Quais terão sido “as algemas invisíveis” que mantiveram três mulheres escravas 30 anos em Londres?
A Scotland Yard diz nunca ter lidado com nada como este caso. A mais jovem das mulheres, de 30 anos, nunca terá saído de casa.
As três mulheres estão profundamente traumatizadas e é difícil interrogá-las para compreender a história de uma malaia de 60 anos, uma irlandesa de 57 anos e uma britânica de 30 anos. “Precisamos de tempo para trabalhar com as três mulheres, que estão muito traumatizadas. Pensamos que a mais jovem nunca esteve em contacto com o mundo exterior”, relatou o detective Kevin Hyland, falando da mulher britânica.
Eram mantidas em cativeiro por um casal de sexagenários, que não é de nacionalidade britânica. O casal, que está há muitos anos no Reino Unido, foi detido na quinta-feira e foi ontem libertado, sob caução, até Janeiro, enquanto a polícia continua a investigação pela acusação de trabalhos forçados e esclavagismo.
As autoridades estão a investigar se a mulher mais jovem, que se crê ter nascido dentro da casa, será filha da irlandesa e do suspeito de 67 anos, que as mantinha em cativeiro.
Os dois membros do casal, ambos de 67 anos, foram presos na década de 1970, por suspeita de violações da lei da imigração e também em relação com um caso de escravatura e servidão doméstica, avançou a polícia. Este caso evoca outros de longos sequestros como os das três mulheres raptadas por Ariel Castro, em Cleveland, Ohio (EUA) ou de Elisabeth Fritzl, mantida em cativeiro pelo próprio pai, na Áustria.
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As três mulheres estão profundamente traumatizadas e é difícil interrogá-las para compreender a história de uma malaia de 60 anos, uma irlandesa de 57 anos e uma britânica de 30 anos. “Precisamos de tempo para trabalhar com as três mulheres, que estão muito traumatizadas. Pensamos que a mais jovem nunca esteve em contacto com o mundo exterior”, relatou o detective Kevin Hyland, falando da mulher britânica.
Eram mantidas em cativeiro por um casal de sexagenários, que não é de nacionalidade britânica. O casal, que está há muitos anos no Reino Unido, foi detido na quinta-feira e foi ontem libertado, sob caução, até Janeiro, enquanto a polícia continua a investigação pela acusação de trabalhos forçados e esclavagismo.
As autoridades estão a investigar se a mulher mais jovem, que se crê ter nascido dentro da casa, será filha da irlandesa e do suspeito de 67 anos, que as mantinha em cativeiro.
Os dois membros do casal, ambos de 67 anos, foram presos na década de 1970, por suspeita de violações da lei da imigração e também em relação com um caso de escravatura e servidão doméstica, avançou a polícia. Este caso evoca outros de longos sequestros como os das três mulheres raptadas por Ariel Castro, em Cleveland, Ohio (EUA) ou de Elisabeth Fritzl, mantida em cativeiro pelo próprio pai, na Áustria.
A libertação das três mulheres já ocorreu a 25 de Outubro, depois de a irlandesa ter visto uma reportagem na televisão em que aparecia Aneeta Prem, fundadora da organização não-governamental Freedom Charity, que luta contra os casamentos forçados. Aparecia no ecrã um número de telefone para pedir ajuda, e a irlandesa reuniu coragem para ligar, a 18 de Outubro.
Não foram vítimas de tráfico
Estas mulheres não são vítimas de tráfico humano, diz o Guardian, e por isso a polícia não está à procura de mais vítimas. “O que descobrimos é um cenário complicado e perturbante de controlo emocional que dura há muitos anos; lavagem ao cérebro seria a forma mais simples de o definir”, disse o comandante Steve Rodhouse, da Scotland Yard, citado pelo diário britânico.
A mulher mais velha já vivia no Reino Unido e estava na casa dos suspeitos há mais de 30 anos. A irlandesa terá sido sequestrada pelo casal. E a mais jovem poderá ter nascido naquela casa, sem nunca ter tido contacto com o mundo exterior. Todas terão sido sujeitas a maus tratos “físicos, psicológicos e mentais”, adiantou o detective Kevin Hyland.
A polícia revelou que as mulheres podiam sair de casa mas sempre acompanhadas e que, eventualmente, se trata de alguma espécie de culto, uma vez que o controlo emocional era total. Em casa, eram obrigadas a fazer determinadas tarefas, sempre supervisionadas.
Após o telefonema para a Freedom Charity, outros se seguiram, para ganhar a confiança das mulheres, até combinar um dia em que elas pudessem sair da casa pelo seu próprio pé – o que aconteceu a 25 de Outubro. “Quando nos encontrámos, lançaram-se nos meus braços, a chorar, e agradeceram-me por lhes ter salvo a vida. Houve muitas lágrimas, foi muito emocionante”, contou Aneeta Prem à televisão britânica ITV.
Escravatura moderna
O caso é chocante e é inédito por ter durado tanto tempo, mas a escravatura, abolida quase há 200 anos, continua a existir na Europa. Ainda a 23 de Outubro, recorda a AFP, um octogenário e a sua esposa foram condenados no Reino Unido a penas de 13 e cinco anos de prisão, por exploração e violação durante dez anos de uma jovem paquistanesa surda e muda.
A história das três mulheres “é horrível”, disse à BBC Andrew Wallis, presidente da associação Unseen (sem serem vistos). “Mas apenas ilustra um problema que se estende ao mundo inteiro.” No mês passado, uma organização não-governamental britânica calculou entre 4200 e 4600 o número de vítimas, no Reino Unido, de alguma forma de escravatura moderna, como trabalho forçado, tráfico de seres humanos e casamentos forçados.
“É preciso compreender que estes casos não são raros. A escravatura moderna é uma realidade e existe no Reino Unido”, alertou Frank Field, vice-presidente da Fundação contra o Tráfico de Seres Humanos.