A Sexta de Bicicleta de Laura Alves
Vai de bicicleta para o trabalho, pedalando pela Av. 24 de Julho. É "uma animação matinal interessante", diz a jornalista de 35 anos, que gosta de fazer valer a sua presença junto dos carros
Laura Alves, 35 anos, é jornalista e, entre muitas outras coisas, co-autora do livro "A Gloriosa Bicicleta — Compêndio de Costumes, Emoções e Desvarios em Duas Rodas". Vive em Lisboa desde 1999, é natural de Tábua, Coimbra.
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Laura Alves, 35 anos, é jornalista e, entre muitas outras coisas, co-autora do livro "A Gloriosa Bicicleta — Compêndio de Costumes, Emoções e Desvarios em Duas Rodas". Vive em Lisboa desde 1999, é natural de Tábua, Coimbra.
Tem carta de condução mas nunca teve carro, pois na capital nunca achou que fosse absolutamente necessário. Inspirada por um colega de trabalho que de vez em quando pedalava de Algés até à Baixa, comprou uma bicicleta e passou a pedalar pela Av. 24 de Julho entre casa e trabalho — bem humorada, considera a experiência "uma animação matinal interessante". Mas diz-se "teimosa" e gosta de fazer valer a sua presença junto dos carros.
O que muda na tua vida em cada Sexta de Bicicleta?
Não muda nada em concreto, porque normalmente também uso a bicicleta nos restantes dias, seja para ir trabalhar, seja para ir ter com os amigos a algum lado. Se por acaso não usar a bicicleta por alguma razão, ando de transportes públicos. Mas de forma global, tanto à sexta como nos restantes dias sou, sem dúvida, uma pessoa muito mais feliz e livre pelo facto de usar a bicicleta como meio de transporte.
Alguns mitos (sobre a utilização da bicicleta) que tenhas vencido?
Creio que o principal receio, sentido quando comecei a andar de bicicleta em Lisboa, era o caos do trânsito automóvel. Foi rapidamente ultrapassado com uma boa dose de condução defensiva, sempre com um olho na estrada e outro nos carros em redor. Subir algumas ruas mais inclinadas pode ser um factor desmotivador, mas a verdade é que nos meus percursos normais não preciso de fazer grandes subidas e, em todo o caso, há sempre formas de contornar grandes inclinações, mesmo que tenha de se fazer um ou dois quilómetros extra.
O que poderia melhorar nos percursos que realizas?
De uma forma geral, o civismo dos condutores, que muitas vezes se recusam a partilhar a estrada com quem vai de bicicleta, e fazendo questão de mostrar o seu desagrado de várias formas, algumas delas perigosas. Na estrada, em Lisboa, circula-se com muito nervosismo, e há condutores que são autênticas bombas em vias de explosão. Esta mentalidade não se muda de um dia para o outro, é certo, mas é sempre bom falar disto, para que a mensagem vá passando. As bicicletas também são trânsito, não têm nada que ir para o passeio, como já ouvi — aliás, nem devem ir, por lei. Acho ainda que faz falta mais parqueamento específico para bicicletas, nas ruas e à entrada de todo o tipo de estabelecimento, equipamento cultural, etc. Quanto a ciclovias, sim, também fazem falta, desde que sejam ciclovias bem planeadas, que contribuam de facto para a emancipação da ciclocultura, e não sejam, pelo contrário, empecilhos e vias perigosas para circular.
Uma pessoa da praça pública que gostarias de ver a andar de bicicleta e porquê?
O senhor Carlos Barbosa, presidente do ACP — Automóvel Clube de Portugal. Para que possa verificar, pessoalmente, porque é que a bicicleta faz tão bem à alma e porque é que pedalar faz de nós pessoas mais felizes. Talvez dessa forma evitasse dizer publicamente algumas das coisas que pensa.
O que tens a dizer a quem diz que andar de bicicleta na tua cidade é impossível?
Que experimente. Devagar e com calma. Que vá a passeios e eventos relacionados com a bicicleta, que são sempre uma boa forma de conhecer pessoas fantásticas e obter alguns conselhos sobre percursos. Que não faça caso dos "Velhos do Restelo" que acham que tudo é muito difícil. E que não tenha vergonha de ir a pé com a bicicleta se a subida for demasiado íngreme. Vergonha é nem sequer tentar.
Um momento em que te sentes mesmo bem a andar de bicicleta.
Apesar de ser ciclista urbana, quando posso saio da cidade para dar uma volta, de preferência grande. Pedalar na cidade é bom, mas não é relaxante, devido à necessidade de estar constantemente alerta. Também gosto desse frenesim, e do regresso a casa já com pouco trânsito, em que há margem para reflectir, pedalando devagar por ruas labirínticas. Mas gosto, sobretudo, de pedalar em campo aberto, em pequenas estradas, no meio da natureza e passando por pequenas terriolas, cumprimentando as pessoas à beira da estrada e parando para beber um copo e comer um petisco. Ver o mundo desta forma vagarosa e amigável é das melhores coisas que há.