Kerry foi a Genebra para negociar "os pontos finais do acordo" sobre o nuclear iraniano
Os ministros dos Negócios Estrangeiros de todos os países envolvidos estão reunidos, o que provoca expectativas. Mas o optimismo é temperado com avisos.
O primeiro sinal encorajador tinha sido dado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, quando disse que pela primeira vez em muitos anos parecia estar perto um acordo com o Irão sobre o programa nuclear da República Islâmica. Depois foi a chegada do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, a Genebra, neste sábado, para “ajudar a negociar os pontos finais”.
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O primeiro sinal encorajador tinha sido dado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, quando disse que pela primeira vez em muitos anos parecia estar perto um acordo com o Irão sobre o programa nuclear da República Islâmica. Depois foi a chegada do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, a Genebra, neste sábado, para “ajudar a negociar os pontos finais”.
Fonte norte-americana explicava que a ida de Kerry a Genebra não significava que houvesse um acordo pronto a assinar, mas sim que depois de bons progressos nas conversações o secretário de Estado queria estar no local para ajudar a negociar os pontos que ainda estão em discórdia. “Ele não vai ficar à espera de que lhe digam que há um acordo e demorar dez horas a chegar lá”, disse a fonte ao New York Times.
Chegando a Genebra um após o outro, outros responsáveis iam alertando para as dificuldades. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, disse: “Queremos um acordo, mas um acordo sólido, e estou aqui para trabalhar para esse objectivo.” A França tem tido uma posição mais dura, pedindo mais garantias ao Irão. Já da última vez em que se juntaram os responsáveis dos Negócios Estrangeiros em Genebra, há duas semanas, foi a França quem colocou as exigências que o Irão não aceitou.
Também já em Genebra, o responsável do Reino Unido, William Hague, notou que as conversações “continuam difíceis”, sublinhando que apesar da aproximação dos dois lados (Irão, por um lado, e o grupo 5+1 – EUA, Reino Unido, França, China, Rússia, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e a Alemanha) há ainda diferendos sobre questões importantes.
O próprio ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, sublinhava que ainda havia vários pontos de desacordo. Enquanto isso, seguindo o padrão de tom de cautela intercalado com tom animador do dia de sábado, uma das agências mais importantes do Irão, a Isna (a agência dos estudantes), citou um negociador dizendo que ainda que haja “diferenças entre os dois lados”, estes estão “perto de um acordo”.
Relatos na imprensa norte-americana davam conta de uma solução na formulação de uma das questões-chave – o Irão queria ver garantido o seu direito ao enriquecimento de urânio, os EUA, não. Aparentemente, uma solução aceitável para os dois lados foi encontrada, sem um reconhecimento explícito de um direito geral ao enriquecimento de urânio mas um acordo em que o país poderia continuar a enriquecê-lo como até agora, a 3,5% (para obter armas nucleares o enriquecimento terá de ser a 90%).
Mais difícil estava a questão do reactor de água pesada de Arak, que produziria plutónio, outra matéria-prima de armas nucleares (o Irão diz que produzirá isótopos para fins médicos). Se chegar a entrar em funcionamento – as autoridades iranianas estimam que será no próximo Verão –, será muito difícil pará-lo e um ataque a instalações nucleares teria um risco ainda maior de libertação de substâncias radioactivas, dizem analistas.
Um responsável europeu comentava que havia já matéria de acordo para que o Irão pudesse “clamar vitória”. “A questão é sentirem que em casa isto parece bem.”
Os EUA já disseram que caso seja conseguido um acordo inicial – este será apenas preliminar, para que recomecem então as negociações mais pormenorizadas, que deverão demorar seis meses –, as sanções impostas pelos EUA serão aliviadas no correspondente a seis a sete mil milhões de dólares.
Depois de uma década de avanços e recuos e de profunda desconfiança em conversações sobre o programa nuclear iraniano, as notícias desta sexta-feira e sábado parecem prometedoras, mas todos os envolvidos não deixam de mostrar ainda uma enorme cautela.