Onde Atenas vê “resultados tangíveis”, a troika vê “questões por resolver”

Bruxelas está menos optimista do que o Governo grego sobre o Orçamento para 2014. Presidente do Eurogrupo diz que zona euro está a “perder a paciência” com a Grécia.

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Samaras recebeu, no Museu da Acrópole, a secretária do Comércio dos EUA, Penny Pritzker ARIS MESSINIS/AFP

No dia em que a versão final da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2014 foi apresentada no Parlamento, Simon O'Connor, porta-voz da Comissão Europeia, dizia em Bruxelas: “Não posso dizer que estamos totalmente de acordo com este orçamento.” Uma declaração que acentua o clima de tensão entre Atenas e a troika, e que não passa à margem das incertezas que a zona euro diz existirem sobre o cumprimento dos objectivos orçamentais.

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No dia em que a versão final da proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2014 foi apresentada no Parlamento, Simon O'Connor, porta-voz da Comissão Europeia, dizia em Bruxelas: “Não posso dizer que estamos totalmente de acordo com este orçamento.” Uma declaração que acentua o clima de tensão entre Atenas e a troika, e que não passa à margem das incertezas que a zona euro diz existirem sobre o cumprimento dos objectivos orçamentais.

Para quem saiu às ruas da capital, nesta quinta-feira, em protesto contra as medidas de austeridade, o orçamento representa mais um passo no sentido errado e um sinal daquilo que dizem ser o falhanço das políticas económicas e financeiras aplicadas com a supervisão externa. Para o executivo, o OE é um sinal de estabilização da economia depois de seis anos de recessão.

Essa ideia foi reforçada nesta quinta-feira pelo primeiro-ministro, no mesmo dia em que a troika notou, em comunicado, que “algumas questões continuam por resolver”. O que estará em cima da mesa na próxima visita a Atenas, a missão externa não disse, mas, numa altura em que um terceiro resgate financeiro ainda é um cenário em aberto, os parceiros europeus insistem que nem tudo correu como o previsto no actual programa e exigem compromissos ao Governo helénico.

O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, deixou mesmo cair a ideia de que os ministros das Finanças da zona euro estão a “perder a paciência” com o caso grego. Numa entrevista publicada nesta quinta-feira no jornal grego Ta Néa, que a AFP cita, o responsável refere-se em concreto à “falta de progressos” na concretização de reformas estruturais.

Uma visão mais optimista foi dada nesta quinta-feira por Antonis Samaras, para quem “a estabilização económica da Grécia nas áreas do ajustamento orçamental e das reformas estruturais está a produzir resultados tangíveis”. Em 2014, prevê o Governo grego, a economia voltará a crescer (0,6% do PIB), o que, a concretizar-se, será a primeira vez ao fim de seis anos de recessão.

Atenas prevê, ao mesmo tempo, que o excedente orçamental primário (sem o pagamento do juros) ascenda, este ano, a 812 milhões de euros, mais do dobro do que previa até agora. Em 2014, o excedente deverá chegar a 3000 milhões de euros, o equivalente a 1,6% do PIB, segundo o ministro. E esse é, para Samaras, outro sinal de estabilização e do cumprimento do actual programa de resgate.

Esse resultado foi, aliás, uma das condições que o BCE, pela voz do alemão Jörg Asmussen, membro da comissão executiva da instituição, já colocara para que a Europa avaliasse uma “assistência suplementar” à Grécia – que está sob intervenção externa desde Maio de 2010 e que já passou por um processo de reestruturação parcial da dívida pública e pela aprovação de um segundo resgate financeiro.

Enquanto isso, o FMI procura descansar quem tem dúvidas sobre as necessidades de financiamento da Grécia e a eventualidade de o país vir a precisar de um terceiro resgate, um cenário desdramatizado pelo próprio Governo. “As necessidades de financiamento da Grécia nos próximos meses podem ser satisfeitas através da liquidez actual”, referiu Gerry Rice, porta-voz do FMI, numa conferência de imprensa a partir de Washington.