz ao protesto dos professores contratados contra a prova de avaliação que se vai realizar no próximo dia 18 de Dezembro. Chegou ao Rossio em cima da hora, vinha de Coimbra onde se realizou um reunião convocada pelas comissões de luta da Educação e de onde saíram três medidas essenciais: apelar para que os professores contratados não se inscrevam na prova, organizar um cordão humano à volta das escolas onde se realizarão as provas e por último a intenção de muitos professores de acamparem na próxima segunda-feira numa das praças mais emblemáticas da cidade de Coimbra, a praça D.Dinis, rei que fundou a centenária Universidade.
José Oliveira é um dos muitos professores que promete fazer greve no dia 18 de Dezembro por considerar que a prova a que os seus colegas serão chamados “não avalia nada, vale zero e não faz qualquer sentido”.
Entre os manifestantes estavam outros professores efectivos que se recusam a vigiar ou corrigir a prova de avaliação dos professores contratados. “Eu recuso-me a vigiar colegas, recuso-me”, advogava uma professora que preferiu não se identificar. “Se eu e outros colegas participarmos neste ataque aos nossos colegas, podemos estar certos de uma coisa: os próximos somos nós”, acrescentou.
Catariana Gouveia é professora contratada, não do ensino público, mas do ensino privado. Para continuar a ensinar biologia/geologia não vai ter de realizar a “mal fadada” prova, mas resolveu participar na vigília por solidariedade com os colegas de profissão. “A prova é desnecessária e humilhante, é absolutamente ridícula e as questões nem ajudam a avaliar qualquer competência para ensinar”, argumentava Catarina à medida que os outros professores acendiam mais velas e penduravam bandeiras onde estavam inscritas palavras como “A Escola Pública não aguenta mais esta política” ou “Não vigiamos colegas”.
Maria Domingues é professora de português como sempre sonhou mas está neste momento desempregada. “Sou a favor do rigor mas só peço que nos avaliem de outra forma. Eu deixava o ministro Nuno Crato entrar, sentar-se e assistir à minha aula porque é na prática que os professores devem ser avaliados, não é através de exames”, advogava a professora que entre 2002 e 2010 se sujeitou a dar aulas a recibos verdes.
Ilídia Pinheiro leccionava físico-química como professora contratada até ao ano passado, este ano ficou de fora das colocações e é uma das muitas vozes que não concorda com a prova, “Já fiz uma prova quando me candidatei ao mestrado via ensino e isto não tem outro objectivo senão afastar os professores do ensino”.
Posição partilhada por Elizabete Dias, professora aposentada do 1º ciclo que veio acompanhar a filha, também professora, e mostrar a sua solidariedade com a classe dos professores. “O ministério está a pôr em causa todo o sistema de ensino em Portugal porque estes professores já foram avaliados em licenciaturas, mestrados e até doutoramentos”, explica Elizabete. “Isto é fazer uma selecção perigosa, a selecção natural e vai acabar por fazer com que muitos professores trabalhem por qualquer preço, é uma farsa”, rematou
Durante a vigília um megafone andava de mão em mão, a mensagem era unânime: “A prova é uma manobra do governo para pôr mais professores na rua”, “A prova é um ataque à escola pública”.